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Convidados criticam informatização no Tribunal de Contas
A Comissão Especial do Tribunal de Contas do Estado
de Mias Gerais (TCMG) ouviu, nesta terça-feira (29/4/2003), o
coordenador da Procuradoria de Justiça Especializada de Crimes
Praticados por Prefeitos, procurador Gilvan Alves Franco, e a
presidente do Sindicato dos Servidores do Tribunal de Contas, Stela
Pacheco Pimenta. Ao contrário dos diretores do órgão, ouvidos pela
Comissão em 23 de abril, os convidados criticaram a análise
eletrônica de prestações de contas, atos de pessoal e relatórios da
Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), por meio do Sistema
Informatizado de Apoio ao Controle Externo, implantado em 1995 no
Tribunal de Contas.
A presidente do Sindicato afirmou que o Tribunal
estaria emitindo relatórios inconsistentes, já que os técnicos não
têm acesso a documentos. "Tem sido freqüente o mesmo processo ter
pareceres díspares: pela aprovação, antes, e pela ilegalidade, após
inspeção in loco", disse. A diminuição da freqüência e
duração dessas inspeções é um agravante, ela opinou, tendo em vista
a quantidade de entes jurisdicionados do Tribunal. Ela ressaltou que
é essencial a comunicação entre o Tribunal, o Ministério Público e
as Receitas Estadual e Federal.
Controle - Para o procurador Gilvan Alves
Franco, a emissão de pareceres sobre prestação de contas municipais
só leva em conta a forma, em detrimento do conteúdo. "Não basta
checar a soma das notas fiscais. É preciso apurar se as notas são
frias, se a empresa é fantasma e se o valor de uma licitação
corresponde à realidade do mercado, por exemplo". Franco também é
contra o baixo número de inspeções in loco: "Se o prefeito tiver maioria na
Câmara Municipal, as contas são aprovadas, e o Ministério Público
acaba encontrando barreiras para dar andamento a investigações".
Segundo o procurador, até hoje não existe qualquer
denúncia sobre violação à LRF ou à Lei 10.028, que estabelece sanção
penal aos infratores, mesmo após três e dois anos de vigência,
respectivamente. "Ou há atraso na análise do TCMG ou não se está
cumprindo a lei. Os promotores não têm formação em Auditoria, por
isso o Tribunal deveria dar mais atenção à fiscalização dos
municípios, a unidade federativa mais importante do País", disse. O
relator da Comissão, deputado Antônio Carlos Andrada (PSDB), disse
concordar com a necessidade de um tratamento diferenciado aos
municípios: "Uma análise superficial de contas fortalece a
impunidade". Para o deputado Fábio Avelar (PTB), a fiscalização
informatizada deve ser aliada a auditorias bem fundamentadas.
Sindicato faz denúncias
A presidente do Sindicato, Stela Pimenta,
apresentou denúncias sobre possíveis irregularidades
administrativas, motivo de representação junto ao Ministério
Público, em agosto de 2001. As denúncias, que também foram
veiculadas pela imprensa naquela época, referem-se a nepotismo,
incluindo promoções ilegais de servidores, parentes de conselheiros,
além de homologação de pelo menos seis aposentadorias ilegais.
Conforme determina a Constituição do Estado, cabe ao TCMG apreciar,
para fim de registro, a legalidade dos atos de concessão de
aposentadoria dos três Poderes.
Ela também criticou o número, considerado
insuficiente, de técnicos do órgão. Seriam 705 servidores. "A
carreira está mal dimensionada e os salários, baixos. A evasão tem
sido constante", disse, apontando o que chamou de "disparidade de
vencimentos" e "distribuição desequilibrada de funcionários por
setor". Segundo Stela Pimenta, o problema se originou principalmente
por uma mudança na organização interna do órgão, ocorrida há alguns
anos. O Plano de Carreiras dos servidores do Tribunal foi alterado
pela Lei 13.770, de 2000.
Procurador aponta dificuldades na investigação
Para Gilvan Alves Franco, as dificuldades de
atuação são comuns ao Tribunal e à Procuradoria, devido ao grande
número de municípios de Minas. "São Paulo, por exemplo, só tem 654",
comparou. Ele explicou que, ao ser criada, há dois anos e meio, a
Procuradoria recebeu uma "avalanche" de processos do TCMG, muitos
prescritos há anos. O Ministério Público estaria tendo que trabalhar
com as comarcas: "Não tivemos apoio do Tribunal. Requeremos várias
auditorias, que não aconteceram". A Procuradoria investiga processos
sobre prefeitos. Procedimentos relativos à administração pública em
geral cabem ao Ministério Público junto ao Tribunal - que se
transformará em Ministério Público Especial do Tribunal de Contas,
conforme recente decisão federal.
O deputado Rogério Correia questionou se o volume
de trabalho da Procuradoria, que tem cerca de 500 municípios sob
investigação, não seria reflexo da "inoperância" do Tribunal de
Contas. Mas, para o procurador, o acúmulo de atividades também
representa a inovação de fiscalização dessa natureza: "O Ministério
Público só tem procuradorias especializadas em crimes de prefeitos
em Minas e no Rio Grande do Sul". Gilvan Alves Franco defendeu uma
atuação mais forte do Tribunal, para estabelecer uma cultura
preventiva que iniba as fraudes no Poder Público.
Requerimento aprovado - A Comissão aprovou
requerimento do relator, Antônio Carlos Andrada (PSDB), pedindo que
a Comissão realize reunião para ouvir o consultor legislativo e
advogado Mauro Bonfim. O relator solicitou à Mesa agilizar a votação
do requerimento apresentado pela Comissão solicitando dados
qualitativos e quantitativos sobre o órgão. Na reunião, os
convidados fizeram ainda considerações sobre o incêndio ocorrido no
Tribunal em 2002.
Presenças - Participaram
da reunião os deputados Sebastião Navarro Vieira (PFL), presidente,
Fábio Avelar (PTB), Antônio Carlos Andrada (PSDB), José Henrique
(PMDB) e Rogério Correia (PT).
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