Sudene deve ser recriada em junho
A recriação da Sudene (Superintendência de
Desenvolvimento do Nordeste) é a primeira bandeira do Ministério da
Integração Nacional e deve acontecer em junho próximo. A forma pode
ser por Medida Provisória do presidente Luís Inácio Lula da Silva ou
por projeto de lei a ser encaminhado ao Congresso. A reativação do
principal órgão de fomento do desenvolvimento do Nordeste terá quase
R$ 2 bilhões em recursos públicos e privados. As informações foram
prestadas pela coordenadora do Grupo de Trabalho Interministerial
para a Recriação da Sudene, a economista Tânia Bacelar, na audiência
pública realizada nesta sexta-feira (30/5/2003), pela Comissão de
Assuntos Municipais e Regionalização da Assembléia Legislativa.
Os debates sobre o assunto se encerrarão no próximo
dia 14, em Recife. Depois disso, o ministro Ciro Gomes entrega ao
governo a proposta da recriação, cuja forma será definida pelo
próprio presidente Lula. A nova Sudene tem como objetivo incluir o
Nordeste no desenvolvimento do resto do País, por meio de metas
político-institucionais e socioeconômicas - as primeiras pelo
fortalecimento político e as segundas pela ampliação das
oportunidades de inclusão produtiva da população local.
Reivindicação - A
audiência pública foi presidida pelo deputado João Bittar (PL),
presidente da Comissão de Assuntos Municipais e Regionalização, e
acompanhada por diversos deputados estaduais e federais, prefeitos e
lideranças políticas, regionais e classistas. A reunião foi marcada
por reivindicações de inclusão de outros municípios mineiros no
programa federal. Para a deputada Cecília Ferramenta (PT), autora do
requerimento que pediu a audiência pública, a nova Sudene será a
redenção do sertão mineiro, porque vem respaldada por uma discussão
ampla com a sociedade e dirigida por políticos comprometidos com a
ética e a dignidade da população mais carente.
Proposta é de planejamento e articulação
Em uma ampla apresentação, no Plenário da
Assembléia, Tânia Bacelar detalhou as propostas da nova Sudene.
Segundo ela, o novo órgão terá como missão articular as formas
representativas da região, tornar-se o agente do sistema nacional de
planejamento e ser a negociadora da regionalização das políticas
nacionais e dos recursos. Outros objetivos são integrar as políticas
da região e, principalmente, gerir os instrumentos de
desenvolvimento e definir as prioridades.
Uma das marcas da nova Sudene vai ser o apoio
direto às empresas, através da colocação de instrumentos especiais
de financiamento. Os incentivos às empresas vão ser proporcionais à
sua área de instalação. Quanto mais precárias as localidades em que
se instalarem, maior o percentual do financiamento a ser concedido.
O microcrédito, considerado um dos principais fatores de combate à
exclusão, também será utilizado. Tais créditos viriam de parcerias
entre o órgão, o Ministério do Trabalho e o Codefat (Conselho
Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador).
Fundo de Desenvolvimento -
Segundo a exposição de Tânia Barcelar, um dos principais
fomentadores da Sudene seria o Fundo de Desenvolvimento do Nordeste,
administrado pelo Banco do Nordeste. Os empréstimos a serem
concedidos têm carência de três anos e 12 anos para amortização.
Outra meta da nova Sudene será a criação, num prazo de 13 anos, de
um Fundo de Investimento Regional, com recursos oriundos de renúncia
fiscal, ou seja, o governo concederia incentivos fiscais para os
grandes investidores através do Imposto sobre Produtos
Industrializados (IPI) e do Imposto de Renda.
Já os investidores locais teriam o apoio de um
Programa Regional de Apoio ao Desenvolvimento Local, que seria
iniciado com recursos federais. Em troca, os empreendedores se
comprometeriam a incluir os trabalhadores na participação dos lucros
e permitir a presença da Sudene na gestão da empresa.
Políticos pedem inclusão de municípios
A secretária de Estado Extraordinária para
Desenvolvimento dos Vales do Jequitinhonha, Mucuri e Norte de Minas,
Elbe Brandão, afirmou que as associações microrregionais esperam
ansiosas pela nova Sudene. A secretária pediu a inclusão de mais 22
municípios, que pelos últimos dados do IBGE, têm os mesmos índices
de desenvolvimento sócio-econômico do Nordeste.
O deputado Bonifácio Mourão (PSDB), representando
dez parlamentares de diferentes pontos do Estado, reivindicou a
inclusão de diversos municípios mineiros que têm condições de serem
integrados na nova Sudene, pelos baixos índices de desenvolvimento
humano. Ele entregou um documento com as solicitações ao Ministério
da Integração Nacional. Para Mourão, a inclusão de municípios por
meio de critérios políticos foi muito prejudicial aos que foram
excluídos.
"Os governantes precisam pisar no solo empobrecido
de Minas, que tem muitas potencialidades, como a fruticultura e a
produção de rochas e pedras preciosas", apontou a deputada Maria
José Haueisen (PT). Segundo ela, é necessário introduzir valor
agregado ao que é produzido nessas regiões do Estado.
Já o deputado Fábio Avelar (PTB) elogiou o trabalho
de Tânia Bacelar à frente da Sudene e afirmou que o Estado vivia um
momento histórico com a criação da Secretaria de Estado
Extraordinária para o Desenvolvimento dos Vales do Jequitinhonha e
Mucuri e do Norte de Minas. E considerou um erro na programação
deixar só para o final do evento as falas dos prefeitos,
representantes de associações e demais lideranças dos municípios
mineiros abrangidos pela Sudene. Segundo Avelar, essas lideranças
estariam diretamente interessados no assunto e teriam as maiores
contribuições a apresentar à coordenadora Tânia Bacelar .
Câmara Federal - Diversos representantes
mineiros da Câmara dos Deputados participaram da audiência. O
deputado federal Patrus Ananias (PT) refletiu sobre a necessidade de
potencializar os recursos naturais e humanos das micro e
macro-regiões. O deputado Leonardo Monteiro (PT) lembrou que a
região da Bacia do São Mateus, Suaçuí e parte do Rio Doce ficou
empobrecida nas últimas décadas.
Já o deputado federal Athos Avelino (PPS) ressalvou
a importância de compatibilizar as ações do governo federal e
estadual, por meio da Secretaria de Estado Extraordinária para o
Desenvolvimento dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri e do Norte de
Minas. Por fim, o deputado Cleuber Carneiro (PFL), lembrou que os
mineiros não se sentem "intrusos" na Sudene. "O novo órgão é uma
situação imperiosa. A frustração da Adene já nos bastou", afirmou
Carneiro.
Lideranças do Norte de Minas trazem propostas para
nova Sudene
Na fase de debates do evento, 37 inscritos fizeram
uso da palavra, entre prefeitos, representantes de associações
microrregionais e de entidades associativas diversas, que
apresentaram propostas para a nova Sudene. Um documento final com a
síntese dessas propostas, sob a coordenação da deputada Cecília
Ferramenta (PT), será entregue posteriormente à coordenadora Tânia
Bacelar. Em síntese, estas foram as principais demandas
apontadas:
* Rever critério de inclusão de municípios na área
da Sudene (não utilizar somente o índice de desenvolvimento humano
como parâmetro); não excluir nenhum município contemplado pela
Adene; incluir municípios das regiões mineiras da Sudene,
emancipados após a edição da Medida Provisória que trata do assunto;
incluir todos os municípios assistidos pelo Idene; incluir a região
do Vale do Rio Doce na área da Sudene;
* Apoio às associações microrregionais, com
participação delas e de prefeitos da região nos conselhos da
Sudene;
* A Sudene não pode repetir erros do passado
(clientelismo, corrupção); manter projetos bem sucedidos na "velha"
Sudene;
* Enfatizar no Prodetur (Programa de Ação para o
Desenvolvimento Integrado do Turismo) as regiões mineiras
contempladas pela nova Sudene; estender a elas o Fundo
Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE); execução do
Projeto Jequitaí, que prevê a irrigação de 30 mil hectares do vale
do São Francisco no Norte de Minas;
* Criar superintendência do Banco do Nordeste no
Norte de Minas; fortalecer o escritório da Sudene no Estado, com
implantação de banco de dados sobre os municípios assistidos para
auxiliar no planejamento;
* Renegociar dívidas dos produtores rurais e
agricultores familiares da região; desenvolver projeto criativo na
área de crédito rural para os produtores desses municípios;
* Promover projetos de desenvolvimento sustentável,
respeitando as características locais e regionais, incluindo
projetos estruturantes de apoio à agricultura, geração de emprego e
renda; melhorar infraestrutura (hidrovia do São Francisco,
ferrovias, rodovias; fontes energéticas); criar política de combate
à seca.
Sudene foi criada por Juscelino
A criação da Sudene foi sugerida em 1959 ao então
presidente Juscelino Kubitschek pelo economista Celso Furtado.
Durante 42 anos trabalhou diversos modelos de desenvolvimento
regional, concedendo incentivos e financiamento a empreendimentos
dentro do chamado Polígono das Secas. A Sudene cumpriu um papel
fundamental na redução das desigualdades entre o Nordeste e a região
Centro-Sul do País. Em maio de 2001, em meio a denúncias de
corrupção e desvios de mais de R$ 1 bilhão, a Sudene foi extinta por
medida provisória pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, "sem
consulta ao povo do Nordeste", conforme criticou na época o veterano
Celso Furtado. Em seu lugar foi criada a Adene, que não saiu do
papel. Ela engloba municípios do Nordeste do Brasil, Norte do
Espírito Santo, Norte de Minas e Vale do Jequitinhonha.
Depois de décadas contemplando apenas os municípios
mineiros propriamente inscritos no Polígono das Secas, a Sudene
passou a abranger também municípios dos vales do Jequitinhonha e do
Mucuri. O processo foi liderado pela então senadora Júnia Marise, e
resultou na lei 9.690, de 15/7/98, que incluiu 45 municípios
mineiros na área da Sudene. Em Minas são 165 municípios na área da
Sudene, que também fazem parte da área de atuação do Idene, órgão
mineiro criado para fomentar o desenvolvimento do Norte e Nordeste
de Minas, assistindo 187 municípios.
Presenças - Participaram
da reunião os deputados João Bittar (PL), presidente da comissão,
Adelmo Carneiro Leão, 2º-vice-presidente da Assembléia, Cecília
Ferramenta (PT), Olinto Godinho (PSDB), Zé Maia (PSDB), Ana Maria
(PSDB), André Quintão (PT), Fábio Avelar (PTB), José Henrique
(PMDB), Jayro Lessa (PL), Rogério Correia (PT), Maria José Haueisen
(PT), Gil Pereira (PP), Márcio Passos (PL), Gustavo Valadares (PRTB)
e Dinis Pinheiro (PL).
|