Depoimentos reforçam suspeita de abuso policial em Raposos

A morte de um rapaz em Raposos, Jovito Alves Coelho, que teria sido provocada por abusos de policiais militares, foi ...

11/12/2002 - 16:03
 

Depoimentos reforçam suspeita de abuso policial em Raposos

A morte de um rapaz em Raposos, Jovito Alves Coelho, que teria sido provocada por abusos de policiais militares, foi tema da reunião desta quarta-feira (11/12/2002) da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia de Minas. O presidente da Comissão, deputado Márcio Kangussu (PPS), lembrou que a denúncia sobre a morte de Jovito foi feita pela vice-prefeita de Raposos, a mulher e mãe da vítima na reunião do dia 27 de novembro. "Resolvemos convidar novamente as três mulheres e as autoridades envolvidas para tentar esclarecer a opinião pública em relação, ao que parece, um excesso de violência e de abuso de autoridade por parte de policiais militares", explicou o deputado.

Na tentativa de esclarecer o que ocorreu na noite do dia 24 de novembro em Raposos, foram ouvidos, na reunião desta quarta-feira, a vice-prefeita de Raposos, Nancy Pereira Souto Descarpontriez; o comandante do destacamento da Polícia Militar de Nova Lima, major Geraldo Magela; o presidente da Associação Comunitária dos Bairros Turma e Vila Bela, Aguinaldo Petrônio da Silva; Cláudia Elias Silva, viúva de Jovito; e a mãe da vítima, Efigênia Coelho.

Nos depoimentos, a denúncia de que Jovito Alves Coelho foi espancado, algemado e morto a tiros foi confirmada pela mãe e a mulher da vítima e pelo presidente da Associação Comunitária. Segundo ele, o incidente começou quando duas viaturas da PM foram ao bairro para atender um chamado de uma moradora reclamando que sua casa estava sendo apedrejada. Aguinaldo conta que depois que os policiais fizeram a ocorrência, voltaram ao local e encontram Jovito, sua mulher, filha e amigos voltando de uma comemoração. "A polícia achou que eles tinham apedrejado a casa e deram voz de prisão. Eles reagiram, mas isso não é motivo para a polícia atirar", criticou Aguinaldo.

A mãe do rapaz, Efigênia Coelho, contou que o filho foi agredido com tapas e socos por vários policiais militares que o algemaram. Ela disse que a nora, Cláudia Elias Silva, foi até sua casa e, gritando, disse que estavam batendo em Jovito. "Fui até lá e achei meu filho machucado, algemado, com as mãos para trás. Quando fui pegar a carteira dele, os policiais me bateram no braço e me jogaram no chão. Aí eu desmaiei", lembrou, aos prantos, a mãe do rapaz.

O depoimento da viúva de Jovito, Cláudia Elias Silva, também foi marcado pela emoção. Chorando, lembrou o momento em que os policiais começaram a bater no seu marido, quando ela foi para casa, pois estava muito nervosa. "Quando cheguei em casa, ouvi o tiroteio e depois eu só vi meu marido voltar para casa dentro de um caixão. E agora, como vou criar minha filha de dois meses, sem o pai?", perguntou, muito abalada.

Requerimentos - Durante a reunião foram aprovados dois requerimentos do deputado Edson Rezende (PT) solicitando que seja encaminhado ofício ao comandante-geral da Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG) e ao delegado de polícia de Raposos, pedindo informações sobre a apuração da morte de Jovito Alves Coelho; e solicitando ao comando-geral da PMMG informações sobre o processo de promoção dos oficiais daquela corporação.

"Jovito morreu sem saber por quê"

Aguinaldo Petrônio da Silva, presidente da Associação Comunitária dos Bairros Turma e Vila Bela destacou, em seu depoimento, que os vizinhos disseram aos policiais que Jovito Alves Coelho e seus amigos nada tinham a ver com o apedrejamento. Mas, mesmo assim, de acordo com Aguinaldo, Jovito e um amigo foram espancados e algemados e que Jovito recebeu três tiros. Segundo ele, a informação da PMMG de que o policial atirou em legítima defesa não procede, porque o médico que atendeu Jovito no Posto de Saúde afirma que o rapaz chegou algemado e ensangüentado. "Jovito morreu sem saber por quê", atestou.

Aguinaldo disse ainda que foi pressionado pelos policiais militares a confessar que estava participando do apedrejamento. "Eles me bateram com crueldade querendo que eu confessasse e falasse uma coisa que eu não sabia. Eles queriam que eu dissesse onde estava o rapaz que tinha um revólver e teria efetuado os disparos contra os policiais", afirmou.

Segundo o major Geraldo Magela Pereira, comandante do Destacamento da Polícia Militar de Nova Lima, houve luta antes da troca de tiros e que o policial só atirou porque já tinha sido baleado por alguém que estava com uma arma. "Abrimos um processo administrativo para ver se houve exagero e o caso está sendo apurado por um delegado da polícia civil". O major ressaltou ainda que a justiça vai avaliar o caso e, se constatarem falhas, os responsáveis serão punidos.

Esse veredicto da justiça está sendo aguardado pela vice-prefeita de Raposos, Nancy Souto: "queremos justiça para a família de Jovito e decência para a cidade". Ela reclamou como o município é tratado com descaso por alguns policiais. O deputado Sargento Rodrigues (PDT) defendeu a busca da clareza e transparência em relação à morte do rapaz, mas lembrou que faz parte do trabalho da polícia abordar as pessoas e que os policiais devem ser obedecidos. "O cabo que efetuou os disparos contra Jovito estava baleado e acuado. Temendo pela sua vida, ele revidou e disparou. Situações como esta não deveriam ocorrer, mas o policial reagiu porque foi atingido", ressaltou.

Já o deputado João Leite (PSB) perguntou ao major Geraldo Magela Pereira se ainda existe o projeto de Polícia Comunitária da PMMG. Segundo ele, esse projeto seria um instrumento importante para melhorar a segurança pública em Raposos já que, no incidente da morte de Jovito, o presidente da associação comunitária também foi espancando. "Seria bem melhor que os policiais conhecessem as pessoas da comunidade, principalmente seus líderes", ponderou João Leite. O major respondeu que este projeto está em andamento e que seus policiais conhecem as pessoas da comunidade. No caso da morte de Jovito, ele disse que os policiais não conheciam o presidente da associação comunitária do bairro porque existem muitas na região.

Presenças - Participaram da reunião os deputados Márcio Kangussu (PPS), presidente; Edson Rezende (PT); João Leite (PSB); e Sargento Rodrigues (PDT).

 

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