Previdência do servidor público e dos militares em MG
O segundo painel do Fórum Técnico "Reforma da
Previdência", na tarde desta segunda-feira (14/4/2003), abordou a
questão da previdência social do servidor público e dos militares em
Minas Gerais. O primeiro expositor foi o diretor de Previdência do
Instituto de Previdência dos Servidores do Estado (Ipsemg), Gleison
Pereira de Souza, que defendeu a necessidade da reforma para dar
sustentabilidade financeira e atuarial ao sistema previdenciário.
Para ele, as mudanças demográficas e as crises financeiras que
acontecem ao longo dos anos impõem constantes adequações ao sistema,
com base nas relações entre contribuintes e beneficiários e entre
período contributivo, valor da contribuição e valor do
benefício.
Para ilustrar a importância das mudanças
demográficas para a previdência, Gleison Pereira lembrou que a média
de filhos por mulher em idade fértil, no Brasil, caiu de 6,2 na
década de 40 para 2,3 em 2000. Por outro lado, a expectativa de vida
ao nascer passou de 42 anos para 68,6 anos no mesmo período; e a
estimativa é que chegue a 76 anos em 2020. Com isso, houve
significativa mudança no perfil da pirâmide etária dos brasileiros,
com o envelhecimento da população. Estima-se que o percentual de
idosos passará de 5,1% em 2000 para 8,9% em 2020. Em 2025, segundo o
diretor do Ipsemg, o Brasil deverá ser o 6º país com maior população
idosa do mundo.
Relação - Como
conseqüência dessas mudanças, alterou-se a relação
contribuinte/beneficiado. Na década de 50, havia oito pessoas
contribuindo para cada uma que recebia benefício. Em 1997, essa
relação já era de 1,7 por um. No Estado, essa relação já é de 1,3
por um. De acordo com o expositor, a relação ideal é de seis
contribuintes para cada beneficiado, aceitando-se, como viável, uma
proporção de até quatro por um.
O crescimento da participação dos aposentados na
folha de pagamento dos servidores públicos é outro aspecto que
preocupa e aponta para a necessidade de adequação do sistema,
segundo Gleison Pereira. Em Minas Gerais, em dezembro de 2001, 32%
dos pagamentos efetivados pelo Estado referiam-se a aposentados, e
68% a servidores da ativa. Mas os inativos respondiam por 43% da
folha, contra 57% dos ativos. A estimativa é de que em 2010 a folha
dos inativos, no Estado, supere a dos ativos.
Déficit - O déficit
atuarial também foi destacado pelo diretor do Ipsemg. Em 2002, a
despesa com pagamento de inativos e pensionistas chegou a R$ 3,4
bilhões, enquanto a receita proveniente da contribuição foi de R$
638 milhões, o que dá uma diferença de R$ 2,7 bilhões e gerou um
déficit atuarial de R$ 21 bilhões.
A Lei Complementar 64/2002, instituiu no Estado um
regime próprio de previdência social de modo que aqueles que já eram
servidores efetivos e não efetivos em janeiro de 2002 receberão
aposentadoria diretamente do Tesouro do Estado, através do Confip,
enquanto os novos servidores efetivos, que ingressarem no Estado a
partir de 2002, terão aposentadoria a cargo do Ipsemg, através do
Fumpemg, o que começará a ter efeitos práticos a partir de
2010.
Militares defendem regime próprio
O segundo expositor foi o coronel PM Roberto
Rezende, diretor-geral do Instituto de Previdência dos Servidores
Militares (IPSM), que defendeu a existência de um regime próprio
para os militares, em função das características da carreira militar
e da atividade policial, e criticou a inadimplência do Estado para
com o sistema previdenciário. Depois de traçar um histórico da
entidade, desde a criação da Caixa Beneficente da Força Pública, em
1911, antes mesmo da criação da Previdência Social no País, passando
por sua transformação em autarquia, em 1968, quando ganhou o perfil
de instituto de seguridade social, até os dias atuais, ele condenou
o "seqüestro" dos recursos do IPSM a partir de agosto de 1995,
quando o Estado começou a não repassar as contribuições. Atualmente,
a dívida, não corrigida, atingiria a cifra de R$ 945 milhões.
Roberto Rezende ressaltou, ainda, a homogeneidade
do padrão salarial na corporação. Segundo ele, tanto na Polícia
Militar, quanto nos Bombeiros Militares, não há supersalários nem
marajás, uma vez que a relação entre os maiores e menores salários é
de apenas 3,94 vezes. "Essa discussão não pode se restringir à ótica
financeira, é preciso levar em conta aspectos sociais", concluiu,
reiterando a defesa de uma previdência específica para a
categoria.
Sindicalista considera reforma inoportuna
A terceira exposição ficou a cargo de Olga Carvalho
Hott, diretora do Sindicato dos Auditores Fiscais da Previdência
Social em Minas Gerais (Sindifisp), que também criticou a proposta
de reforma feita pelo governo federal. "A reforma do regime próprio
dos servidores já foi feita, o que temos agora é uma tentativa de
avanço do capital sobre os direitos humanos, para abrir espaço para
os planos de previdência privados", analisou.
Ao falar sobre a reforma que já teria acontecido no
regime próprio após 1998, ela listou o caráter contributivo e a
busca de equilíbrio financeiro e orçamentário; o estabelecimento de
idade mínima para aposentadoria; a instituição da carência de dez
anos no serviço e cinco no cargo como condição para o benefício da
aposentadoria; e o impedimento do acúmulo da aposentadoria com o
retorno ao trabalho, entre outras mudanças.
Privatização - Para a
sindicalista, aqueles que se dedicam ao estudo da previdência sem
ter seus objetivos voltados para o mercado especulativo, em nenhum
momento vêem na reforma proposta pelo governo a construção da
justiça social. Ao contrário, na visão de Olga Hott, a reforma
visaria a consolidação da privatização do sistema previdenciário,
iniciada na década passada, além de provocar o esvaziamento dos
cofres públicos e a radicalização da idéia de Estado mínimo.
No entendimento da expositora, desde sua criação, a
previdência do servidor teve contribuição dos servidores públicos,
em alíquotas elevadas, tendo constituído um grande patrimônio. Estes
recursos foram incorporados, em 1977, ao Sistema Nacional de
Previdência e Assistência Social (Sinpas), hoje INSS. Para ela, a
garantia pelo pagamento dos proventos de aposentadoria do servidor
público sempre foi entendida como uma obrigação do ente estatal, por
se entender que o servidor é uma extensão do Estado; e a
privatização dos regimes próprios dos servidores trará grandes
conseqüências a médio e longo prazos para trabalhadores da
iniciativa privada e servidores públicos.
"Defendemos uma reforma que recupere as conquistas
perdidas com mudanças anteriores, e não que retire mais direitos. A
União é devedora do servidor público, foi ela que não criou o fundo
previdenciário, foi ela que não repassou contribuição patronal",
concluiu Olga Hott.
Críticas à Lei Complementar 64/2002
Em sua exposição, a presidente do Sindicato dos
Servidores do Ipsemg, Andréa Myrrha Guimarães de Almeida, criticou
diversos pontos da Lei Complementar 64/2002, entre eles o aumento no
valor de contribuição dos servidores e o chamado "pedágio" de tempo
de contribuição para que eles possam se aposentar. Além disso,
Andréa afirmou que diversos repasses do governo estadual ao Ipsemg
previstos na lei não estão sendo feitos. Ela ainda se queixou do
corte realizado no orçamento do instituto para 2003, que caiu de R$
308 milhões para R$ 136 milhões.
Na opinião da sindicalista, o objetivo do governo é
enfraquecer o regime próprio de Previdência para fortalecer os
planos privados. Ela alertou para os riscos que essa mudança
representa para os servidores citando que, no Chile, dos 13 fundos
previdenciários instituídos, oito faliram, pois eles são baseados na
especulação financeira.
Andréa acusou ainda o poder público de tratar os
aposentados como "dinossauros", e apresentou uma série de
reivindicações, entre elas a retirada do Projeto de Lei Complementar
9/99 da pauta de votações no Congresso Nacional. O projeto institui
o regime de previdência complementar na União, Estados e municípios.
Ela pediu ainda que as reformas tributária e do Judiciário sejam
apreciadas antes da previdenciária e que o regime próprio de
Previdência seja mantido e aprimorado.
O presidente da Associação dos Praças, Policiais e
Bombeiros Militares (AspraPM/BM), Luiz Gonzaga Ribeiro, reforçou a
argumentação do coronel Roberto Rezende na defesa de um regime
próprio de previdência para os servidores militares e procurou
descaracterizar como "privilégio" as diferenças entre as funções dos
militares e dos civis.
A direção dos trabalhos concedeu dez minutos à
Federação dos Aposentados e Pensionistas de Minas Gerais,
representada pelo seu presidente, Hermélio Soares Campos, para que
desse sua contribuição ao debate. A entidade apresentou um documento
com propostas para a reforma e registrou que a categoria dos
aposentados foi a mais duramente penalizada nos últimos oito anos,
principalmente por causa do achatamento do salário mínimo.
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