Fechamento de agências da Cemig é ponto polêmico em audiência

O fechamento de agências da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) em diversos municípios mineiros foi motivo d...

26/03/2003 - 19:52
 

Fechamento de agências da Cemig é ponto polêmico em audiência

O fechamento de agências da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) em diversos municípios mineiros foi motivo de impasse durante a reunião da Comissão de Defesa do Consumidor e do Contribuinte da Assembléia Legislativa de Minas Gerais, nesta quarta-feira (26/3/2003). O presidente da Cemig, Djalma Morais, convidado para debater o assunto, negou que essa fosse uma política adotada pela empresa. Ele afirmou que só foram fechadas as agências que apresentavam uma demanda de atendimento reduzida, ou seja, três no interior do Estado e seis em Belo Horizonte.

Segundo Djalma Morais, 80% do atendimento ao usuário feito em 2002 foi telefônico, através da linha 0800 disponibilizada pela empresa. Já os dados apresentados pelo deputado Dalmo Ribeiro Silva (PPB), autor do requerimento que deu origem à audiência pública, divergem dos apresentados pelo presidente da Cemig. O parlamentar informou que, de 1998 a 2001, foram fechadas 56 agências em todo Estado. Somente em 2002 foram 13 agências.

Redução de custos - O superintendente de Relacionamento Comercial da Cemig, Tarcísio Andrade Neves, informou que a revisão de custos e tarifas, feita anualmente pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), não reconheceu na contabilidade da empresa um custo de R$ 90 milhões. Fixou, ainda, uma meta de redução de custos de até R$ 60 milhões por ano, caso a Cemig não apresente bons indicadores de qualidade. Segundo o superintendente, a Cemig obteve no último ano, de acordo com pesquisas da própria Aneel, um índice de satisfação do consumidor de 71%, tendo recebido o prêmio de melhor distribuidora de energia da região Sudeste. A necessidade de redução de custos e o aporte tecnológico disponível hoje fizeram, segundo Tarcísio Neves, com que a empresa tivesse que rever seus métodos de atendimento e aprimorasse seus canais de comunicação com o consumidor. Entre esses canais, estão o serviço 0800, o atendimento via internet, os postos de auto-atendimento e as parcerias com os Correios, por exemplo.

Sindicatos criticam política de atendimento da Cemig

O coordenador do Sindieletro, Marcelo Correia, criticou o atendimento via 0800 por entender que ele não é uma opção, já que em muitas cidades é a única alternativa. "Não existe migração espontânea, se os usuários não têm outra opção", ponderou. Além disso, ele alegou que o atendimento por telefone não soluciona todos os casos. O coordenador do Sindieletro manifestou a preocupação de que aconteça com a Cemig o mesmo que ocorreu com as concessionárias de energia de outros estados, que foram privatizadas e hoje não prestam um serviço satisfatório aos usuários. Marcelo Correia falou ainda do prejuízo do fechamento das agências para os municípios, que perdem investimentos por falta do serviço.

Marcelo Correia denunciou também o descumprimento do artigo 98 da Portaria 456 da Aneel que, segundo ele, obriga a Cemig a manter agências nos municípios atendidos pela concessionária. Para Tarcísio Andrade Neves, da Cemig, a interpretação para o artigo é outra. Ele defende que a portaria apenas exige que os usuários de todos os municípios tenham meios de acessar a empresa, não necessitando que isso seja feito necessariamente por meio de uma agência. O presidente do Sindsul, José Reynaldo Inácio, também questionou a utilização do 0800 - que, segundo ele, "funciona muito bem, desde que se tenha acesso a ele", referindo-se à situação dos mineiros que vivem na zona rural, por exemplo.

O atraso no atendimento ao usuário foi discutido pelos deputados Antônio Júlio (PMDB) e Vanessa Lucas (PSDB) e também por alguns prefeitos e vereadores presentes na audiência. O deputado Antônio Júlio disse que a centralização do atendimento traz prejuízos e não reduz custos. "A Cemig vende um produto que não pode ser armazenado. Quando um funcionário demora a religar a energia de um determinado local, é prejuízo", explicou. O diretor de Distribuição e Comercialização da Cemig, José Maria Macedo, afirmou que a centralização dos técnicos em alguns municípios é fruto de um acordo coletivo firmado entre a Cemig e os sindicatos, em 1999, atendendo à reivindicação dos eletricistas pelo fim do trabalho isolado. Hoje eles só trabalham em duplas. O diretor explicou ainda que essa centralização facilita a localização dos funcionários e a comunicação com eles.

O deputado Dimas Fabiano (PPB) pronunciou-se contra o fechamento de agências no Sul de Minas. Também o deputado Elmiro Nascimento (PFL) afirmou que, em Patos de Minas, a situação é a mesma. O papel social da Cemig, enquanto empresa estatal, também foi lembrado pelo deputado Ricardo Duarte (PT), que mencionou a situação dos funcionários transferidos por causa da extinção das agências no Pontal do Triângulo.

Ao final da reunião, a deputada Maria Tereza Lara (PT) fez um apelo aos representantes da Cemig, para que sejam ouvidas as autoridades representativas dos municípios sobre a implantação das mudanças previstas pela empresa.

Requerimentos aprovados

A comissão aprovou ainda quatro requerimentos durante a reunião. Do deputado Dalmo Ribeiro Silva (PPB) e outros, foram aprovados dois. O primeiro solicita a realização de audiência pública em Pouso Alegre para analisar, junto aos municípios sul-mineiros, o impacto do fechamento das agências e postos de atendimento da Cemig naquela região e, posteriormente, em todas as regiões do Estado. O segundo pede que seja solicitada à Cemig, em caráter de urgência, a suspensão de funcionários da empresa.

Também foi aprovado requerimento do deputado Rogério Correia (PT) e outros, solicitando a realização de reunião conjunta das Comissões de Defesa do Consumidor e do Contribuinte e de Assuntos Municipais e Regionalização, para debater o fechamento de postos da Cemig no interior do Estado. O último requerimento aprovado, da deputada Lúcia Pacífico (PSDB), solicita a impressão anual, através da gráfica da Assembléia, de 5 mil exemplares de bolso do Código de Defesa do Consumidor.

Projeto Minas Transparente recebe parecer pela aprovação

Do deputado Adelmo Carneiro Leão (PT), o Projeto de Lei (PL) 54/2003, que dispõe sobre o direito à informação estabelecido nas Constituições Federal e Estadual, modifica o Decreto 41.167/2000 e garante o acesso via Internet a informações públicas (Projeto Minas Transparente), foi apreciado pela Comissão de Direito do Consumidor e do Contribuinte. Redistribuído para o deputado Dalmo Ribeiro Silva (PPB), o PL 54/2003 recebeu parecer pela aprovação na forma do substitutivo nº 1, da Comissão de Constituição e Justiça, com a emenda nº 1, do relator. Essa emenda diz que as decisões dos recursos administrativos no âmbito da administração pública estadual serão divulgadas na internet..

O projeto pretende assegurar a todo cidadão o direito às informações públicas, por meio da Internet, obrigando todos os órgãos públicos da administração direta e indireta a atualizar mensalmente informações sobre contratos, remuneração de servidores e agentes públicos, obras em execução e convênios e contratos.

Cartões de crédito - O segundo projeto apreciado pela comissão foi o PL 73/2003, que recebeu parecer pela aprovação. Da deputada Maria José Haueisen (PT), o projeto disciplina a inclusão de serviços não solicitados pelos clientes nas faturas mensais expedidas pelas operadoras de cartões de crédito, como os valores referentes a transações comerciais efetuadas por seus clientes, e outros decorrentes da oferta de bens ou serviços. A deputada Maria Tereza Lara (PT) foi a relatora da matéria.

A autora do projeto justifica que, embora caiba ao consumidor aderir ou não ao negócio proposto, na prática não é isso o que ocorre. "Os consumidores desavisados, que não tiverem por hábito conferir os valores discriminados em suas faturas, acabariam pagando por serviços que não solicitaram, sem sequer se dar conta de que estão sendo lesados." A deputada alerta ainda para um outro inconveniente. "Embora, a princípio, o negócio possa parecer facultativo, caso o consumidor opte pelo pagamento parcial das suas despesas, aquele bem ou serviço que estava sendo ofertado ao cliente, assume a feição de um negócio que a este é imposto, pois, ao definir o valor parcial que pretende pagar, não há possibilidade de o cliente excluir do valor total da fatura aquele referente ao negócio que lhe está sendo oferecido."

Presenças - Participaram da reunião as deputadas Lúcia Pacífico, presidente; Vanessa Lucas (PSDB),vice; e Maria Tereza Lara (PT); os deputados Antônio Júlio (PMDB); Dimas Fabiano (PPB); Dalmo Ribeiro Silva (PPB); Rogério Correia (PT); Doutor Viana (PFL); Elmiro Nascimento (PFL); Célio Moreira (PL); Domingos Sávio (PSDB); Laudelino Augusto (PT); Ricardo Duarte (PT) e Zé Maia (PSDB). Também participaram o presidente da Cemig, Djalma Morais; o diretor de Distribuição e Comercialização da Cemig, José Maria de Macedo; o superintendente de Relacionamento Comercial da Cemig, Tarcísio Andrade Neves; o presidente da Câmara Municipal de Ouro Fino, vereador Antônio Galvão Fortes da Silva; o coordenador do Sindieletro, Marcelo Correia; e o presidente do Sindsul, José Reynaldo Inácio. Além deles, estiveram presentes, prefeitos, vereadores e representantes de entidades sindicais de várias regiões do Estado.

 

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