| Vantagens pessoais são a polêmica no projeto do teto salarial 
             A inclusão ou não das vantagens pessoais no 
            estabelecimento do teto salarial para os servidores públicos foi o 
            ponto mais polêmico entre os participantes da audiência pública 
            realizada, nesta quinta-feira (3/4/2003), pela Comissão de 
            Constituição e Justiça da Assembléia Legislativa. Convocada para 
            discutir o Projeto de Lei (PL) 19/2003, do governador do Estado, que 
            cria o teto para os servidores do Executivo, a audiência recolheu 
            subsídios para o parecer do relator do projeto, deputado Ermano 
            Batista (PSDB). Estão previstas mais duas audiências, com 
            especialistas em Direito Administrativo, representantes do 
            Judiciário e do funcionalismo estadual. O teto proposto no projeto é 
            de R$ 10.500,00, equivalente à remuneração do governador. A exemplo do que ocorre com juristas do País 
            inteiro, a questão das vantagens não encontrou consenso entre os 
            participantes da reunião da CCJ. O secretário de Estado do 
            Planejamento e Gestão, Antônio Augusto Anastasia, ao invés de 
            responder, acabou levantando a questão, indagando se as vantagens 
            deveriam constar ou não do teto. Mas garantiu que o número de 
            servidores cujos salários, somados remuneração e vantagens, 
            ultrapassariam o teto proposto no PL 19/2003, seria muito pequeno. 
            Anastasia disse que o teto é para funcionários da ativa e também 
            para os inativos. Subteto nos Estados não está previsto na 
lei O procurador-geral do Estado, José Bonifácio Borges 
            de Andrada, afirmou que hoje o Supremo Tribunal Federal tem um 
            entendimento contrário à inclusão de vantagens pessoais no teto, 
            considerando-se como vantagem, segundo o STF, apenas o anuênio. "Mas 
            é um entendimento que pode mudar, mesmo porque a composição do 
            Tribunal vai mudar, com a entrada de novos membros", disse. O Supremo também não conseguiu decidir sobre o teto 
            único nacional, conforme preconizou a Emenda 19, de 1998, que previa 
            a elaboração de uma lei ordinária de iniciativa do Executivo, 
            Supremo e Congresso. Como não houve tal iniciativa, o que prevalece 
            hoje é o texto da Constituição de 1988, que prevê tetos diferentes 
            para os três poderes, tendo como referência o salário do presidente 
            da República, para o Executivo; o do ministro do STF, para o 
            Judiciário; e o salário dos congressistas, para o Legislativo. Alguns participantes defenderam a criação do teto 
            salarial nos estados (subteto), mesmo antes da criação do teto 
            nacional, correndo o risco de, aprovada a lei, ela ser barrada no 
            STF. No entendimento de José Bonifácio Andrada, como a Emenda 19 não 
            previu a criação do subteto, também não o proibiu. "É uma questão de 
            interpretação; hoje está de uma forma, amanhã pode estar de outra", 
            analisou. O secretário Anastasia também tem esse entendimento e acha 
            que Minas pode sair na frente, aprovando o projeto, "que pode servir 
            de modelo para outros Estados". O procurador da Assembléia Legislativa e professor 
            da PUC/Minas, Júlio Esteves dos Santos, disse que o teto nacional 
            tem vícios de origem, ao juntar categorias diferentes. Ele 
            compartilha da opinião do procurador do Estado, de que se a lei não 
            prevê a criação do subteto, também não o proíbe. Para ele, cabe sim, 
            aos Estados, estabelecer a distância entre a maior e a menor 
            remuneração, desde que isso não contrarie o teto nacional. Júlio 
            Esteves abordou também a questão do direito adquirido, lembrando 
            haver um consenso de que a fixação do teto não atingiria o direito 
            consolidado. Ele lembrou que a questão da remuneração do servidor 
            deve ser vista do ponto de vista de uma carreira, com parâmetros do 
            mercado. Deputados querem contribuição para o 
parecer O relator, deputado Ermano Batista (PSDB), destacou 
            que o projeto é muito polêmico, principalmente por ferir o que está 
            previsto na Emenda 19/98, que pede uma lei de iniciativa dos três 
            poderes, na esfera federal. Mas destacou que é preciso avançar nesta 
            discussão. Ele enfatizou também que o projeto vai esbarrar na 
            isonomia entre os poderes, ao encontrar salários diferenciados. O 
            deputado solicitou ao secretário de Planejamento que não seja pedido 
            regime de urgência para a apreciação da matéria, "pois o assunto 
            exige muito debate, muita discussão, e não pode haver pressa". O presidente da CCJ, deputado Sebastião Navarro 
            Vieira (PFL), lembrou que se as vantagens entrarem na composição do 
            teto, haverá incompatibilidade com o texto constitucional. E se elas 
            não entrarem, haverá uma enxurrada de ações judiciais, para garantia 
            de direitos adquiridos. Ele defendeu a iniciativa de Minas de 
            aprovar o teto estadual, para que o Estado sirva de modelo ao 
            País. Questionado pelo deputado Paulo Piau (PFL) sobre a 
            remuneração de servidores em outros países, Anastasia disse que o 
            Brasil segue o modelo europeu de administração, especificamente o 
            francês, em cujas regras o Direito Administrativo brasileiro se 
            baseou. Paulo Piau perguntou, ainda, se não seria possível atrelar 
            os salários à economia. Quem respondeu foi o deputado Ermano 
            Batista, lembrando que a economia sobe e desce, o que não poderia 
            acontecer com os salários (aumentar/diminuir), porque iria ferir a 
            Constituição que proíbe redução. A deputada Marília Campos (PT) pediu 
            esclarecimentos do que foi considerado salário do governador, para o 
            estabelecimento do teto de R$ 10.500,00. Antônio Anastasia informou 
            que foi usada a remuneração única do governador, já que ele não tem 
            parcelas indenizatórias, nem diárias, nem ajuda de custo. Os R$ 
            10.500, 00 representam a soma de 50% de subsídio e 50% de verba de 
            representação, "não há qualquer outra parcela remuneratória", 
            assegurou. Membro efetivo da Comissão de Constituição e 
            Justiça, o deputado Gustavo Valadares (PRTB) sugeriu que a 
            Assembléia encaminhasse à Unale (União dos Legislativos Estaduais) 
            pedido para que o teto seja discutido em outras casas legislativas e 
            que o Congresso apresentasse uma emenda constitucional ao artigo 37 
            da Constituição da República, para acomodar a questão do teto. O 
            pedido foi acatado pelo presidente da comissão, Sebastião Navarro 
            Vieira, sob a forma de requerimento, que foi aprovado. A reunião foi considerada bastante produtiva pelo 
            relator do projeto. Para ele, falta agora ouvir o funcionalismo e, 
            também, o Judiciário. Ermano Batista pretende apresentar emendas ao 
            projeto, para criar o teto salarial também para os servidores do 
            Legislativo e do Judiciário. Ele informou que o Executivo não tem 
            competência para fazer tal ingerência nos outros poderes, mas a 
            Assembléia, em forma de emenda, pode fazer a alteração. Já estão convidados para a próxima audiência 
            pública o procurador-geral do Ministério Público, Nedens Ulisses; o 
            representante do funcionalismo estadual, Renato Barros; a 
            procuradora do Estado e professora da PUC, Carmem Lúcia Antunes 
            Rocha; e o professor da UFMG, José Rubens Costa. Manifestação Durante os debates na Comissão de Constituição e 
            Justiça, aprovados em concurso da Fhemig fizeram manifestação 
            pedindo a nomeação e imediata contratação de todos. Em pergunta 
            encaminhada pela deputada Marília Campos, pediram respostas do 
            secretário. Anastasia lembrou que a questão da Fhemig foi herdada do 
            governo passado, "mas existe todo empenho do governador em resolver 
            a situação dos concursados, aprovados legitimamente". Ele garantiu 
            que já existe o estudo para verificar a forma de substituição dos 
            contratados pelos concursados. Presenças - Participaram 
            da reunião os deputados Sebastião Navarro Vieira (PFL), presidente, 
            Bonifácio Mourão (PMDB), Ermano Batista (PSDB), Gustavo Valadares 
            (PRTB) e Marília Campos (PT). Também participaram os convidados: 
            Antônio Augusto Anastasia, secretário de Planejamento e Gestão; o 
            procurador-geral do Estado, José Bonifácio Borges de Andrada; e o 
            procurador da Assembléia Legislativa, Júlio Esteves dos 
            Santos.   
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