Presos da Nelson Hungria estariam planejando matar deputados
Detentos líderes de pavilhões da Nelson Hungria, em
reunião na penitenciária, formaram um "consórcio" para recolher
dinheiro e drogas a serem usados no pagamento das pessoas que
matarem os deputados Sargento Rodrigues (PDT) e Rogério Correia
(PT), e o presidente do Sindicato dos Agentes Penitenciários de
Minas Gerais, Marcos Aurélio de Paula Terrinha. A denúncia foi feita
por Marcos Terrinha, na reunião desta quinta-feira (3/4/2003), da
Comissão de Segurança Pública da Assembléia Legislativa. Segundo
Sargento Rodrigues, a omissão governamental levou os presos a
desafiarem de modo escancarado o próprio Estado, mas isso não
intimidará a comissão, que continuará investigando, nem que para
isso seja preciso quebrar sigilos bancários e telefônicos.
O sindicalista denunciou a existência de seis
líderes entre os detentos, que gozariam de privilégios e
praticamente fariam as leis na Nelson Hungria, descrevendo a atuação
de cada um: o maior líder, Rogério Amaral dos Santos, o "Rogerão",
comandaria o tráfico na região oeste da capital; Roberto Aparecido
Leal, químico, responsável pelo tráfico de drogas dentro de
transformadores para os Estados Unidos, crime já apurado; "Maurição
Tae-kwon-do", ex-integrante do PCC e um dos maiores traficantes do
Estado; Roni Peixoto, o braço direito de Fernandinho Beira-Mar,
segundo Terrinha; José do Rosário, o "Zé do Pó", traficante; e
Devair, vulgo Cabral, que age na portaria externa do presídio,
intermediando entrada e saída de objetos ilegais.
Para Marcos Terrinha, esses seis presos precisam
ser transferidos para presídios de segurança máxima e a figura do
representante de pavilhão, extinta. Segundo ele, em nome de nenhum
dos seis presos consta qualquer punição pela Comissão de Disciplina,
mesmo com atitudes passíveis de graves punições, descritas por
funcionários em relatório. Todos os representantes são bandidos de
alta periculosidade - traficantes ou ladrões de banco e de cargas e
que, assim mesmo, de acordo com Terrinha, recebem um salário mínimo
do Estado.
"Após as denúncias, situação na Nelson Hungria não
se alterou", diz Terrinha
Mesmo depois das denúncias das comissões de
Segurança Pública e a de Direitos Humanos, pouca coisa teria sido
alterada no presídio, na visão de Terrinha. Ele afirmou que
"Rogerão" continua comandando o tráfico; o novo diretor da Nelson
Hungria, coronel Alvenir Alves da Silva mantém as mordomias de
alguns presos; a pressão sobre os funcionários é constante; há
vários casos de nepotismo, enriquecimento ilícito e envolvimento de
diretores e funcionários nos esquemas ilegais dos detentos (que
tiveram seus nomes passados em sigilo à comissão).
Na avaliação do presidente do sindicato, as medidas
do Estado para resolver a situação na Nelson Hungria estão muito
vagarosas mesmo em relação às adotadas em outras penitenciárias no
Estado. "Estamos numa guerra e temos que agir rápido", reclamou.
Terrinha lembrou que em outras unidades como a José Maria Alkimin e
o Deoesp, em Ribeirão das Neves, o Poder Público está agindo com
mais firmeza, quebrando sigilos telefônicos e bancários de presos
perigosos, fazendo buscas constantes, entre outras medidas
adotadas.
Quadrilha na Nelson Hungria - Marcos Terrinha acredita que há na Nelson Hungria uma
quadrilha, formada não só de presos mas também de alguns
funcionários, diretores e pessoas fora da penitenciária. "Como
entrariam bicicletas, TV´s, DVD, freezers, piscina, armas sem a
autorização ou conivência de algum diretor?", questionou ele,
acrescentando que esses nunca assumem que autorizaram. Quando algum
servidor do presídio faz ocorrência questionando a entrada de
produtos ilegais, ele seria transferido ou até demitido. "Se não
participa, a direção do presídio é, no mínimo, omissa ou conivente
por permitir que a Lei de Execução Penal seja descumprida",
criticou.
Ele detalhou como os objetos ilegais entram na
Nelson Hungria. "Toda semana, entram uma caminhonete e duas kombis
que trazem alimentos para os presos, não para o presídio, além de
armas e drogas", denunciou. Essa facilitação só é possível, segundo
Terrinha, com pessoas nas três áreas-chave responsáveis pela entrada
de objetos - a chefia, que aprovaria resoluções facilitando a
entrada; as censuras e as portarias, onde atuariam pessoas liberando
a entrada de produtos ilegais. "Os presos ocupam a lacuna que o
Poder Público deixou livre para eles", lamentou o sindicalista.
Diagnóstico do sistema penitenciário - "Dos cerca de 5 mil presos no Estado, 30% querem
se recuperar; entre 40% e 50% são indecisos que pendem para o lado
mais forte; e entre 20% e 30% comandam o sistema criminoso nos
presídios", diagnosticou Marcos Terrinha. "Se acabarmos com a
impunidade, se o Poder Público for o mais forte, os indecisos vão
jogar do lado dele", tentando se recuperar, acrescentou, dizendo que
seria importante também isolar as lideranças negativas.
Requerimentos - Foi
aprovada a mudança de data da reunião ordinária, que passará a ser
realizada às segundas-feiras, às 15 horas, no Plenarinho IV, e os
seguintes requerimentos:
* Rogério Correia (PT): solicitando o convite para
a reunião onde serão discutidas a fuga de oito presos na Nelson
Hungria, em 23 de março, e as providências conseqüentes das
autoridades, às seguintes pessoas: o agente de segurança na
penitenciária José Maria Alckimin e líder sindical, Marcos Terrinha;
o subsecretário de Administração Penitenciária, Agílio Monteiro; a
juíza da Vara de Execuções Penais de Contagem, Adriana Lemos Fonseca
Moreira Barbosa; o promotor da Vara de Execuções Penais de Contagem,
Carlos Alberto Isoldi Filho; o diretor da penitenciária Nelson
Hungria, Coronel Alvenir José da Silva
* Ana Maria (PSDB): pedindo a realização de
audiência pública da comissão para debater a relação entre
alcoolismo, horário de funcionamento de bares e violência urbana.
Presenças - Participaram
da reunião os deputados Sargento Rodrigues (PDT), presidente;
Alberto Bejani (PFL), vice; Rogério Correia (PT); Olinto Godinho
(PTB); e Célio Moreira (PL).
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