Denúncias levam Comissão de Saúde ao Hospital São Francisco

Mobilizada por denúncias sindicais de irregularidades trabalhistas, a Comissão de Saúde da Assembléia fez visita de i...

08/04/2003 - 15:33
 

Denúncias levam Comissão de Saúde ao Hospital São Francisco

Mobilizada por denúncias sindicais de irregularidades trabalhistas, a Comissão de Saúde da Assembléia fez visita de inspeção nesta terça-feira (8/4/2003) ao Hospital São Francisco, localizado no bairro Colégio Batista, em Belo Horizonte. Os deputados Ricardo Duarte (PT), presidente da Comissão, Fahim Sawan (PSDB), vice-presidente, e Doutor Viana (PFL), que também são médicos, foram recebidos por quatro membros da diretoria do hospital, a quem pediram informações detalhadas sobre as dificuldades atualmente enfrentadas pela instituição.

Os deputados esclareceram aos médicos a presença deles ali não tinha o objetivo de agravar as dificuldades, mas tão-somente buscar elementos para compreender a situação e oferecer ajuda, no âmbito de competência da Comissão, para superar os problemas. O presidente Ricardo Duarte esclareceu que a reclamação partiu da área trabalhista e que depois o sindicato dos funcionários seria ouvido. "Gostaríamos de avaliar as conseqüências do problema trabalhista no atendimento às pessoas mais carentes, sobretudo aquelas dependentes do Sistema Único de Saúde", afirmou. Doutor Viana lembrou aos médicos que "somos todos colegas, e queremos que o hospital funcione bem e que o povo seja atendido", e Fahim Sawan pediu "um retrato fiel da situação, para que nós possamos advogar suas causas ou interferir a seu favor".

Passivo de R$ 10,8 milhões - O diretor administrativo Júlio Santiago revelou que a dívida do hospital, acumulada desde a conversão da URV no ano de 1994, chegava a R$ 10,8 milhões, sendo quase R$ 6 milhões referentes a impostos e contribuições em atraso, R$ 2 milhões com fornecedores, R$ 2,2 milhões com os 80 médicos do corpo clínico e cerca de R$ 1 milhão com salários atrasados, acerto de férias, vale-transporte e cesta básica para os 320 funcionários. Esta última dívida teria provocado uma greve há alguns meses, que agravou ainda mais o problema do atendimento.

"De 150 leitos que mantínhamos, hoje oferecemos apenas 80. Como hospital filantrópico filiado ao SUS, temos que oferecer 60% do nossos atendimentos ao SUS, e 20% de gratuidade, sendo que grande parte é para idosos dos asilos da Sociedade São Vicente de Paulo", revelou o diretor, calculando que um aporte emergencial de R$ 900 mil seria suficiente para reerguer a instituição.

As perspectivas sombrias sobre o São Francisco foram ampliadas pelo diretor superintendente, Dr. Francisco Souza Lima Filho, que também é vice-presidente da Federação Brasileira de Hospitais. Segundo ele, "há 120 hospitais particulares, que vinham se equilibrando antes do Plano Real, que passaram a acumular dívidas pesadas com a conversão da URV, a partir de 1994. A diferença dessa conversão hoje é estimada em R$ 13 bilhões".

Para o Dr. Francisco, além dos repasses do SUS, quem sustenta o hospital são os convênios com a Unimed e com o Bradesco Saúde. "Graças a Deus não temos convênio com o Ipsemg, que está devendo R$ 47 milhões aos hospitais", ilustrou.

A diretoria do hospital revelou ainda aos deputados que a Secretaria de Estado da Saúde tem uma dívida nominal de R$ 1,2 milhão com o São Francisco, contraída há cinco anos para reforçar o atendimento ao Hospital João XXIII. Os deputados ofereceram a ajuda da Comissão para tentar agilizar o pagamento dessa dívida, junto ao secretário da Saúde, Marcus Pestana.

Impasse trabalhista - O presidente da Corporação de Médicos Católicos, gestora do Hospital, Geraldo Majella Medeiros de Paula, relatou aos deputados os desdobramentos da crise trabalhista recente. O acordo que estava sendo negociado na Delegacia do Trabalho para acerto das férias, dos vales-transporte e da cesta básica não teria progredido porque o sindicato insistia na reintegração do ex-funcionário André Luiz Pádua dos Santos, militante sindical demitido no calor da greve. Para a diretoria do hospital, o ex-funcionário incorreu em desrespeito grave e a Justiça do Trabalho já havia dado ganho de causa ao hospital. "Mesmo assim, estamos com a faca no peito, porque a delegada do Trabalho nos ameaçou de aplicar uma multa para cada funcionário em situação irregular, a partir desta quarta-feira", explicou.

SÃO FRANCISCO É REFERÊNCIA EM HEMODIÁLISE

O Hospital São Francisco, fundado há 60 anos, tem hoje 320 funcionários, além de 80 médicos em seu corpo clínico. É uma instituição filantrópica, mantida pela Sociedade São Vicente de Paulo, através da Corporação de Médicos Católicos. Dessa forma, tem direito a isenções de cerca de 30% dos impostos e contribuições. Já foi um hospital de destaque em Belo Horizonte, quando oferecia até 150 leitos. É um hospital de alta complexidade, sendo ainda hoje considerado referência em hemodiálise, neurocirurgia e radioterapia. Realizou 60 transplantes renais em 2002. Oferece também especialidades como Ortopedia e Medicina Interna. Seu serviço de cirurgia cardíaca está atualmente desativado, devido à situação difícil, mas há proposta de reativá-lo, de implantar um serviço de Oncologia e a construção de um novo CTI, para a qual a Secretaria Municipal de Saúde estaria interessada em estabelecer parceria.

Presenças - Ricardo Duarte (PT), presidente; Fahim Sawan (PSDB), vice-presidente; e Doutor Viana (PFL).

 

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