Omissão é uma das principais causas de fugas de presos, aponta CPI

Falta de integração entre os órgãos responsáveis pela segurança pública, superlotação de presídios, mistura de presos...

11/12/2002 - 21:39
 

Omissão é uma das principais causas de fugas de presos, aponta CPI

Falta de integração entre os órgãos responsáveis pela segurança pública, superlotação de presídios, mistura de presos de alta e baixa periculosidade, omissão de autoridades e contratação de carcereiros em regime precário. Essas são algumas das causas das constantes fugas e rebeliões nas penitenciárias mineiras, diagnosticadas pela CPI do Sistema Prisional, que encerrou seus trabalhos nesta quarta-feira (11/12/2002), com a aprovação do relatório final. O documento, fruto de um ano de investigações e reuniões em que foram ouvidos detentos, autoridades e funcionários de presídios, faz um diagnóstico do sistema prisional mineiro e contém recomendações e sugestões para resolver os problemas das penitenciárias.

A CPI constatou que a falta de integração entre os órgãos competentes é um grande entrave ao funcionamento dos presídios, pois não há troca de informações nem atuação conjunta, e em muitos casos, ocorre duplicidade de ações. Esse problema foi constatado pela comissão na relação entre as polícias Civil e Militar e entre as secretarias de Estado de Segurança Pública e Justiça e a de Direitos Humanos. Outro problema apontado pela CPI é a deficiência de comunicação entre esses órgãos. "Eles não têm conhecimento do que se passa nos presídios, o que possibilita aos dirigentes crer que tudo vai muito bem", diz o relatório.

Relatório critica modelo de penitenciárias para mais de 600 presos

Como causas específicas das rebeliões, o relatório lista a falta de infra-estrutura adequada, más condições de trabalho dos agentes carcerários, atendimento médico precário, deficiência na assistência jurídica e demora na análise dos processos de progressão de regime. Outra causa é a política de transferência de presos em grupos, o que facilita sua articulação. O documento final também critica o modelo das penitenciárias José Maria Alkimin e Nelson Hungria, ambas com capacidade para mais de 600 presos. "Essas penitenciárias vêm funcionando mais como escolas do crime do que como estabelecimentos para ressocialização", diz o relatório.

Já as fugas decorrem principalmente da omissão de funcionários e diretores de presídios, além da própria Secretaria de Estado de Justiça e Direitos Humanos, segundo o relatório. A CPI constatou também que o número insuficiente de agentes penitenciários e as constantes transferências de detentos também propiciam fugas e resgates. Outro problema é a proibição de os agentes de segurança andarem armados durante as escoltas.

O relatório critica também a contratação de servidores do sistema prisional a título precário. "Dessa forma, eles não podem se voltar contra ato ilegal da Secretaria de Justiça, pois terão seus contratos encerrados", diz o relatório. Além disso, segundo o relatório, a manutenção de presos sentenciados em cadeias, sob responsabilidade da Secretaria de Segurança Pública, é outra causa de fugas.A CPI não conseguiu provas sobre o envolvimento de juízes e promotores nos esquemas de facilitação de fuga.

Comissão recomenda aprovação da PEC 87

Uma das soluções para a crise no sistema prisional mineiro apontadas pela CPI foi a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 87/2002, do deputado Sargento Rodrigues (PDT), que integra os comandos das polícias Civil e Militar subordinando-as a uma única secretaria. Sugere-se ainda a transferência dos presos sentenciados das cadeias para as penitenciárias, a construção de novos presídios com capacidade máxima de 170 detentos, o fim do pernoite de crianças e adolescentes nas unidades prisionais e a retirada dos telefones públicos da José Maria Alkimin.

Além disso, a comissão propõe a instalação de enfermarias nos presídios para evitar o deslocamento de presos, o reforço nas revistas diárias para evitar a entrada de drogas e armas nas prisões, a realização de batidas constantes sem conhecimento prévio dos detentos e a instalação de bloqueadores de celulares. Sugere ainda a valorização da corregedoria da Polícia Civil, como forma de garantir a apuração de irregularidades, a estruturação da carreira de agente penitenciário e punição para os servidores que participarem dos esquemas de facilitação de fuga.

Relatório cita envolvidos em fugas

Os nomes de alguns envolvidos nos esquemas de facilitação de fugas foram listados no relatório. Entre eles, estão o atual diretor da José Maria Alkimin, o coronel da PM Isaac de Oliveira e Souza, ex-diretores desta mesma penitenciária e ainda da José Edson Cavalieri. Aparecem na lista também detetives, agentes de segurança e delegados.

O relatório final da CPI vai ser enviado para diversos órgãos públicos, entre eles o governo do Estado, secretarias de Estado de Segurança Pública e de Justiça e Direitos Humanos, Ministério Público, Comando Geral da Polícia Militar, Tribunal de Justiça, Ministério da Justiça, Senado e Câmara dos Deputados.

Lei do silêncio - Criada a pedido do deputado Irani Barbosa (PSD), a CPI do Sistema Prisional iniciou seus trabalhos no dia 6 de dezembro de 2001, e teve o objetivo de apurar o funcionamento do sistema prisional de Ribeirão das Neves e verificar a possível participação do poder público no esquema de facilitação de fugas e tráfico de drogas dentro dos presídios mineiros.

Foram ouvidos detentos, agentes carcerários, detetives, delegados e diretores de presídios. Alguns depoimentos tiveram de ser secretos, pois as testemunhas temiam represálias. Como o relator da comissão, deputado Luiz Tadeu Leite (PMDB), aponta no relatório final, a CPI teve dificuldades em obter informações por causa da "lei do silêncio".

Convocado para explicar as causas da rebelião ocorrida na Penitenciária José Maria Alkimin no dia 4 de novembro, o diretor do presídio, coronel da PM Isaac de Oliveira e Souza, disse que não houve rebelião e causou indignação entre os deputados. A última convidada ouvida foi a secretária de Estado de Justiça e Direitos Humanos, Ângela Pace, que não explicou as causas de fugas e rebeliões nos presídios sob sua responsabilidade.

Presenças - Participaram da reunião os deputados Ermano Batista (PSDB, presidente); Dilzon Melo (PTB); Luiz Tadeu Leite (PMDB); Alberto Bejani (PFL) e Irani Barbosa (PSD).

 

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