Críticas à prefeita marcam audiência sobre preservação de Ouro Preto

A polarização entre os defensores e os críticos da atual administração municipal de Ouro Preto dominou a reunião da C...

08/05/2003 - 20:24
 

Críticas à prefeita marcam audiência sobre preservação de Ouro Preto

A polarização entre os defensores e os críticos da atual administração municipal de Ouro Preto dominou a reunião da Comissão de Turismo, Indústria e Comércio da Assembléia Legislativa de Minas Gerais, nesta quinta-feira (8/5/2003), convocada para discutir a preservação do patrimônio histórico da cidade. O ex-prefeito Ângelo Oswaldo, que também foi secretário de Estado da Cultura e diretor do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), criticou a ausência da prefeita, Marisa Maria Xavier Sans, que foi representada pelo secretário municipal de Turismo, Eduardo Milton Mota Valadares. Segundo Ângelo Oswaldo, o plano diretor da cidade foi engavetado, o Iphan tem sido hostilizado e a administração inadimplente e ausente.

O secretário Eduardo Valadares havia falado sobre medidas que a prefeitura estaria tentando implementar para melhorar a prevenção e combate a incêndios na cidade, como o projeto de instalação de 147 hidrantes com rede própria de abastecimento de água. Ele mencionou, ainda, os equipamentos defasados do Corpo de Bombeiros e pediu apoio do grupo-tarefa, criado em Ouro Preto, para tentar aprovar projetos em nível federal. Valadares negou, ainda, a falta de um plano diretor na cidade. Segundo ele, o plano foi "atropelado" pelo Estatuto das Cidades e uma nova proposta será encaminhada até o final deste ano para apreciação pela Câmara Municipal. O secretário também disse que há dificuldades com o Iphan, que tem apenas um técnico na cidade.

A afirmação foi contestada por Ângelo Oswaldo, para quem houve o engavetamento e abandono do plano diretor. "Nunca ouvi falar que o Estatuto das Cidades revogasse plano diretor", ressaltou. Ele criticou, ainda, o rompimento de um convênio que possibilitava o trabalho conjunto da prefeitura com órgãos como o Iphan e a Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop). Para ele, mesmo que o Iphan tivesse 10 técnicos de nada adiantaria, porque não há um trabalho integrado. Ângelo Oswaldo mencionou a denúncia do Ministério Público sobre R$ 7 milhões que teriam sido liberados no Governo Itamar Franco para a rede de água e que não teriam sido aplicados e disse que os arquivos sobre licenciamentos, dos últimos seis anos, foram perdidos.

Investimento em prevenção é fundamental

Mesmo sem problemas nos equipamentos dos bombeiros e nos hidrantes, as conseqüências do incêndio no casarão da Praça Tiradentes, no dia 14 de abril, poderiam ter sido muito mais graves, segundo o tenente-coronel Estevan Geraldo Fonseca, comandante do 1º Batalhão do Corpo de Bombeiros. Ele ressaltou que a principal preocupação deve ser com a prevenção, num processo continuado e com envolvimento da comunidade. Para o tentente-coronel, não é possível jogar para o Estado toda a responsabilidade de prevenção, que deve ter como principal agente o proprietário do imóvel. "Sabemos que o risco de incêndio em Ouro Preto é maior", observou, lembrando que não há distância entre as edificações e que as casas são construídas com material de alta combustão.

O presidente da Fundação de Arte de Ouro Preto (Faop), Otávio Elísio Alves de Brito, falou sobre as ações do grupo-tarefa criado na cidade. Segundo ele, o grupo concluiu que é indispensável o esforço de educação, mobilização e informação sobre os riscos para o patrimônio em caso de incêndios, e que é importante equipar o Corpo de Bombeiros e manter uma infra-estrutura adequada na cidade para permitir o combate. Principalmente, ficou claro que o importante é não permitir que o fogo aconteça. Ele também mencionou a necessidade de leis que garantam que a prevenção seja efetivamente realizada e que o crescimento da cidade seja controlado.

O deputado Rogério Correia (PT) lembrou o projeto de sua autoria que cria as Brigadas Voluntárias de Incêndio. Segundo ele, seria inviável equipar os 853 municípios de Minas com unidades do Corpos de Bombeiros, devido aos custos que isso representaria. Por isso, disse o deputado, a necessidade do apoio das Brigadas Voluntárias, devidamente treinadas. Rogério denunciou ainda a falta de cooperação e de compreensão do Corpo de Bombeiros para a viabilização dessas Brigadas.

A presidente do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico (Iepha), Vanessa Borges Brasileiro, disse que a preocupação do órgão é com todos os municípios mineiros. Ela também ressaltou que o princípio do Iepha é estimular a participação da comunidade, que seria a principal responsável pela preservação do patrimônio histórico e cultural, e disse que, no projeto do Instituto para os próximos quatro anos, está a implantação de um programa de prevenção. O Iepha, atendendo a solicitação da Comissão de Educação, Cultura, Ciência e Tecnologia da Assembléia, vai destacar uma servidora para fazer o levantamento da legislação necessária para o setor.

A participação da sociedade civil na gestão pública também foi apontada pelo vice-prefeito de Ouro Preto, João Bosco de Oliveira Perdigão, que afirmou que os mecanismos de participação criados pela Lei de Responsabilidade Fiscal foram aperfeiçoados pelo Estatuto das Cidades. Segundo ele, a gestão democrática de Ouro Preto, grande mote da campanha da prefeita Marisa Xavier, está sendo desrespeitada.

O presidente da Câmara Municipal de Ouro Preto, vereador Jarbas Eustáquio Avellar, denunciou a situação de caos econômico que, segundo ele, gerou o empobrecimento da população da cidade. Jarbas Avellar disse que a exaustão da indústria mineradora trouxe o desemprego para a região, restando aos ouropretanos apenas a indústria do turismo. "A atual prefeita, no entanto, não manifesta interesse pela geração de empregos e nem pela preservação do patrimônio", afirmou. O vereador disse ainda que o próprio ministro do Turismo, Walfrido Mares Guia, manifestou a intenção de enviar recursos para Ouro Preto "mas, sem o plano diretor, a remessa de recursos é impossível", disse o vereador. O vereador Wanderley Kuruzu, de Ouro Preto, também apresentou denúncias contra a prefeita Marisa Xavier.

Encaminhamentos - O deputado Rogério Correia (PT) lembrou a visita das comissões de Educação, Ciência e Tecnologia e de Meio Ambiente e Recursos Naturais da Assembléia à cidade de Ouro Preto na última semana. Ele sugeriu que o Iphan acompanhasse o emprego dos R$12 milhões que o governo federal prometeu enviar para a cidade, garantindo que fossem investidos nas prioridades locais. O deputado reforçou ainda a necessidade de uma intervenção da Cemig em Ouro Preto no intuito de corrigir ligações elétricas irregulares, que representam risco de incêndio.

O deputado Dalmo Ribeiro Silva (PSDB) anunciou estar concluindo um estudo para a criação uma comissão permanente na Assembléia de Minas para a preservação dos patrimônios históricos. "Temo que, com o passar do tempo, a força-tarefa vá perdendo fôlego, que fique só na discussão. A comissão seria um espaço permanente para se discutir a situação dos patrimônios históricos e culturais de todas as cidades mineiras", acrescentou.

A audiência da Comissão de Turismo, Indústria e Comércio foi realizada a requerimento do deputado José Milton (PL) que apresentou a solicitação antes do incêndio no casarão de Ouro Preto, no dia 14 de abril. Segundo o deputado, ele já estava preocupado com a situação do patrimônio da cidade, "que é um importante não só para Minas Gerais e para o Brasil, mas para o mundo inteiro", disse.

Presenças - Participaram da reunião os deputados José Henrique (PMDB), presidente; Biel Rocha (PT); Leonídio Bouças (PTB), Dalmo Ribeiro Silva (PSDB); Rogério Correia (PT) e José Milton (PL). Também compareceram o secretário adjunto da Secretaria de Estado da Cultura e representante do Secretário de Estado da Cultura, Otávio Elísio Alves de Brito; o secretário adjunto da Secretaria de Estado de Turismo e representante do Secretário de Estado de Turismo, Roberto Fagundes; o secretário municipal de Turismo de Ouro Preto e representante da prefeita municipal de Ouro Preto, Eduardo Mílton Mota Valadares; o comandante do 1º Batalhão e responsável pela prevenção e combate ao incêndio na cidade de Ouro Preto Ten.-Cel. BM Estevan Everaldo Fonseca; o ex-prefeito de Ouro Preto, ex-secretário de Estado da Cultura e ex-presidente do Iphan, Ângelo Oswaldo de Araújo Santos; o ex-presidente da Fundação de Artes de Ouro Preto (Faop), Hérzio Mansur; o vice-prefeito de Ouro Preto, João Bosco de Oliveira Perdigão; e a presidente do Iepha, Vanessa Borges Brasileiro.

 

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