Presos faziam churrascos semanais na Nelson Hungria, diz
testemunha
Churrascos nos fins de semana, livre uso de
telefone celular, visitas de prostitutas. Estes são apenas alguns
dos privilégios dos detentos da Penitenciária Nelson Hungria, em
Contagem, segundo um agente penitenciário que prestou depoimento à
Comissão de Segurança Pública da Assembléia de Minas nesta
quinta-feira (27/3/2003). Os membros da comissão ouviram o
depoimento a portas fechadas, e a identidade do agente penitenciário
foi mantida em sigilo, por motivos de segurança.
De acordo com a testemunha, cada pavilhão da
penitenciária tem um "diretor", um preso que transita livremente
pelo presídio todos os dias, entre as 6 e as 18 horas. Alguns
"diretores" teriam inclusive o telefone da casa dos diretores da
penitenciária, para quem podem telefonar a qualquer hora do dia,
pois o uso do celular é liberado no presídio, segundo a testemunha.
Ainda de acordo com o agente penitenciário, a Nelson Hungria possui
uma torre que bloqueia o sinal dos celulares, mas ela está
desligada.
Estes não são os únicos privilégios dos
"diretores". Um deles, Roni Peixoto, chegou a levar para a prisão
sua própria filha, recém-nascida. O bebê passou um fim de semana
inteiro na cela do pai, segundo a testemunha. Mas não são apenas os
"diretores" que têm regalias. Os demais presos costumam fazer
churrascos nos fins de semana, de acordo com o agente penitenciário.
Segundo ele, os churrascos acontecem com freqüência, desde setembro
do ano passado. Além disso, cada pavilhão tem um freezer controlado
pelos próprios presos. Com autorização da diretoria, os detentos
comercializam refrigerantes na Nelson Hungria. O preço: três reais a
unidade, segundo a testemunha.
Outra prática comum na penitenciária é a
contratação de prostitutas. Como os presos têm direito a visita
íntima, a direção libera a entrada de qualquer mulher no presídio.
De acordo com a testemunha, o preço cobrado pelas prostitutas da
Nelson Hungria gira em torno de 30 reais.
Diretores facilitaram fuga, afirma
testemunha
O agente penitenciário revelou, ainda, que ouviu
comentários de que integrantes da direção da Penitenciária Nelson
Hungria tiveram participação direta na fuga de oito detentos no
último fim de semana. A mesma informação foi confirmada pelo
corregedor da Subsecretaria de Administração Penitenciária, Paulo
Roberto Ferreira. Segundo ele, as primeiras informações apuradas
pela corregedoria dão conta de que houve facilitação da fuga. O
subcorregedor José Soares, que conduz as investigações, adiantou que
dois policiais militares ajudaram o detento Waldenir Bueno a fugir.
O presidente da comissão, deputado Sargento
Rodrigues (PDT), chamou de baderna a situação da Nelson Hungria.
"Não existe controle sobre os presos. O que há é uma vista grossa
permanente. Tudo lá é controlado pelos chamados diretores de
pavilhão", afirmou. Os membros da comissão vão pedir o afastamento
imediato de todos os membros da diretoria da penitenciária. "Se
necessário, vamos instalar uma CPI, que pode pedir a quebra de
sigilo bancário dos supostos envolvidos no esquema de facilitação de
fuga", disse Sargento Rodrigues.
A comissão vai continuar investigando as causas da
fuga na Nelson Hungria. Foram aprovados na reunião de quinta (27)
requerimentos para que a comissão possa ouvir detentos, funcionários
e diretores da penitenciária. Os deputados também pediram à
Subsecretaria de Administração Penitenciária cópia da sindicância
instaurada para investigar a fuga e do livro de registros dos
relatórios da Nelson Hungria. Outras nove proposições que dispensam
apreciação do Plenário também foram aprovadas pela comissão.
Presenças - Participaram da
reunião os deputados Sargento Rodrigues (PDT), Célio Moreira (PL),
Olinto Godinho (PTB) e Rogério Correia (PT).
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