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Falta de controle interno de gestores prejudica atuação do
TCMG
A diretora-geral do Tribunal de Contas do Estado de
Minas Gerais (TCMG), Raquel de Oliveira Miranda, e outros três
diretores do órgão foram ouvidos nesta quarta-feira (23/4/2003),
durante reunião da Comissão Especial criada para analisar o
funcionamento do TCMG. A tônica da discussão foi o acúmulo de
atividades a cargo do órgão, que é causado, segundo a
diretora-geral, pela ausência de controle interno por parte das
unidades jurisdicionadas.
Segundo o responsável pela Diretoria de Análise
Formal de Contas, Carlos Alberto Nunes Borges, muitos gestores
públicos enviam prestações de contas e outros processos com falhas.
"A maioria dos erros é causada por desconhecimento da legislação",
afirmou, acrescentando que o Tribunal começou a promover orientação
didático-pedagógica para esses gestores. A diretora de Análise de
Atos de Admissão, Aposentadoria, Reforma e Pensão, Amaryllis Maseli
Lemes, endossou o problema e afirmou que o TCMG passará a realizar
inspeções nos municípios com caráter didático, para buscar maior
integração com os órgãos.
Para o diretor de Auditoria Externa, Marconi
Augusto Fernandes Braga, o Tribunal de Contas é sobrecarregado
porque a ele compete atividades de controle externo determinadas não
só pela Constituição, como também pela legislação
infraconstitucional. "O trabalho aumentou muito e o número de
servidores deixa a desejar", reforçou.
Entrega e análise de processos informatizadas
dinamizam procedimentos
No ano passado, 100% dos municípios mineiros
realizaram a entrega de suas prestações de contas de maneira
eletrônica, através do Sistema Informatizado de Apoio ao Controle
Externo. "A informatização começou a ser implantada em 1995, sem
obrigatoriedade ou gastos para os municípios. A transmissão é
criptografada e os dados são armazenados, evitando extravios",
afirmou o diretor Carlos Alberto Nunes. "O Tribunal precisa
trabalhar concomitantemente com a execução fiscal. Para ser eficaz,
a informação que recebemos deve ser rápida", completou.
Questionado pelo presidente da Comissão Especial,
deputado Sebastião Navarro Vieira (PFL), quanto à possibilidade de
sucessores políticos enviarem dados incorretos para prejudicar os
gestores anteriores, o diretor salientou que o TCMG procura resolver
eventuais problemas dessa natureza por meio das inspeções de
auditoria, que objetivam certificar, in loco, a análise.
"O tamanho do território de Minas Gerais torna essa
informatização indispensável. Só o município de Belo Horizonte, por
exemplo, emite 50 mil notas de empenho por mês. Cada nota reúne
cerca de 30 informações", completou o diretor Marconi, lembrando que
o Estado possui 853 municípios. O sistema informatizado trabalha com
três vertentes: prestações de contas anuais, relatórios sobre a Lei
de Responsabilidade Fiscal e atos de pessoal. "No caso da LRF, por
exemplo, os dados dos relatórios bimestrais podem ser cruzados com o
relatório anual", explicou.
Inspeções - Indagado pelos
deputados a respeito das inspeções feitas pelo Tribunal de Contas, o
diretor Marconi Braga explicou que existem as ordinárias, planejadas
anualmente, e as extraordinárias. Nos últimos cinco anos, o órgão
priorizou as inspeções ordinárias nos cem municípios responsáveis
pelas maiores receitas do Estado. "Nos próximos cinco anos, pela
determinação da nova gestão do TCMG, a prática será feita em 170 dos
380 municípios menores, que não tiveram inspeção nesse período",
disse.
As inspeções extraordinárias são motivadas por
denúncias, que podem ser apresentadas, por exemplo, por cidadãos ou
empresas, e ocorrem em cerca de 70 municípios, anualmente. De acordo
com a diretora-geral, serão realizadas mais de 560 inspeções
ordinárias e extraordinárias em 2003.
Pareceres - Os deputados
também fizeram perguntas sobre a emissão de pareceres sobre
prestações de contas pelo TCMG. Os diretores explicaram que existem
três tipos de pareceres: o pela aprovação total, o pela aprovação
com ressalva (quando há irregularidade de caráter formal) e o pela
rejeição (quando há descumprimento de dispositivo constitucional).
Em 2002, foram emitidos 140 pareceres pela rejeição. "O parecer é um
subsídio técnico para o julgamento, que é feito pelo parlamento
local, de forma soberana", afirmou a diretora-geral.
Deputados pedem outras informações
O Tribunal de Contas é formado por sete
conselheiros, que trabalham em seis câmaras - duas delas criadas em
2001 e ainda em fase de implantação, além do Tribunal Pleno. Para o
deputado Zé Maia (PSDB), designado relator-adjunto da Comissão
Especial, o número de conselheiros do Tribunal é insuficiente, tendo
em vista o orçamento anual do órgão (R$ 143 milhões). Ele defendeu
ainda maior atuação do Ministério Público na fiscalização
administrativa, que atualmente compete somente ao Tribunal.
Durante a reunião, os deputados Rogério Correia
(PT) e Adelmo Carneiro Leão (PT) solicitaram à diretora-geral
diversas informações sobre o corpo de funcionários do Tribunal, como
número de servidores terceirizados (360, segundo ela) e de cargos
comissionados de recrutamento amplo. A diretora-geral informou que o
órgão conta com 116 cargos comissionados, incluindo 49 servidores de
recrutamento amplo. Eles indagaram ainda sobre a ausência de cinco
dos sete auditores do órgão. A diretora-geral informou que as vagas
só podem ser preenchidas por meio de concurso público e que ainda
não houve disponibilidade orçamentária.
Incêndio - O incêndio
ocorrido no Tribunal em 2002, que atingiu milhares de processos de
prefeituras e órgãos estaduais, foi novamente lembrado por Rogério
Correia, que perguntou em que estágio se encontra a restauração dos
documentos queimados. O diretor de Análise Formal de Contas afirmou
que todos os processos foram identificados e estão sendo
restaurados. "O objetivo é reunir dados suficientes para dar
prosseguimento à tramitação de cada um deles", disse. Ele informou
que já foram restaurados 1.360 dos 2.951 processos sobre análise dos
exercícios de municípios destruídos no incêndio, que queimou também
outros 164 processos da administração estadual direta e
indireta.
Requerimentos aprovados - A
Comissão Especial aprovou requerimento do deputado Rogério Correia,
para que sejam ouvidos o chefe da Procuradoria de Justiça
Especializada em Crimes de Prefeitos Municipais, Gilvan Alves
Franco, e o analista judiciário do TRT e pós-graduado em Direito
Público, professor José Nacip Coelho. Também foi aprovado
requerimento do relator da comissão, deputado Antônio Carlos Andrada
(PSDB), que pede que sejam ouvidos o professor Carlos Pinto Coelho
Mota e o auditor aposentado do Tribunal de Contas, Frederico
Pardini.
Presenças - Participaram da
reunião os deputados Sebastião Navarro Vieira (PFL), presidente da
comissão, Fábio Avelar (PTB), Rogério Correia (PT), Zé Maia (PSDB) e
Adelmo Carneiro Leão (PT).
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