Falta de repasses à saúde pode gerar processo contra Estado

De um lado, um Estado falido que não cumpre preceitos constitucionais. De outro, entidades e órgãos que exigem os rep...

26/11/2002 - 18:44
 

Falta de repasses à saúde pode gerar processo contra Estado

De um lado, um Estado falido que não cumpre preceitos constitucionais. De outro, entidades e órgãos que exigem os repasses previstos em lei. Esta foi a tônica da audiência pública realizada nesta terça-feira (26/11/2002), pela Comissão de Saúde da Assembléia Legislativa de Minas Gerais, para analisar a falta de investimentos na área de Saúde. O Conselho Estadual de Saúde ameaçou entrar com uma ação judicial contra o Estado. A reunião teve a participação de representantes das Secretarias da Fazenda e da Saúde, do Ministério Público, do Tribunal de Contas, do Colegiado dos Secretários Municipais e do Conselho Estadual da Saúde.

Em sua exposição, o deputado Adelmo Carneiro Leão (PT), autor do requerimento que pediu o encontro, desafiou o Ministério Público, o Tribunal de Contas e os Conselhos a tomar medidas para que a situação da Saúde não se agrave ainda mais. "Não vamos ficar fazendo reuniões eternamente, para ouvir o Estado confessar que não aplica o que determina a Constituição, enquanto as pessoas estão morrendo". O deputado adiantou que deve entrar também com uma ação judicial contra o Estado. Pela Emenda 29/2000 à Constituição Federal, os Estados são obrigados a aplicar 9,5% de recursos arrecadados com impostos na Saúde.

Déficit de receitas - Dados apresentados pelo representante da Secretaria da Fazenda, Flávio Riani, secretário-adjunto de Administração Financeira mostram que, de janeiro a outubro deste ano, foram repassados para a Saúde somente 5,14% da receita arrecadada de R$ 6,9 bilhões, ou R$ 355 milhões, quando o repasse deveria ter sido de cerca de R$ 675 milhões. Riani garantiu que a não aplicação de recursos não atinge somente esse setor, mas outros como Segurança e Justiça.

Flávio Riani explicou que o descumprimento da exigência constitucional é conseqüência da situação financeira do Estado. Segundo ele, a arrecadação com ICMS, que representa 70% da receita do Estado, caiu drasticamente no ano passado, com o racionamento e não voltou a subir. "Tínhamos uma expectativa de arrecadação inicial de ICMS este ano de R$ 800 milhões e não passamos de R$ 700 milhões. O ICMS não dá para cobrir nem a folha de pagamento". Além dos fatores externos, como a crise do racionamento, Riani destacou também os pagamentos da dívida que cresceram de R$ 500 milhões por ano até 1998, para R$ 1,5 milhão depois de 1999.

A receita básica do Estado é de R$ 825 milhões mensais. A folha de pessoal consome R$ 620 milhões, o pagamento da dívida R$ 130 milhões, e mais despesas diversas com terceirizados, fundos, saúde, gerando uma despesa total de cerca de R$ 925 milhões, ou seja, um déficit mensal de R$ 100 milhões, "sem incluir o 13º salário do funcionalismo, que elevaria o déficit para R$150 milhões".

A expectativa do encontro de contas entre o governo Federal e o Estado, é de que sobre alguma coisa para o setor, informou a representante da Secretaria da Saúde, Wânia Maria Pinto da Cunha, superintendente de Planejamento, para quem a "secretaria tem feito todos os esforços para conseguir recursos". A representante do Tribunal de Contas, Maria do Carmo Freitas disse que o tribunal está atento às prestações de contas e tem detectado a não aplicação constitucional na Saúde "colocando isto em seus relatórios desde 2000".

Entidades exigem cumprimento da Emenda 29

O representante do Colegiado dos Secretários Municipais de Saúde (Cosems), Felipe Karam, afirmou que o descumprimento do repasse dos 9,5% tem gerado uma sobrecarga para os municípios, "pois os convênios não são pagos e as cidades têm que cumprir sua parte". O presidente da Comissão, deputado Cristiano Canedo (PTB), lembrou que a situação é mais preocupante nos municípios menores. "Estes ficam obrigados a aplicar até 30% na área de Saúde, já que o repasse feito pelo SUS (Sistema Único de Saúde), é insuficiente. Com isso, outros serviços como saneamento, calçamento, lazer ficam prejudicados". Karam cobrou o pagamento dos convênios assinados no ano passado com as prefeituras e não pagos, usados apenas para "maquiar a contabilidade do Estado".

O Conselho Estadual de Saúde não aprovou as contas da Secretaria da Saúde, encaminhada em outubro, por causa da não aplicação dos 9,5%. Segundo o representante do Conselho, Nicodemus de Arimatéia e Silva Júnior, o que o Estado repassou ao Fundo de Saúde até outubro foi somente 1/4 do previsto. "Ou seja, como vai pagar os restantes 3/4 até dezembro?", questionou. O Conselho aprovou alguns procedimentos, segundo o presidente da Coordenação Sindical, Renato Barros, caso não seja repassado o que é devido ao fundo. Entre eles, uma ação judicial contra o Estado. "O gestor da saúde tem de ser a Secretaria da Saúde e não a da Fazenda".

Troca de bebês - Na primeira parte da reunião foi aprovado parecer de 2o, turno do Projeto de Lei (PL) 2.089/2002, do deputado Miguel Martini, que torna obirgatória a adoção de medidas de segurança contra a subtração e a troca de recém-nascidos em maternidades do Estado. O projeto prevê o uso de uma identificação magnética que seja detectável nas saídas dos estabelecimentos, bem como a reserva de exames de sangue das mães e dos bebês por 20 anos, para facilitar uma identificação futura, em caso de troca de crianças.

Presenças - Participaram da reunião os deputados Cristiano Canedo (PTB), presidente; José Braga (PMDB); Adelmo Carneiro Leão (PT) e Jorge Eduardo de Oliveira (PMDB).

 

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