Anastasia descarta intenção de demissões
O governo estadual prefere pecar pela ousadia a
pecar pela omissão, imobilismo e apatia. A afirmação é do secretário
de Planejamento e Gestão, Antônio Augusto Junho Anastasia, ao
analisar, em reunião da Comissão de Administração Pública da
Assembléia Legislativa, nesta terça-feira (27/5/2003), os projetos
da reforma administrativa encaminhados pelo governador Aécio Neves.
A reunião aconteceu a requerimento do deputado Dalmo Ribeiro Silva
(PSDB), que destacou a oportunidade das propostas feitas pelo
Executivo. Ao rebater acusações de parlamentares da oposição e
lideranças do funcionalismo estadual, Anastasia assegurou que não é
intenção do governo promover demissões de servidores com base na
avaliação de desempenho. Segundo ele, os projetos da reforma visam
tornar o Estado mais eficiente, por meio de uma política de
administração gerencial que tenha foco nos resultados, na melhoria
da qualidade dos serviços prestados.
Para o secretário, as declarações sobre demissões
são um "despropósito". Ele lembrou que se o governo pretendesse
realizar demissões não estaria aumentando o número de designados na
área do magistério, e tampouco o meio adequado seria a avaliação de
desempenho. De acordo com Anastasia, o instrumento legal para
enxugamento da máquina administrativa seria a dispensa por excesso
de despesa, permitida pela Constituição Estadual mas nem sequer
cogitada pelo Executivo.
Depois de frisar que a estabilidade da moeda, a
partir de 1994, trouxe dificuldades adicionais para os governantes,
que são forçados a trabalharem com orçamentos realistas e não podem
mais lançar mão da correção monetária para realizar despesas sem
lastro real, o secretário disse que o grande dilema, hoje, é
conciliar o bom funcionamento dos serviços públicos com a escassez
de recursos. Defendeu maior autonomia de gestão para órgãos e
entidades do Poder Executivo e o processo de avaliação de
desempenho, tido por ele como "fato inovador e inédito", como forma
de se premiar a produtividade.
Oposição cobra planos de carreiras
Parlamentares da oposição cobraram, do secretário,
a antecipação do envio de projetos com planos de carreiras dos
servidores estaduais do Executivo, dizendo que isso poderia
facilitar a aprovação dos projetos. Anastasia respondeu que planos
de carreiras pressupõem impacto financeiro, por isso é importante
aprovação prévia da reforma. Ele enfatizou o compromisso do governo
em reajustar salários desde que haja lastro no aumento da
arrecadação de ICMS, e assegurou que os projetos sobre carreiras
serão encaminhados à Assembléia no segundo semestre. A deputada Jô
Moraes (PCdoB) criticou também a criação de um novo tipo de
servidor, fruto da proposta de contratação pelo regime da
Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), e disse que o projeto da
Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) enviado pelo governador não
prevê reajustes salariais em 2004. Segundo o titular da Seplag, as
contratações pelo regime da CLT deverão acontecer em "atividades
muito específicas", que não são exclusivas do Estado, especialmente
naquelas que são sazonais.
Avaliação desempenho - Maria José Haueisen (PT) condenou a subjetividade dos critérios
de avaliação de desempenho e afirmou que o sistema proposto pelo
governo criará um clima de competitividade, em lugar de incentivar a
solidariedade entre servidores. Manifestou, também, preocupação com
a capacitação dos avaliadores num contexto de "sucateamento" dos
órgãos públicos. Anastasia admitiu que poderá haver distorções
pontuais no processo de avaliação a ser adotado; por isso é preciso
que os critérios sejam permanentemente aprimorados. Da mesma forma,
ele ressaltou que não se justifica o sistema atual, que permite a
promoção de quem tem desempenho insuficiente ou até mesmo
medíocre.
Marília Campos (PT) indagou ao secretário se os
projetos não apontariam para uma concepção de estado sem estrutura
fixa, mas que poderia variar em função dos recursos disponíveis e
com a definição prévia de atividades-fim e atividades-meio.
Anastasia insistiu na necessidade de se buscar mais eficiência nas
atividades típicas do Estado. Ele esclareceu que até mesmo no meio
acadêmico o debate hoje se dá em torno da idéia de "governança", e
não mais de governabilidade ou estado mínimo. "O importante é que o
Estado possa funcionar e prestar bons serviços", ressaltou.
O secretário explicou que todos os servidores,
efetivos e contratados, estarão sujeitos ao mesmo plano de carreira,
submetidos a critérios idênticos. A diferença é que uns progrediriam
pelo tempo de serviço e outros teriam adicionais pelo bom
desempenho.
Deputado enfatiza combate ao déficit
público
O deputado Antônio Júlio (PMDB) também fez
ressalvas aos projetos da reforma administrativa, dizendo que têm um
perfil mais acadêmico que prático, além de não atacarem o principal
problema do Estado que é, na sua avaliação, o déficit público.
"Nenhum projeto imposto pelos governos, de cunho técnico, deu
resultado positivo", enfatizou o deputado, que está exercendo o
quarto mandato consecutivo e é ex-presidente da Assembléia. Antônio
Júlio afirmou, ainda, que a experiência da Assembléia com a
aplicação de um sistema de avaliação de desempenho de funcionários
poderia servir como parâmetro para o debate do assunto, permitindo
que o projeto seja aprimorado antes de sua aprovação pelo
Legislativo.
Antônio Anastasia respondeu que concordava com o
papel do déficit nas dificuldades por que passa o Estado, e
que o último governador a emitir títulos da dívida foi Newton
Cardoso, o que estaria na origem de muitos dos problemas atuais.
Criticou o recurso da moratória, efetivado no governo anterior e que
teria causado dificuldades adicionais para Minas Gerais. Disse,
também, que o governo não considera que o servidor seja o vilão dos
problemas que atingem o Estado, tanto assim que não está mexendo na
situação dos atuais servidores.
Líder quer debater com funcionalismo
O líder do Governo na Assembléia, deputado Alberto
Pinto Coelho (PP), afirmou que o Executivo sabe da importância de se
aprofundar o debate sobre os projetos da reforma, e informou que
tomou a iniciativa de convidar representantes do funcionalismo para
discutir o assunto em reunião marcada para esta quarta-feira (28).
"Não será privilégio da oposição a defesa dos interesses do
funcionalismo público", garantiu, condenando declarações do líder do
Bloco PT/PCdoB, Rogério Correia, que manifestou à imprensa a
disposição da oposição em obstruir a tramitação dos projetos. "É
ledo engano dele dizer que vai paralisar a Assembléia", desafiou
Alberto Pinto Coelho. "Vamos aprovar o que há de melhor para o
desenvolvimento da sociedade e da máquina administrativa",
completou.
Aprofundar discussão - O
deputado Carlos Pimenta (PDT) insistiu na necessidade de se debater
profundamente cada um dos 15 projetos que tratam da reforma
administrativa, e também manifestou dúvidas com relação à
conveniência de se votar antes de se ter conhecimento de como serão
os planos de carreiras, lembrando que isso é reivindicação antiga
dos servidores da saúde. Reclamou, ainda, da paralisação da
construção do 'Centro de Recuperação e Reeducação de Menores" em
Montes Claros. O secretário esclareceu que isso aconteceu porque o
governo passado não deu a contrapartida acordada com o Governo
Federal, que repassou recursos para a obra.
Já Leonardo Quintão (PMDB) considerou positivo o
fato de o governo ter respeitado também a expectativa de direito dos
atuais servidores, mas manifestou preocupação com a situação futura
dos servidores.
Deputados manifestam apoio a projetos
Os deputados Dinis Pinheiro (PL), Doutor Viana
(PFL) e Paulo Piau (PP) manifestaram apoio aos projetos do
Executivo. Paulo Piau destacou que, na sua avaliação, o Estado
voltou a ter planejamento, o que é um fator "extremamente positivo".
Ele previu a votação rápida dos projetos e concordou com o
secretário ao dizer que a única forma de se resolver problemas
salariais dos servidores é aumentar a produção e, consequentemente,
a arrecadação.
Dinis Pinheiro avaliou que o governo está agindo
com zelo e responsabilidade, bem como teve a preocupação de
preservar direitos adquiridos. Ele aplaudiu, ainda, a proposta de se
vincular reajustes salariais à arrecadação de ICMS. "É a melhor
forma de se preservar direitos dos servidores", analisou.
Doutor Viana chamou atenção para a forma
democrática como o governo estaria conduzindo o debate sobre a
reforma administrativa, expondo previamente para parlamentares de
todos os partidos, de situação e de oposição, o conteúdo dos
projetos. O deputado defendeu, ainda, o fim da guerra fiscal entre
estados; no que contou com avaliação semelhante do secretário
Anastasia.
Cronograma - O presidente
da Comissão de Administração Pública, deputado Domingos Sávio
(PSDB), informou que a comissão irá fazer um cronograma para o
debate dos projetos, assegurando ampla participação de
representantes dos servidores. Mas criticou a "radicalização do
discurso" por parte da oposição: "Isso cria um clima de insegurança
que a sociedade rejeita. Dar ou não dar aumento não é mera questão
de vontade política, e condicionar aumento à arrecadação do ICMS é
dar certeza de aumento, muito melhor que a situação atual", avaliou
Domingos Sávio.
Presenças - Compareceram à
reunião os deputados Domingos Sávio (PSDB) - presidente da Comissão,
Dalmo Ribeiro Silva (PSDB), Carlos Pimenta (PDT), Dinis Pinheiro
(PL), Jô Moraes (PCdoB), Leonardo Quintão (PMDB), todos membros
efetivos da Comissão; além de Alberto Pinto Coelho (PP) - líder do
Governo, Maria José Haueisen (PT), Antônio Júlio (PMDB), Paulo Piau
(PP), Marília Campos (PT), Doutor Viana (PFL), Bonifácio Mourão
(PSDB), José Henrique (PMDB), Fábio Avelar (PTB), Gustavo Valadares
(PRTB), Olinto Godinho (PSDB) e Leonídio Bouças (PTB).
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