Querem privatizar previdência do serviço público, dizem
especialistas
"Na questão da previdência, não podemos deixar que
façam política de terra arrasada". O economista e especialista em
Previdência Social, José Prata Araújo, fez essa afirmativa para
enfatizar a necessidade de a sociedade brasileira se organizar e
lutar contra a reforma da previdência nos moldes que o governo
federal está propondo. Segundo ele, a reforma tem o intuito, não
declarado por aqueles que a defendem, de privatizar a Previdência
Social no Brasil, como aconteceu em países da América Latina, como
Argentina e Chile.
Segundo ele, a privatização, que esteve no bojo do
projeto neoliberal e agora é prioridade para a Alca, só não foi
implantada porque os setores organizados conseguiram incluir na
Constituição conquistas sociais como previdência, saúde e educação
públicas. Além disso, na avaliação de José Prata, a reforma
quebraria o Estado brasileiro, com a transferência da parte
lucrativa - contribuições - para as seguradoras, e da parte
deficitária - o passivo previdenciário - para o governo.
Bode expiatório - "O
servidor público é o grande bode expiatório na reforma da
previdência, como se fosse o culpado pelo déficit nesse setor",
afirmou o economista, para quem o déficit se deve aos constantes
desvios de recursos da previdência com o objetivo de cobrir a dívida
pública federal. Prata avalia também que é um equívoco considerar
que os critérios do regime de previdência dos servidores públicos
sejam melhores que os da iniciativa privada. Se o servidor recebe
aposentadoria integral, é porque paga sobre seu salário bruto,
enquanto quem recolhe para o INSS paga sobre o teto de R$1.561,00,
que vai ser reajustado para R$1.820,00, defendeu Prata.
Por fim, José Prata afirmou que, se o governo
quiser implantar de fato um regime único, deve fazê-lo de forma
completa, englobando, de fato, todos os funcionários - da iniciativa
privada, incluindo trabalhadores urbanos e rurais, e do setor
público, incluindo civis, militares e juízes, num mesmo sistema. E
acrescentou que esse regime único deveria abarcar o que há de melhor
nos dois sistemas e não o que tem de pior, como está previsto na
proposta do governo federal.
Defensores da reforma da previdência usariam
argumentos mentirosos
"Mentiras e verdades sobre a reforma da
previdência" foi o tema abordado pela presidente da Delegacia
Sindical de Belo Horizonte do Sindicato Nacional dos Auditores
Fiscais da Receita Federal (Unafisco Sindical), Maria Lúcia
Fattorelli Carneiro. Segundo ela, os argumentos utilizados pelos
defensores da reforma da previdência são, na maioria das vezes,
falsos. A primeira das falácias seria a de que estaria em debate a
"reforma da previdência", quando, na verdade o que se discute é a
privatização da previdência dos servidores públicos, na avaliação de
Fattorelli.
A dirigente sindical desmonta o argumento de que o
regime de capitalização irá permitir rendimentos maiores e o aumento
do nível de poupança. Ela afirma que esse sistema substituirá o
modelo de repartição, baseado na solidariedade, por um outro,
capitalista, com sérios danos às contas públicas. Fattorelli rebate
a afirmativa de que a seguridade e a previdência social enfrentam
déficit, dizendo, embasada em números, que a seguridade é
superavitária. Ela compara todas as receitas da Seguridade Social
com todas as despesas da Previdência, Saúde e Assistência Social,
demonstrando que em 2002, a seguridade foi superavitária em R$22
bilhões.
Indústrias de base - Maria
Lúcia Fattorelli também contrapôs a afirmação de que a previdência
seria um fardo para a sociedade, mostrando como os recursos do setor
permitiram a instalação das grandes indústrias de base no país e
outras obras, no passado. Outra mentira, na avaliação da
sindicalista, é dizer que o servidor público não contribuía para a
previdência até poucos anos atrás, pois, desde a criação do Ipase
(Instituto de Previdência e Assistência Social), em 1938, os
servidores contribuem. Ela critica a proposta de criação de um
regime único para todos, defendendo que cada regime tem suas
especificidades, razões e evolução histórica, que devem ser
respeitadas.
Em relação ao crescimento dos beneficiários da
previdência, a dirigente sindical refuta o argumento de que o
aumento deles será muitas vezes superior ao aumento dos
contribuintes, como afirmam os defensores da reforma. Para ela, o
padrão de crescimento dos beneficiários, no futuro, será diferente
do que ocorreu no passado. Maria Lúcia Fatorelli afirma que os
problemas da previdência não são decorrentes essencialmente da
demografia e sim da situação econômica, que combina desemprego,
informalidade, baixo crescimento, além de sonegação e fraudes. Por
todas essas razões, ela defende o arquivamento incondicional do
Projeto de Lei 9, que abrigaria a privatização da previdência e não
uma simples reforma do sistema.
Reforma trouxe prejuízos para trabalhadores da
iniciativa privada
A necessidade de uma reforma tributária justa,
honesta e transparente, que seja anterior a qualquer proposta de
reforma da previdência, foi defendida pelo secretário-geral da
Federação dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários do Estado de
Minas Gerais, José Célio Alvarenga. Na opinião de Alvarenga, a
reforma previdenciária implementada pelo governo anterior só trouxe
prejuízos para os trabalhadores da iniciativa privada. Segundo ele,
muitos não recebem atualmente nem 50% do que ganhavam no passado, em
função do achatamento do teto de benefício - hoje fixado em R$
1.561,41. O representante dos trabalhadores rodoviários também
reivindicou o direito dos motoristas de veículos pesados à
aposentadoria após 25 anos, tendo em vista a natureza do trabalho
que desempenham.
José Célio Alvarenga defendeu a democratização da
gestão da previdência; a aplicação correta dos recursos arrecadados;
a revisão de isenções; e a proibição de repasses de recursos da
previdência para outros fins. Ele se solidarizou com os servidores
públicos, elogiando-os por estarem unidos na defesa de seus
direitos. "A reforma está a serviço do FMI", enfatizou. Também
endossou a crítica ao PL 9, em tramitação no Congresso Nacional, que
institui a previdência complementar para os servidores
públicos.
Municípios - Um outro ponto
abordado na manhã desta terça-feira (15) foi o regime próprio dos
servidores públicos municipais. Quem falou sobre o assunto foi o
presidente do Instituto Brasileiro de Direito Previdenciário,
Maurílio Arruda. Ele fez vários questionamentos quanto à criação "de
fundos de fachada com o nome de instituto de previdência" e cobrou
responsabilidade e competência dos prefeitos no estabelecimento dos
regimes próprios em seus municípios.
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