População de Santa Luzia não quer Apac em área de preservação

Com dezenas de moradores de Santa Luzia lotando as galerias do Plenário, a Comissão de Meio Ambiente e Recursos Natur...

21/11/2002 - 17:21
 

População de Santa Luzia não quer Apac em área de preservação

Com dezenas de moradores de Santa Luzia lotando as galerias do Plenário, a Comissão de Meio Ambiente e Recursos Naturais discutiu nesta quinta-feira (21/11/2002) a construção de uma Associação de Proteção e Assistência ao Condenado (Apac) no Alto da Maravilha. Última área verde preservada naquela cidade, o Alto da Maravilha é uma mata fechada, situada no entorno da Área de Proteção Ambiental (APA) Carste, em Lagoa Santa. Também conta com quatro nascentes de água que abastecem o Rio das Velhas. A construção da cadeia foi iniciada sem licenciamento ambiental, apenas uma autorização da Prefeitura de Santa Luzia. Aí é que está o problema.

De acordo com o diretor de atividades de infra-estrutura da Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam), André Wagner Ribeiro, a Secretaria de Estado da Justiça e Direitos Humanos (SEJDH) consultou o órgão antes de iniciar as obras da Apac, que ocuparia uma área de 63 mil m². "Estão sujeitos ao licenciamento ambiental apenas os empreendimentos com área maior que 10 hectares, o que não é o caso da prisão. Mas por estar no entorno da APA Carste, seria necessário consultar o Ibama. Foi essa a resposta que demos à SEJDH", afirmou.

O Ibama, por sua vez, só tomou conhecimento da construção da Apac após o início das obras, no dia 8 de outubro deste ano, por meio de denúncia dos moradores de Santa Luzia. Só então foi feito um estudo para identificar os possíveis impactos da ocupação do Alto da Maravilha. Segundo o representante do Instituto, Ivson Rodrigues, o solo da região é cascalhento, o que facilita a erosão. Além disso, o lançamento de esgoto não tratado pode comprometer a área verde e contaminar as nascentes de água. "Pedimos à SEJDH o licenciamento e uma justificativa para a construção da cadeia naquele local. Descobrimos que o projeto tinha apenas uma licença da prefeitura, que não tem competência para isso." Diante dessa irregularidade, o Instituto pediu o embargo das obras um dia após o seu início. Ivson Rodrigues, porém, não soube dizer de quem seria a responsabilidade pelo licenciamento - se do Ibama ou da Feam.

Projeto de cadeia recebe críticas

O engenheiro da unidade técnica do Comitê da Bacia do Rio das Velhas, João Bosco Senra, criticou duramente a construção da cadeia no Alto da Maravilha. "Minas Gerais tem liderado a revitalização do Rio São Francisco, com a construção de estações de tratamento de esgoto e aterros sanitários. Projetos como esse vêm no sentido oposto, contribuindo para degradar ainda mais as nossas águas. É um verdadeiro atentado à vida".

O coordenador das curadorias do Meio Ambiente e da Bacia dos rios das Velhas e Paraopeba, Carlos Eduardo Dutra Pires, também disparou críticas no mesmo tom. "Sugiro que, em vez de uma cadeia, construa-se uma ala para prender as pessoas que sistematicamente vêm cometendo crimes ambientais", disse, referindo ao prefeito de Santa Luzia, Carlos Alberto Parrillo Calixto. Segundo o promotor, Santa Luzia é a cidade com a maior quantidade de problemas ambientais, entre os 80 municípios sob responsabilidade de sua curadoria. "E o chefe do Poder Executivo é o maior agressor em Santa Luzia", afirmou.

O prefeito não foi poupado pela presidente da Organização Social e Ambiental de Santa Luzia (Osasal), Terezinha Morais Simões, que também atacou a Secretaria de Estado da Justiça e Direitos Humanos (SEJDH) e a Câmara Municipal. "Em uma audiência pública, a população disse não à cadeia, mas a SEJDH desconhece o sentimento do povo. E nossos vereadores são marionetes, a Câmara é apenas uma extensão da prefeitura. A população espera que as autoridades aprendam a respeitar as leis ambientais".

As críticas à Câmara Municipal foram rebatidas por seu presidente, o vereador Antônio Teixeira da Costa. "Não aceito que sejamos chamados de marionetes. A comunidade quer mais segurança, mas ninguém quer arcar com o ônus. Onde vamos colocar os presos? No quintal do vizinho? Se a obra é ilegal, basta transferi-la para outro lugar." O vereador lembrou que a Prefeitura de Santa Luzia havia oferecido um terreno às margens da BR 262 para construção da cadeia, mas a área foi rejeitada pela SEJDH.

Requerimentos aprovados

A Comissão aprovou dois requerimentos. Um, do deputado Fábio Avelar (PTB), pede que seja enviado ofício à SEJDH solicitando a suspensão imediata das obras da Apac de Santa Luzia, até que sejam resolvidas as questões de ordem ambiental. Outro, do deputado Miguel Martini (PSB), solicita que seja enviado ofício ao Conselho de Política Ambiental (Copam), para que informe se a construção da Apac está em conformidade com as exigências do licenciamento ambiental, e que sejam tomadas as providências necessárias ao embargo das irregularidades, caso existam.

Presenças - Participaram da reunião os deputados Fábio Avelar (PTB); Miguel Martini (PSB); e Maria José Haueisen (PT).

 

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