Feam vai criar plantão para evitar novos acidentes ecológicos

A Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam) vai criar um plantão permanente para evitar novos acidentes ecológicos. A...

16/04/2003 - 16:36
 

Feam vai criar plantão para evitar novos acidentes ecológicos

A Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam) vai criar um plantão permanente para evitar novos acidentes ecológicos. A afirmação foi feita pelo presidente da fundação, Ilmar Bastos Santos, durante reunião da Comissão de Meio Ambiente e Recursos Naturais da Assembléia de Minas, nesta quarta-feira (16/4/2003). O objetivo da reunião era discutir os danos ambientais causados pelo rompimento da barragem de rejeitos da Indústria Cataguazes de Papel, que prejudicou produtores rurais na Zona da Mata mineira e deixou sem água 600 mil pessoas no Norte Fluminense. Os autores do requerimento que pediu a realização da reunião são os deputados Biel Rocha e Maria José Haueisen, ambos do PT.

Plantão - O presidente da Feam iniciou sua fala ressaltando que algumas medidas a serem adotadas pela fundação já estavam sendo planejadas antes do vazamento de rejeitos. "Estamos trabalhando para, no futuro, não termos mais acidentes lamentáveis como este de Cataguases", disse. Entre essas medidas, estão a inauguração, até o final deste mês, de um serviço de atendimento 0800; a articulação dos órgãos de meio ambiente; a criação de um núcleo de prevenção e ações emergenciais e de um plantão de atendimento nos finais de semana. Segundo ele, quando assumiu a Feam, chamou sua atenção a inexistência de um sistema de plantão para acionar pessoas e equipamentos em caso de acidente ecológico.

Ilmar defendeu que todos os órgãos de fiscalização - como Feam, Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) e Polícia Ambiental - devem somar esforços para obter informações sobre a situação ambiental no Estado. "Encontramos o sistema bastante desarticulado. Felizmente, as desgraças que ocorreram foram poucas, tendo em vista as desconexões dos órgãos", avaliou. De acordo com Ilmar, o trabalho conjunto com a Polícia Ambiental será importante, já que hoje ela conta com 1,2 mil pessoas para averiguar qualquer tipo de denúncia. "Esse será nosso primeiro filtro. Confirmada a denúncia, o segundo filtro será enviar pessoal especializado para avaliar a situação", explicou.

Empresas terão 30 dias para informar existência de rejeitos químicos em suas barragens

O presidente da Feam também conclamou a sociedade para dizer aos órgãos fiscalizadores o que está ocorrendo. "É a imprensa que normalmente informa as denúncias à Feam", salientou. Ilmar Santos informou também que, atualmente, existem 177 barragens e pilhas de rejeitos cadastradas em Minas. "Temos certeza de que esse número é maior", disse. Ele também informou que a Feam irá incluir no momento de licenciamento das empresas a necessidade de elaboração de um plano de contingência para ações emergenciais, uma análise de risco do empreendimento e a apresentação de um plano sobre o que fazer com o passivo ambiental. "Nesse acidente de Cataguases, faltou o acompanhamento". Ilmar Santos disse ainda que a fundação está adquirindo um sistema de fotografia por satélite para mapear o Estado e que as empresas terão, a partir desta terça-feira (22), 30 dias para informar a existência de rejeitos químicos em suas barragens.

Caução ambiental - Ilmar Santos fez um pedido aos deputados para apoiarem a tramitação e a aprovação de um projeto do governador, que será encaminhado à Assembléia Legislativa, criando um fundo de caução ambiental. Esse fundo obterá recursos de empreendimentos que causem potencial risco ao meio ambiente. A presidente da comissão, deputada Maria José Haueisen, disse estar de acordo com o fundo caução e informou que já apresentou à Casa projeto de lei que dispõe sobre a obrigatoriedade de garantia real, por parte de empreendimentos econômicos, nas hipóteses de risco iminente ao meio ambiente e à população.

Prefeita defende Indústria Cataguazes de Papel

A prefeita de Cataguases, Maria Lúcia Soares de Mendonça, apresentou um vídeo para mostrar as conseqüências do acidente ecológico e as ações tomadas pelos órgãos do Estado e a Defesa Civil. Ela destacou que em momento algum faltou apoio do governo e agradeceu a participação dos deputados. A prefeita disse ainda que sua principal preocupação é não permitir o fechamento da Indústria Cataguazes de Papel - que, segundo ela, emprega 272 pessoas e oferece mais de 600 empregos indiretos. Ela defendeu os proprietários da empresa e disse que o acidente não ocorreu da maneira divulgada pelos meios de comunicação.

Os rejeitos da Indústria Cataguazes de Papel atingiram 36 propriedades rurais na Zona da Mata, afetando principalmente áreas de pastagem, segundo o diretor regional da Emater em Cataguases, Noel de Aquino Campos. De acordo com ele, os prejuízos causados pelo vazamento de resíduos foram avaliados em R$ 830 mil. Noel disse que a Emater já estuda o que fazer para recuperar as áreas atingidas, mas essa recuperação só começa após a conclusão das análises que estão sendo feitas para detectar a presença de resíduos tóxicos no solo.

Tratamento dos rejeitos - O consultor ambiental Renê Vilela chamou a atenção para a ameaça que as barragens de rejeitos representam. Segundo ele, essas barragens correm o risco de soterrar nascentes, destruir vegetação nativa, assorear mananciais e contaminar lençóis freáticos. "O ideal é tratar os rejeitos, que podem ser reciclados ou aproveitados industrialmente", defendeu. A superintendente da Associação Mineira de Defesa do Meio Ambiente (Amda), Maria Dalce Ricas, também propôs medidas para evitar novos acidentes, como a soma de esforços dos órgãos fiscalizadores e punição rigorosa para as empresas que provocarem danos ambientais.

Houve omissão ou não?

O diretor técnico da Copasa, Carlos Gonçalves de Oliveira Sobrinho, garantiu que não houve omissão dos órgãos competentes, que agiram rapidamente, acrescentou, para evitar maiores danos ambientais em Cataguases. "A Copasa disponibilizou 19 caminhões-pipa para atender as cidades que ficaram sem abastecimento de água no Rio de Janeiro, além de providenciar caminhões de sucção para retirar o material tóxico dos rios. Ao todo, 53 técnicos da empresa foram mobilizados em ações emergenciais", afirmou. Segundo ele, a Copasa vai contratar uma consultoria para estudar as melhores soluções para as duas barragens de rejeitos da Indústria Cataguazes de Papel. Para isso, a empresa vai receber R$ 1,2 milhão provenientes de um convênio firmado com as Secretarias de Estado de Planejamento e Gestão e de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável.

Falta integração - O representante do Ibama, Roberto Messias, reconheceu que falta integração entre os órgãos fiscalizadores. "Houve um culpado pelos danos ambientais. As responsabilidades vão ser apuradas e os prejuízos têm que ser ressarcidos, pois a impunidade pode levar a novas catástrofes. O Ibama vai continuar presente para que os responsáveis pela tragédia não fiquem impunes", garantiu. A deputada Maria José Haueisen endossou a fala de Messias. "Não vamos tentar tampar o sol com a peneira, houve omissão, sim. Faltam funcionários para fiscalizar e não se sabe nem quantas barragens de rejeitos existem no Estado", disse.

Deputados fazem balanço de visita a Cataguases

A presidente da comissão, deputada Maria José Haueisen, disse que o objetivo da reunião não era apontar culpados, já que, para isso, existe o Ministério Público. "Estivemos em Cataguases, percorremos todo o ribeirão. Não estamos aqui para chorar pelo leite derramado. Mas, diante do ocorrido, queremos saber a situação de outras barragens no Estado", salientou. Ela lembrou que a manutenção e a conservação dessas barragens deve ser permanente.

Mesmo ponto foi abordado pelo deputado Fábio Avelar (PTB). "Verificamos a gravidade do problema em Cataguases e nos preocupamos em ter ações preventivas nesse sentido". O vice-presidente da comissão, deputado Doutor Ronaldo (PDT), destacou a importância da ajuda da população para comunicar às autoridades municipais possíveis irregularidades. O deputado Biel Rocha também destacou a necessidade de se ouvir as pessoas envolvidas com o desastre ambiental, "que assustou todo o povo mineiro".

Desaparecimento de trabalhador rural será abordado em reunião

O deputado Fábio Avelar entregou ainda à presidente da comissão, deputada Maria José Haueisen, relatório contendo dados sobre o desaparecimento do trabalhador rural João Caetano dos Santos, de 57 anos, que foi visto pela última vez no dia 9 de fevereiro. A casa do trabalhador está localizada no meio do canteiro de obras da Barragem Candonga, em Santa Cruz do Escalvado, na Zona da Mata, porque ele se recusou a vender seu terreno. No próximo dia 29, a Comissão de Meio Ambiente e Recursos Naturais, em conjunto com a Comissão de Direitos Humanos, irá realizar audiência pública para averiguar essa e outras denúncias apresentadas por membros das famílias atingidas pela barragem.

Requerimentos - Durante a reunião, foram aprovados sete requerimentos. O deputado Doutor Ronaldo (PDT) foi designado relator do PL 147/2003.

Presenças - Compareceram à reunião a deputada Maria José Haueisen (PT), presidente da comissão; Doutor Ronaldo (PDT), vice-presidente; Fábio Avelar (PTB); Biel Rocha (PT) e Arlen Santiago (PTB).

 

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