Camponeses do Norte de Minas denunciam violência
Três líderes da Liga dos Camponeses Pobres do Norte
de Minas denunciaram ontem à tarde (11/3/2003), na Sala de Imprensa
da Assembléia, a expulsão violenta de 30 famílias sem-terra que
haviam invadido a Fazenda Rio Verde, em Jaíba, no dia 3 de março
último. Mostrando cartuchos de armas de grosso calibre, que teriam
sido recolhidos após o conflito, Manoel Serapião, Gérson Lima e
Manoel Luciano revelaram que um bando de 40 pistoleiros, reforçado
por policiais civis e um cabo reformado da PM, destruíram pertences
e queimaram barracos, a mando de latifundiários. A reação patronal
estaria de acordo com a promessa do novo presidente da Sociedade
Rural de Montes Claros, Alexandre Viana, de formar milícias armadas
"para responder a ilegalidade com ilegalidade". Apesar dos prejuízos
materiais, ninguém saiu ferido do conflito.
A Liga dos Camponeses Pobres do Norte de Minas
surgiu há oito anos, arregimentando 1.500 famílias de trabalhadores
sem-terra que invadiram gradativamente áreas devolutas do Projeto
Jaíba, num antigo assentamento da Companhia de Desenvolvimento do
Vale do São Francisco (Codevasf). Sem condições de pagar as altas
contas de água do Distrito de Irrigação do Jaíba, as famílias
tiveram suas ligações cortadas e hoje se dedicam à agricultura de
subsistência - arroz, feijão, milho, mandioca, banana e cebola.
"As terras lá são devolutas", assegura Manoel
Serapião. "Os fazendeiros já aproveitaram o que podiam: tiraram toda
a madeira, aproveitaram os financiamentos baratos da Sudene, e agora
os sem-terra estão se aproximando e invadindo". Ideologicamente, os
membros da Liga dos Camponeses Pobres se diferenciam do Movimento
dos Sem Terra (MST), pela disposição pacífica de ocupar terras
improdutivas. "Nós entramos sem armas, e partimos para a Justiça, e
não para a guerra", explica Manoel Serapião.
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