Comissão de Direitos Humanos pede afastamento de policiais

O afastamento do delegado Pedro Luís Aguiar, de São Gonçalo do Sapucaí, e de todos os policiais denunciados por tortu...

24/03/2003 - 19:59
 

Comissão de Direitos Humanos pede afastamento de policiais

O afastamento do delegado Pedro Luís Aguiar, de São Gonçalo do Sapucaí, e de todos os policiais denunciados por tortura, abuso de poder, envolvimento com roubo de cargas e facilitação de fugas, foi solicitado pela Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa de Minas Gerais. Requerimento nesse sentido foi apresentado pelo vice-presidente da Comissão, deputado Roberto Ramos (PFL), e aprovado na reunião desta segunda-feira (24/3/03). A requerimento do presidente, deputado Durval Ângelo (PT), será promovida uma audiência pública em São Gonçalo do Sapucaí e a Comissão ainda vai visitar as delegacias daquele município e de Três Corações.

Os requerimentos foram aprovados depois que todos os depoimentos colhidos pela Comissão confirmaram as denúncias contra o delegado Pedro Luís Aguiar. Um dos depoentes afirmou, ainda, ter ouvido o delegado combinando, pelo telefone, o assassinato do juiz Sérgio Franco de Oliveira. O juiz e o promotor Paulo Henrique Senra Carneiro Barbosa, convidados para a reunião, não compareceram, alegando suspeição por estarem atuando na investigação dos fatos, além de estarem sendo ameaçados de morte. O delegado Pedro Luís Aguiar também não compareceu.

Ameaças - A advogada Maria Augusta Vilela Tavares chorou ao contar que vem recebendo ameaças de morte e que está impedida de exercer a profissão desde que dois rapazes, então menores de idade, a procuraram denunciando terem sido vítimas de torturas. Ela própria teria sido espancada ao questionar o interrogatório de um de seus clientes. Arbitrariedades, facilitação de entrada de drogas na delegacia, morte de presos por falta de socorro e assassinatos foram denunciados pela advogada, que recebeu cartas de detentos pedindo proteção. A advogada disse, ainda, que apresentou denúncias a diversas autoridades e instâncias, mas só o promotor, que era novo em São Gonçalo do Sapucaí, a ouviu. "Peço a vocês que façam alguma coisa, porque são a única opção que eu tenho", implorou. Sílvio Tavares Santos, marido de Maria Augusta, pediu a exoneração do delegado e que seja impedida a transferência dele para o município de Natércia.

Depoimentos - O uso da tortura para forçar confissões foi confirmado por Marco Aurélio Braz, condenado a 21 anos de prisão por latrocínio e posteriormente inocentado. Ele contou como foi preso por quatro detetives e torturado por eles e pelo delegado Pedro Luís Aguiar, então em Três Corações, até que confessasse o assassinato de um vigia. Marco Aurélio ficou preso por mais de três anos, até que um homem, preso por estupro, confessou o crime. O caso foi confirmado pelo defensor público José Martins, que encaminhou à Comissão de Direitos Humanos mais de dez declarações de tortura prestadas ao corregedor Joel Gomes de Oliveira, em dezembro de 2001. "Até hoje os torturadores e os que abusam da autoridade estão lá, esperando prescrever o crime", ressaltou.

Daniel Alves da Silva Filho apresentou-se como testemunha do desaparecimento de uma carga roubada e apreendida pelo delegado Pedro Luís Aguiar. Segundo ele, os ladrões que viu descarregando um carregamento de sapatos foram os mesmos presos pela Polícia Federal posteriormente, quando um caminhoneiro foi assassinado. Daniel Alves da Silva Filho disse que esses presos tinham regalias como telefones e mulheres e que a fuga deles foi facilitada com a participação da mulher de um dos carcereiros. Ele também relatou o espancamento e morte de um preso, José Carlos Rodrigues Rocha, por falta de atendimento médico.

Frank dos Reis Terra e Fabrício Aparecido da Silva também foram ouvidos e confirmaram os espancamentos e ameaças que sofreram para confessar crimes, quando ainda eram menores de idade. Problemas semelhantes foram relatados por presos como Pedro Carneiro Filho, Daniel Alves da Silva Filho, André Domingos e Adriano Cássio Barbosa. A comissária de Menores Maria da Conceição Pereira e o comerciante Luís Cláudio Soares também apresentaram denúncias contra o delegado e policiais de São Gonçalo do Sapucaí.

Perplexidade - Após os depoimentos das testemunhas, os deputados federais Leonardo Matos e Orlando Fantazzini disseram estar perplexos com os relatos e frisaram que a prática de tortura em delegacia de Polícia não é um caso pontual, mas um comportamento disseminado em todo o Estado. Fantazzini, que é ex-presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, informou que no ano passado enviou diversos ofícios à Secretaria de Segurança de Minas Gerais e à Corregedoria do Polícia, cobrando apuração das denúncias contra os policiais de São Gonçalo do Sapucaí, mas nenhuma providência foi tomada. Ele cobrou punição exemplar para policiais culpados de crimes de tortura, como forma de inibir tal prática.

José Francisco da Silva, ouvidor de Polícia de Minas Gerais, entregou à Comissão uma relação com todas as denúncias que chegaram à Ouvidoria contra o delegado e demais policiais de São Gonçalo do Sapucaí. José Fernandes Pacheco, militante de Direitos Humanos, e Heloíza Greco, do Movimento Tortura Nunca Mais, também manifestaram indignação com as denúncias dos abusos praticados pelos policiais e disseram que a tortura é uma prática institucionalizada no País, e que o Estado tem se mostrado impotente para mudar essa situação. Welington Barbosa, representante do corregedor de Polícia, assegurou que em 20 dias as denúncias estarão apuradas. Segundo ele, a Corregedoria não tem sido omissa com relação às denúncias de desvios policiais, e que vários casos apurados têm se transformado em processos judiciais.

Requerimentos aprovados - Na reunião desta segunda-feira (24), a Comissão aprovou os seguintes requerimentos:

* Do deputado Roberto Ramos (PFL), solicitando o afastamento do delegado Pedro Luís Aguiar e de outros policiais da comarca de São Gonçalo do Sapucaí;

* Do deputado Célio Moreira (PL), pedindo à Corregedoria de Polícia Civil informações sobre a apuração das denúncias envolvendo o delegado e demais policiais;

* Do deputado Durval Ângelo (PT), propondo a realização de audiência pública da Comissão em São Gonçalo do Sapucaí e de visita às delegacias daquela cidade e de Três Corações;

* Do deputado Durval Ângelo, pedindo urgência na transcrição das notas taquigráficas da reunião;

* Do deputado Durval Ângelo, solicitando que a Comissão de Ética da OAB/MG apure a conduta de advogados de Três Corações e São Gonçalo do Sapucaí;

* Do deputado Durval Ângelo, pedindo ao procurador-geral de Justiça que investigue os motivos que levaram a ex-promotora de Justiça de São Gonçalo do Sapucaí a recomendar o arquivamento das denúncias contra o delegado Pedro Luís Aguiar.

Presenças - Participaram da reunião os deputados federais Leonardo de Matos e Orlando Fantazzini, da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, que recebeu as primeiras denúncias contra o delegado Pedro Luís Aguiar. Também participaram da reunião os deputados Durval Ângelo (PT), presidente; Roberto Ramos (PFL), vice-presidente; Célio Moreira (PL); Mauro Lobo (PSB); Marília Campos (PT) e Dalmo Ribeiro Silva (PPB).

 

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