Comissão debate mortandade de peixes na Usina de Funil

A Comissão de Meio Ambiente e Recursos Naturais da Assembléia Legislativa de Minas realizou, nesta quarta-feira (04/0...

04/06/2003 - 17:37
 

Comissão debate mortandade de peixes na Usina de Funil

A Comissão de Meio Ambiente e Recursos Naturais da Assembléia Legislativa de Minas realizou, nesta quarta-feira (04/06/2003), audiência pública para debater as causas da mortandade de peixes na Usina Hidrelétrica do Funil, em Lavras. Participaram da reunião, requerida pelos deputados Maria José Haueisen (PT) e José Milton (PL), representantes do Ministério Público, de órgãos ambientais estaduais (Feam, Igam, Polícia Militar do Meio Ambiente) e federal (Ibama), dos poderes Legislativo e Executivo de Lavras e cidades vizinhas, além de membros da comunidade atingida pela barragem.

O presidente da Comissão de Meio Ambiente da Câmara Municipal de Lavras, vereador José Eugênio de Oliveira, afirmou que o problema começou em novembro de 2001, quando foram fechadas as comportas da Usina do Funil, ocasionando grande mortandade de peixes (oito toneladas de mandis, segundo o promotor de Justiça e curador do Meio Ambiente de Lavras, Carlos Alberto Ribeiro Moreira). O vereador entregou à comissão relatórios que, segundo ele, mostrariam que os testes nas turbinas da usina estão matando muitos peixes.

Proibição da pesca - Oliveira acrescentou que, no entorno de Lavras, no município de Ribeirão Vermelho, principalmente, "várias famílias estão com dificuldades na alimentação por não conseguirem fazer o que faziam há décadas - pescar", devido à proibição, pelo Ministério Público, da pesca no local. Ele pediu que as autoridades tomem providências para resolver o problema na usina. O coordenador do Grupo de Pesca da Comunidade do Funil, Alessandro dos Santos Ribeiro, endossou as palavras do vereador, afirmando que a pesca se concentrou muito em Ribeirão Vermelho porque, de um trecho de 23 quilômetros sobraram apenas quatro, depois da formação da barragem.

Ajustamento de Conduta minimiza problema ambiental, diz MP

O promotor Carlos Alberto Moreira disse que, logo após esse incidente, o Ministério Público propôs um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), que foi assinado pelo consórcio responsável pela usina, formado pela Cemig e Companhia Vale do Rio Doce, e pelo Ibama. Com novos testes em turbinas, a mortandade de peixes continuou, mas em menor quantidade, obrigando a assinatura de mais dois TACs. A situação atual, se não é a ideal, é considerada satisfatória pelo promotor, com a morte de apenas um quilo de peixe em 28 de maio de 2003, e nenhum quilo em 30 de maio, segundo relatórios apresentados por ele.

Sobre as causas dessa mortandade, Moreira afirmou que consultou vários biólogos do Ibama e de outras entidades, mas ninguém soube responder o que estava matando os peixes e o que poderia ser feito para impedir. O promotor acredita que existe interesse de resolver o problema por parte do consórcio de Funil, tanto que todas as solicitações do MP têm sido atendidas, como a compra de um sonar, a iluminação e a contratação de um mergulhador para vistoriar a quantidade de peixes antes da realização de testes, evitando mortes.

Pesca predatória - Em relação à proibição da pesca, citada pelo vereador, o representante do MP declarou que o motivo foi a pesca predatória que vem ocorrendo no rio Grande, no trecho entre Ribeirão Vermelho e a barragem. Carlos Alberto Moreira relatou que, nos fins-de-semana, vários ônibus e kombis chegam de outras cidades com pescadores, que pescam muitos quilos de peixe, sem qualquer controle, e deixam todo o lixo às margens do rio. O chefe do escritório do Ibama de Lavras, Marcelo Guimarães, acrescentou que o número de pescadores profissionais no rio Grande não é expressivo em relação aos pescadores predatórios.

Feam não assinou Termo de Ajustamento de Conduta

A técnica da Divisão de Infra-estrutura de Energia e Irrigação da Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam), Bernadete Castelo Branco, estranhou o Ministério Público não ter chamado esse órgão ambiental para participar do TAC. O procurador-chefe da Feam, Joaquim Martins Silva Filho, endossou essas palavras, dizendo que a competência pelo licenciamento ambiental é do Estado. Devido à preocupação com a situação da pesca, atividade socioeconômica importante na região,
Bernadete afirmou que o consórcio foi questionado sobre medidas tomadas para resolver a questão, entre elas a normatização pesqueira e o auxílio aos pescadores. "Como o consórcio não cumpriu esses condicionantes, ele foi autuado pela Feam", afirmou.

Já a coordenadora do Projeto Águas de Minas, do Igam, Zenilde das Graças Guimarães da Silva, apenas disse que a mortandade de peixes no rio Grande não é devida à má qualidade das suas águas, pois os monitoramentos feitos pelo órgão comprovam que elas não apresentam contaminação. O coordenador de Pesca da Diretoria de Pesca e Biodiversidade do IEF, Marcelo Coutinho Amarante, defendeu a regulamentação da Lei Estadual 14.181/02, oriunda de projeto de lei de autoria do deputado Fábio Avelar (PTB), que trata da política de proteção à fauna e à flora aquática e de desenvolvimento e da aquicultura no Estado. Ele acrescentou que nos primeiros anos de barragens, há aumento de peixes devido à água limpa e abundância de alimentos. Depois, com a diminuição do alimento, começa a mortandade. Por isso, ele sugeriu uma blitz educativa e repressiva nos locais onde ocorre a pesca predatória.

Deputados têm dúvidas quanto a novos danos ambientais

O deputado Fábio Avelar (PTB) lamentou a ausência de um representante do consórcio da usina na reunião e a falta de entrosamento entre o Ministério Público e a Feam, evidenciada pela ausência deste último nos TAC´s assinados. Para ele, ainda persiste a insegurança quanto à possibilidade de novos danos ao meio ambiente. Por isso, devem ser adotadas outras medidas preventivas. Ele disse também que a regulamentação da Lei 14.181/02, de sua autoria, permitiria fazer a diferenciação entre o pescador artesanal, que vive da pesca, daqueles que praticam pesca predatória. Já o deputado Padre João (PT) declarou que "qualquer licença ambiental para construção de barragens, conferida pelos órgãos de meio ambiente, é a legalização de um crime", pois os impactos serão sentidos daqui a 200 anos". Ele defendeu a adoção de uma nova matriz de desenvolvimento energético para o Estado e o país. Segundo Padre João, o Brasil pode dobrar o crescimento sem construir usinas, utilizando outras fontes energéticas, como a energia solar e a eólica. Padre João anunciou também que irá propor na próxima reunião um requerimento para que a comissão de Meio Ambiente visite a Usina do Funil. O deputado Doutor Ronaldo concordou com as propostas do deputado Padre João.

Vários representantes das comunidade atingidas pela barragem da Usina do Funil, dos Legislativos de Ijaci e Lavras, da Prefeitura de Ribeirão Vermelho, revelaram sua preocupação com as questões ambiental e social na região.

Presenças - Compareceram à reunião os deputados Doutor Ronaldo (PDT), vice-presidente da comissão; Fábio Avelar (PTB), Padre João (PT) e Olinto Godinho (PSDB). Além dos convidados citados, participaram também a diretora de Infra-estrutura e Monitoramento, Alice Beatriz Pereira Soares.

 

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