Reforma tributária é debatida na Assembléia

Além de ser economicamente justa, promovendo justiça fiscal, equilíbrio regional e desenvolvimento econômico, a refor...

25/03/2003 - 18:10
 

Reforma tributária é debatida na Assembléia

Além de ser economicamente justa, promovendo justiça fiscal, equilíbrio regional e desenvolvimento econômico, a reforma tributária deve ser politicamente viável e juridicamente aplicável. Essa foi a mensagem do deputado federal Virgílio Guimarães (PT/MG) aos parlamentares mineiros da Comissão de Fiscalização Financeira e Orçamentária, nesta terça-feira (25/03/03).

O deputado, relator da Comissão da Reforma Tributária da Câmara dos Deputados, afirmou que está "herdando uma reivindicação antiga, frustrada até hoje, mas o objetivo é fazer, ainda no primeiro semestre de 2003, as mudanças constitucionais, e, no segundo, as alterações infraconstitucionais". Segundo Virgílio Guimarães, pretende-se mudar a tributação da produção (origem) para o consumo, substituindo o atual ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) pelo IVA (Imposto sobre Valor Agregado).

Com a mudança, de acordo com o deputado, a produção vai ser desonerada e as exportações aumentarão, tornando a economia mais competitiva, com a geração de novos empregos. Virgílio Guimarães prevê também que a reforma praticamente extinguirá a guerra fiscal entre estados e inibirá a elisão fiscal. Essa última ocorre quando empresas contratam escritórios de advocacia, incumbidos de descobrir brechas na legislação tributária visando pagar menos impostos.

Segundo o deputado, o sistema fiscal atual é injusto: os pobres pagam proporcionalmente mais impostos do que os ricos; os pobres gastam quase todo seu rendimento com alimentação, enquanto os ricos gastam também com serviços, que apresentam tributação mais baixa. Para corrigir a distorção no sistema atual, se o Estado isentar, por exemplo, o leite ou o café, o produtor terá perda. Se a tributação passar para o consumo, esse problema acabará, segundo o deputado.

Perdas com reforma tributária seriam compensadas, afirma Virgílio

Por outro lado, o deputado reconhece que a reforma, inicialmente, traria perdas para os Estados. Segundo estimativas, em São Paulo, seria de R$ 4,5 bilhão por ano e, em Minas Gerais, de R$ 800 milhões/ano. Virgílio Guimarães defende um período de transição para o novo modelo, com uma reforma gradual, que poderia ser implementada através de diferentes propostas em discussão: criação de um fundo nacional de compensação tributária; transição realizada em dez anos; combinação dos dois modelos; ampliação do IVA, cobrindo todos os serviços (o que geraria perdas para os municípios); transformação da CPMF em imposto permanente, com aumento da alíquota de 0,38% para 0,50%, cobrando-se os 0,12% de aumento de quem recebe na transação e 0,38% de quem paga (no repasse, a União receberia 0,25% e os estados e municípios, 0,25%).

Virgílio Guimarães defendeu também a transferência do ITR (Imposto Territorial Rural) para estados e municípios, com o conseqüente fortalecimento desse tributo. Outra reforma proposta pelo deputado diz respeito ao Imposto de Renda, hoje pago por apenas 6% da população brasileira - os assalariados, que não têm como fugir da tributação. Preocupado também com a previdência, Virgílio Guimarães defendeu a criação de uma nova contribuição para os servidores públicos que ganham acima de 10 salários mínimos, para dar sustentabilidade ao sistema.

Diretor da Receita diz que reforma oneraria mais o Estado

Representando a Receita Estadual, Antônio Eduardo de Pádua fez um contraponto às propostas do deputado. Segundo Pádua, a distribuição das responsabilidades hoje não é acompanhada pela das receitas, agravando a crise financeira nos estados, como em Minas. Mas reconheceu que, em qualquer reforma, alguém tem que perder para que todos ganhem no final.

Para Antônio Eduardo, o ICMS não é tributo somente de origem, tendo partes também no destino. "Entre IVA e ICMS a diferença é semântica; temos que mudar o conteúdo, não a capa", enfatizou. "Já temos um arcabouço jurídico e legislativo sobre o ICMS e vamos ter que criar uma nova legislação para o IVA", disse. Isso poderá trazer novamente a indústria de liminares por parte de empresas que já tem estruturas criadas com essa finalidade.

O diretor da Receita contesta também a adoção do princípio da tributação no destino pura e simplesmente. Para implementá-la, o Estado teria que criar, no mínimo, 100 postos fiscais no Estado, encarecendo muito a máquina, visto que o fiscal é um funcionário caro. Por outro lado, argumenta Pádua, "se cobrar no estado de origem para repassar dinheiro para o estado de destino, nada garante que a empresa vai mandar a arrecadação para Minas". Para garantir o repasse, cada estado teria que contar com fiscais nos outros estados, pois ninguém vai fiscalizar tributos dos outros, acrescentou.

Compensação de perdas - O presidente da Comissão de Fiscalização Financeira e Orçamentária, deputado Ermano Batista (PSDB), achou proveitosa a reunião, mas avaliou que os municípios e os estados novamente não teriam ganhos imediatos com as mudanças propostas, mas sim, compensação de perdas decorrentes da reforma. Comungando dessa visão, o deputado Chico Simões (PT) afirmou estar preocupado com a execução da reforma, em que o governo federal direciona o foco para o ICMS dos estados, mas pouco fala sobre redução de tributos federais. Segundo ele, que teve a concordância do deputado Sebastião Helvécio (PDT), tem-se que discutir o pacto federativo para definir claramente direitos e obrigações da União, estados e municípios.

Presenças: Participaram da reunião, além dos convidados, os integrantes da comissão, deputados Ermano Batista (PSDB), presidente; Jayro Lessa (PL), vice; Chico Simões (PT), Gil Pereira (PPB), Irani Barbosa (PFL), José Henrique (PMDB), Sebastião Helvécio (PDT) e Rogério Correia (PT); além de outros cinco deputados do PT, Biel Rocha, Cecília Ferramenta, Marília Campos, Weliton Prado e Ricardo Duarte; Doutor Viana (PFL), Fábio Avelar (PTB) e Jô Moraes (PCdoB).

 

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