Presos da Nelson Hungria estariam planejando matar deputados

Detentos líderes de pavilhões da Nelson Hungria, em reunião na penitenciária, formaram um "consórcio" para recolher d...

03/04/2003 - 18:54
 

Presos da Nelson Hungria estariam planejando matar deputados

Detentos líderes de pavilhões da Nelson Hungria, em reunião na penitenciária, formaram um "consórcio" para recolher dinheiro e drogas a serem usados no pagamento das pessoas que matarem os deputados Sargento Rodrigues (PDT) e Rogério Correia (PT), e o presidente do Sindicato dos Agentes Penitenciários de Minas Gerais, Marcos Aurélio de Paula Terrinha. A denúncia foi feita por Marcos Terrinha, na reunião desta quinta-feira (3/4/2003), da Comissão de Segurança Pública da Assembléia Legislativa. Segundo Sargento Rodrigues, a omissão governamental levou os presos a desafiarem de modo escancarado o próprio Estado, mas isso não intimidará a comissão, que continuará investigando, nem que para isso seja preciso quebrar sigilos bancários e telefônicos.

O sindicalista denunciou a existência de seis líderes entre os detentos, que gozariam de privilégios e praticamente fariam as leis na Nelson Hungria, descrevendo a atuação de cada um: o maior líder, Rogério Amaral dos Santos, o "Rogerão", comandaria o tráfico na região oeste da capital; Roberto Aparecido Leal, químico, responsável pelo tráfico de drogas dentro de transformadores para os Estados Unidos, crime já apurado; "Maurição Tae-kwon-do", ex-integrante do PCC e um dos maiores traficantes do Estado; Roni Peixoto, o braço direito de Fernandinho Beira-Mar, segundo Terrinha; José do Rosário, o "Zé do Pó", traficante; e Devair, vulgo Cabral, que age na portaria externa do presídio, intermediando entrada e saída de objetos ilegais.

Para Marcos Terrinha, esses seis presos precisam ser transferidos para presídios de segurança máxima e a figura do representante de pavilhão, extinta. Segundo ele, em nome de nenhum dos seis presos consta qualquer punição pela Comissão de Disciplina, mesmo com atitudes passíveis de graves punições, descritas por funcionários em relatório. Todos os representantes são bandidos de alta periculosidade - traficantes ou ladrões de banco e de cargas e que, assim mesmo, de acordo com Terrinha, recebem um salário mínimo do Estado.

"Após as denúncias, situação na Nelson Hungria não se alterou", diz Terrinha

Mesmo depois das denúncias das comissões de Segurança Pública e a de Direitos Humanos, pouca coisa teria sido alterada no presídio, na visão de Terrinha. Ele afirmou que "Rogerão" continua comandando o tráfico; o novo diretor da Nelson Hungria, coronel Alvenir Alves da Silva mantém as mordomias de alguns presos; a pressão sobre os funcionários é constante; há vários casos de nepotismo, enriquecimento ilícito e envolvimento de diretores e funcionários nos esquemas ilegais dos detentos (que tiveram seus nomes passados em sigilo à comissão).

Na avaliação do presidente do sindicato, as medidas do Estado para resolver a situação na Nelson Hungria estão muito vagarosas mesmo em relação às adotadas em outras penitenciárias no Estado. "Estamos numa guerra e temos que agir rápido", reclamou. Terrinha lembrou que em outras unidades como a José Maria Alkimin e o Deoesp, em Ribeirão das Neves, o Poder Público está agindo com mais firmeza, quebrando sigilos telefônicos e bancários de presos perigosos, fazendo buscas constantes, entre outras medidas adotadas.

Quadrilha na Nelson Hungria - Marcos Terrinha acredita que há na Nelson Hungria uma quadrilha, formada não só de presos mas também de alguns funcionários, diretores e pessoas fora da penitenciária. "Como entrariam bicicletas, TV´s, DVD, freezers, piscina, armas sem a autorização ou conivência de algum diretor?", questionou ele, acrescentando que esses nunca assumem que autorizaram. Quando algum servidor do presídio faz ocorrência questionando a entrada de produtos ilegais, ele seria transferido ou até demitido. "Se não participa, a direção do presídio é, no mínimo, omissa ou conivente por permitir que a Lei de Execução Penal seja descumprida", criticou.

Ele detalhou como os objetos ilegais entram na Nelson Hungria. "Toda semana, entram uma caminhonete e duas kombis que trazem alimentos para os presos, não para o presídio, além de armas e drogas", denunciou. Essa facilitação só é possível, segundo Terrinha, com pessoas nas três áreas-chave responsáveis pela entrada de objetos - a chefia, que aprovaria resoluções facilitando a entrada; as censuras e as portarias, onde atuariam pessoas liberando a entrada de produtos ilegais. "Os presos ocupam a lacuna que o Poder Público deixou livre para eles", lamentou o sindicalista.

Diagnóstico do sistema penitenciário - "Dos cerca de 5 mil presos no Estado, 30% querem se recuperar; entre 40% e 50% são indecisos que pendem para o lado mais forte; e entre 20% e 30% comandam o sistema criminoso nos presídios", diagnosticou Marcos Terrinha. "Se acabarmos com a impunidade, se o Poder Público for o mais forte, os indecisos vão jogar do lado dele", tentando se recuperar, acrescentou, dizendo que seria importante também isolar as lideranças negativas.

Requerimentos - Foi aprovada a mudança de data da reunião ordinária, que passará a ser realizada às segundas-feiras, às 15 horas, no Plenarinho IV, e os seguintes requerimentos:

* Rogério Correia (PT): solicitando o convite para a reunião onde serão discutidas a fuga de oito presos na Nelson Hungria, em 23 de março, e as providências conseqüentes das autoridades, às seguintes pessoas: o agente de segurança na penitenciária José Maria Alckimin e líder sindical, Marcos Terrinha; o subsecretário de Administração Penitenciária, Agílio Monteiro; a juíza da Vara de Execuções Penais de Contagem, Adriana Lemos Fonseca Moreira Barbosa; o promotor da Vara de Execuções Penais de Contagem, Carlos Alberto Isoldi Filho; o diretor da penitenciária Nelson Hungria, Coronel Alvenir José da Silva

* Ana Maria (PSDB): pedindo a realização de audiência pública da comissão para debater a relação entre alcoolismo, horário de funcionamento de bares e violência urbana.

Presenças - Participaram da reunião os deputados Sargento Rodrigues (PDT), presidente; Alberto Bejani (PFL), vice; Rogério Correia (PT); Olinto Godinho (PTB); e Célio Moreira (PL).

 

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