Policiais e bombeiros apontam sucateamento das corporações militares

Os cortes de 20% e 30% nos orçamentos da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros Militar, respectivamente, vão acentu...

08/05/2003 - 17:14
 

Policiais e bombeiros apontam sucateamento das corporações militares

Os cortes de 20% e 30% nos orçamentos da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros Militar, respectivamente, vão acentuar o quadro de sucateamento das duas corporações, diminuindo sua capacidade operacional e agravando o sentimento de insatisfação que toma conta das tropas. A avaliação é de representantes de entidades de policiais e bombeiros que participaram, na manhã desta quinta-feira (8/5/2003), na Assembléia Legislativa, de audiência pública da Comissão de Segurança Pública. A reunião foi convocada para debater os impactos dos cortes orçamentários anunciados recentemente pelo governador Aécio Neves. O secretário da Fazenda e o comandante-geral da PM, convidados, não compareceram nem enviaram representantes.

O coronel BM José Francisco Maciel Dias Pereira, comandante operacional do Corpo de Bombeiros Militar reconheceu que a corporação está com equipamentos sucateados e "não tem condições de conter um incêndio de médias proporções". O Corpo de Bombeiros tem hoje um efetivo de 4 mil bombeiros e está presente em apenas 32 dos 853 municípios mineiros, e teve o orçamento anual para custeio reduzido de R$ 8 milhões para R$ 5 milhões. Embora tenha admitido que as condições de trabalho da instituição tenham melhorado após sua desvinculação da Polícia Militar, o coronel avalia que a corporação necessitaria de um orçamento da ordem de R$ 18 milhões, 30% superior aos R$ 14 milhões propostos quando da desvinculação, em 1999.

Desvio de função - Além de externar sua indignação com as precárias condições de trabalho dos bombeiros e com o corte no orçamento, o comandante denunciou, ainda, que cerca de 150 bombeiros militares estão em desvio de função, trabalhando nos aeroportos da Infraero, áreas de jurisdição federal. Segundo o coronel Maciel, o ideal seria que a Infraero contasse com pessoal próprio para a prevenção e combate a incêndios, como fazem empresas como Usiminas, Fiat e Petrobras. Mas ele reconhece que o rompimento do convênio que colocou os militares à disposição da Infraero traria problemas para o custeio das atividades da corporação, uma vez que o CBM recebe R$ 1.250 mensais por cada um dos bombeiros cedidos.

Major alerta para insatisfação da tropa

O major Domingos Sávio de Mendonça, presidente da Associação de Oficiais da Polícia Militar e Bombeiros Militares, destacou a coragem do coronel Maciel em verbalizar os problemas enfrentados e afirmou que é preciso admitir que a situação da segurança pública em Minas está fora de controle, a exemplo do que fez o secretário de Segurança do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho. "Como dizer que está tudo bem, com policiais fardados sendo assaltados, postos policiais baleados e ônibus incendiados em represália ao trabalho policial?", questionou. Para ele, o governo, ao dizer que vai combater o crescimento da violência, está mais preocupado com o marketing do que com resultados concretos, pois "os cortes orçamentários mostram que segurança não é prioridade".

O major criticou o anúncio da liberação de recursos de R$ 30 milhões, pelo Governo Federal, como contrapartida à adesão do Estado ao Plano Nacional de Segurança Pública. Na sua opinião, o valor é irrisório diante do déficit de pessoal e sucateamento de equipamentos da corporação, não sendo suficiente nem sequer para compra de coletes. "É preciso que se faça um levantamento da real necessidade de custeio da Polícia Militar para que a sociedade não seja enganada com a perspectiva de melhoria nas condições de segurança a partir deste repasse", disse.

Ao analisar as medidas anunciadas pelo governo de cortes de benefícios como qüinqüênios e férias-prêmio, Domingos Sávio alertou, ainda, para o crescimento da insatisfação na tropa, que tem assembléia marcada para o próximo dia 13 de junho. "Estou vendo a história se repetindo", analisou, referindo-se ao movimento dos policiais militares em 1997, durante o governo de Eduardo Azeredo.

Soldados fazem "bicos" para sobreviver

Também presente à reunião, o presidente do Centro Social dos Cabos e Soldados, cabo PM Adalberto dos Santos Valadares, disse que o Plano Emergencial de Segurança anunciado pelo governador está indo pelo mesmo caminho da força-tarefa anunciada pelo governo passado, que nunca teria saído do papel, segundo ele. "Não há plano com policial sem remuneração, tendo que vender panela, picolé ou chinelo para sobreviver", frisou.

O subtenente Luiz Gonzaga Ribeiro, presidente da Associação dos Praças da Polícia Militar e Bombeiros Militares, foi outro que fez duras críticas ao corte orçamentário, ressaltando que a PM tem hoje um déficit de seis mil policiais: enquanto a lei estipula um efetivo de 42 mil PMs em 2002, hoje há apenas 36 mil, sendo que 6 mil estão fazendo cursos; 2,3 mil atuam em serviços administrativos; 2,5 mil são especialistas como médicos, enfermeiros e mecânicos; e 1,9 mil estão afastados por motivos de saúde. "O governo quer que ocupemos os morros com quem; com sobrecarga de trabalho?", indagou, apontando falta de diálogo entre autoridades e representantes de entidades dos policiais e bombeiros. Ele cobrou dos deputados uma ação efetiva em prol da segurança pública na análise da Lei de Diretrizes Orçamentárias, destinando recursos para a área.

Deputados mostram preocupação com problema

Os deputados presentes mostraram-se preocupados com o crescimento da violência e com as conseqüências dos cortes nos orçamentos das corporações militares, comprometendo-se a ajudar na busca de soluções e no estabelecimento do diálogo entre as entidades dos militares e as autoridades. O presidente da comissão, deputado Sargento Rodrigues (PDT), destacou a gravidade da crise na segurança pública no Estado, acentuada com a diminuição da aplicação de recursos nas corporações. Rogério Correia (PT) disse que a polícia precisa se readaptar para combater o crime organizado e cobrou o estabelecimento de metas para o trabalho da PM e do CBM. Irani Barbosa (PL) apontou, como uma possível alternativa à falta de recursos, a ajuda de prefeituras e associações, e denunciou o déficit de policiais militares em Ribeirão das Neves, na região metropolitana: para uma população de 350 mil habitantes, o município conta com apenas 279 policiais. Já o deputado Ermano Batista (PSDB) argumentou que o problema da segurança vem de muito tempo e atravessa sucessivos governos, e que é preciso resgatar a auto-estima dos policiais e discutir a questão com racionalidade, sem preconceitos causados por diferenças políticas ou ideológicas.

Requerimentos aprovados:

* Do deputado Sargento Rodrigues (PDT), dois requerimentos, um pedindo providências ao Conselho Nacional de Trânsito para reformular a Resolução Contran nº 20/98, adotando, obrigatoriamente, o uso de capacetes similares aos da Polícia Militar e pela Polícia Rodoviária Federal, evitando o uso de capacetes que inviabilizam a identificação de condutores de motocicletas pelos órgãos de segurança; e outro, solicitando, ao comandante-geral da PM, a relação de viaturas policiais por município e das frações da Polícia Militar que se encontrem sem meio de comunicação próprio, dependendo, por exemplo, de ramal de telefone cedido pelas prefeituras;

* Do deputado Rogério Correia (PT), três requerimentos; o primeiro solicitando ao juiz da Vara da Infância e da Juventude de Belo Horizonte, cópias das quatro fitas de vídeo do Processo nº 024 02 781212-2 e, ao superintendente da Polícia Federal em Minas, a participação da instituição no caso a que se refere esse processo; o segundo requerimento propondo a realização de reunião para debater a implantação das Brigadas Voluntárias de Bombeiros; e o último, pedindo a realização de audiência pública da Comissão na Igreja de São Sebastião, no bairro Barro Preto, para discutir a desativação da Delegacia de Furtos e Roubos de Belo Horizonte;

* Do deputado Célio Moreira, requerendo que sejam acrescentados à relação de convidados para a audiência pública aprovada em 27/3, para discutir mudanças na estrutura de segurança pública da região do Barreiro, o prefeito de Belo Horizonte e um representante da Polícia Federal e, também, que seja excluído dessa relação o diretor do Instituto de Identificação.

Presenças - Além dos deputados Sargento Rodrigues (PDT), presidente da Comissão, Rogério Correia (PT), Ermano Batista (PSDB), Irani Barbosa (PL), Célio Moreira (PL) e Antônio Júlio (PMDB), e dos convidados citados, participou a capitão BM Daniela Lopes Rocha, chefe de orçamento do CBM.

 

Responsável pela informação: Assessoria de Comunicação - 31 - 3290 7715