Comissão vai intermediar discussões sobre criação de Apac

A Comissão de Direitos Humanos da Assembléia irá atuar como intermediária das negociações entre o governo do Estado, ...

20/11/2002 - 18:49
 

Comissão vai intermediar discussões sobre criação de Apac

A Comissão de Direitos Humanos da Assembléia irá atuar como intermediária das negociações entre o governo do Estado, o Poder Executivo de Vespasiano e a comunidade do município, para a resolução da polêmica sobre a construção de uma Associação de Proteção e Assistência ao Condenado (Apac) na cidade. A decisão foi tomada durante a audiência pública da Comissão realizada na noite de terça-feira (19/11/2002), na Câmara Municipal de Vespasiano.

Na reunião, foram ouvidos representantes da comunidade do município de Vespasiano, da prefeitura e da Infraero. A moradora do bairro Jardim Itaú, Margarete Jelnini Machado, explicou que a Itaú Companhia Portland havia doado um terreno para o Estado no bairro Célvia, em Vespasiano, para a construção da Apac. No entanto, antes do início das obras foi verificado que o local era inadequado, devido à existência de um paiol de explosivos. Segundo Margarete Machado, o prefeito de Vespasiano, Carlos Murta, teria resolvido transferir a construção da unidade prisional para o bairro Fagundes. Ela afirmou que a realização da obra no bairro Fagundes também é ilegal, porque não existe uma permuta que determine a doação do terreno pela Itaú ao Estado e também não há nenhum registro de nova doação de imóvel na Procuradoria do Estado. "A Apac é uma obra do governo estadual que está sendo feita com falhas administrativas", declarou Margarete Machado.

Irregularidades

Carla Daniele Fagundes, moradora do bairro Fagundes, onde está sendo construída a Apac, apontou outras irregularidades na construção da unidade no local. Segundo ela, a obra não poderia ser naquela região, pois trata-se de uma Área de Preservação Ambiental (APA) permanente do Ibama. Além disso, a construção não prevê a passagem de nível exigida pela linha férrea ali existente. De acordo com Carla Fagundes, no local da obra não existe rede de esgoto e o tamanho do terreno - 5 mil m² - é inadequado.

O coordenador de segurança aeropurtuária do Aeroporto do Confins, Mílton Campos Siqueira, representante do presidente da Infraero, declarou que a construção de uma unidade prisional no bairro Fagundes fere a segurança do Aeroporto de Confins, devido à sua próxima localização do sítio aeroportuário. Para o coordenador, um tumulto na Apac poderia colocar em risco os passageiros e os funcionários do Aeroporto de Confins. Mílton Siqueira disse também que existe um acordo internacional que proíbe a existência de unidades penitenciárias a curta distância de áreas aeroportuárias para a segurança da população.

Segurança - A questão da segurança dos moradores do bairro Fagundes foi abordada pelo presidente da Comissão do bairro Célvia, Ney Antônio de Miranda. Segundo ele, a população correrá risco, já que a Apac está sendo construída a menos de um quilômetro de área residencial. O deputado João Leite (PSB), autor do requerimento que deu origem à audiência pública, lembrou que a Lei Estadual 12.936 estabelece que a construção de qualquer unidade penitenciária deve ser precedida de parecer do Ministério Público quanto à localização e à capacidade do número de detentos que deve ser menor ou igual a 170, a fim de evitar superlotações.

POPULAÇÃO PEDE CONHECIMENTO SOBRE A APAC

A falta de informação sobre o que é a Associação de Proteção e Assistência ao Condenado também foi tratada durante a audiência pública da Comissão de Direitos Humanos. O pároco do bairro Morro Alto (de Vespasiano), Frei Gilson, disse que o Estado deveria ter promovido um debate com a população local sobre a obra, para que as pessoas pudessem se manifestar. Segundo ele, o conhecimento da comunidade é fundamental para que a Apac seja bem sucedida, já que ela é uma instituição que depende do voluntariado.

Margarete Machado, do bairro Jardim Itaú, endossou a opinião do religioso. A representante do bairro Fagundes, Carla Daniele Fagundes, deixou claro que a comunidade não é contra a construção da unidade penitenciária em Vespasiano, só não é a favor de que ela seja feita no bairro Fagundes. Segundo ele, no município existe uma grande área rural, que pode ser doada para a construção da unidade. Ela fez um apelo à Comissão de Direitos Humanos para que intervenha junto ao Estado, a fim de que as obras sejam paralisadas até que a população seja esclarecida sobre o projeto e seja encontrado um novo local, mais adequado, para a sua construção.

O deputado João Leite sugeriu que o primeiro passo encaminhar o problema deve ser uma conversa entre o prefeito de Vespasiano, os vereadores e a comunidade local. A procuradora do município, Edite Bueri Nacif, afirmou que encaminhará a proposta junto ao prefeito e reiterou que a construção da Apac é responsabilidade do Estado, e não do município.

O deputado Márcio Kangussu (PPS), presidente da Comissão, concordou que a população deveria ter sido melhor informada pelo governo do Estado e afirmou que, nesse caso, "o bom senso terá que prevalecer para que não haja prejuízos futuros". O deputado Fábio Avelar (PTB) afirmou que a população de Vespasiano tem que reconhecer que a construção da Apac será uma grande obra para o município e que é a conscientização da comunidade é fundamental para o sucesso do projeto.

O deputado Irani Barbosa (PSD) criticou a forma como o Estado tem organizado o sistema penitenciário de Minas Gerais. "A construção de penitenciárias tem sido feita de forma desordenada pelo governador Itamar Franco", declarou. Ele disse também que acredita que será difícil paralisar as obras da Apac, já que elas estão sendo feitas sob decreto de urgência.

O QUE É UMA APAC

Ao contrário de uma penitenciária tradicional, uma Associação de Proteção e Assistência ao Condenado (Apac) é uma instalação de menor capacidade, na qual os detentos são chamados de "recuperados" e participam das decisões administrativas que afetam o cotidiano da prisão. Eles participam de projetos que prevêem a sua reinclusão na sociedade, como a prestação de serviços em fábricas, manutenção de hortas e trabalhos artesanais.

A comunidade local também pode participar da administração das Apacs, desenvolvendo trabalhos voluntários, como assistência médica e religiosa aos recuperados. Esse tipo de unidade penitenciária surgiu em 1972, em São José dos Campos (SP), chegando a Minas Gerais em 1985, com a instalação da Apac de Itaúna. Segundo a Fraternidade Brasileira de Assistência aos Condenados, a Apac apresenta índice de reincidência de apenas 7 %.

Visita - Carla Daniele Fagundes convidou os deputados presentes a participarem da visita que uma comissão representante da comunidade de Vespasiano fará ao presidente da Assembléia, deputado Antônio Júlio (PMDB), nesta quinta-feira (21/11/2002), às 9 horas, para tratar do assunto.

REQUERIMENTOS

Em reunião da Comissão de Direitos Humanos desta quarta-feira (20/11/2002), foram aprovados três requerimentos do deputado Fábio Avelar e um do deputado João Leite sobre a polêmica da instalação da Apac em Vespasiano, discutida em audiência pública. Os requerimentos solicitam que:

- seja enviado ofício à Infraero, solicitando informações sobre a existência de alguma proibição legal de ordem nacional ou internacional com relação à construção de unidade prisional no município de Vespasiano, no bairro Fagundes, uma vez que a área situa-se próxima ao sítio aeroportuário do Aeroporto Internacional de Confins;

- seja enviado ofício à Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, solicitando informações sobre a existência de estudos de impactos ambientais para a implantação de uma Apac no município de Vespasiano, no bairro Fagundes. O requerimento solicita, ainda, com emenda do deputado João Leite, que seja enviado ofício ao Instituto Estadual de Florestas (IEF), para que o órgão se manifeste a respeito da implantação de uma unidade prisional, no bairro Fagundes do município de Vespasiano, em vista da construção da existência de mananciais próximos á área;

- seja enviado ofício ao IBAMA, solicitando informações sobre a existência de alguma autorização deste órgão para a construção de unidade prisional no bairro Fagundes, no município de Vespasiano, por se tratar de área de preservação ambiental permanente;

- seja enviado ofício à Secretaria de Estado da Justiça e Direitos Humanos, solicitando a realização de convênio com o município de Vespasiano, visando ao atendimento da população por Defensor Público na Comarca desse município.

Presenças- Participaram da audiência pública os deputados Márcio Kangussu (PPS), presidente da Comissão de Direitos Humanos; João Leite (PSB), autor do requerimento que deu origem à reunião; Fábio Avelar (PTB) e Irani Barbosa (PSD). Também compareceram os vereadores de Vespasiano Milton Fonseca Carvalho e Mário Ferreira da Silva; a procuradora-geral do Município, Edite Bueri Nacif; o coordenador de segurança aeroportuária do Aeroporto de Confins, Milton Campos Siqueira; presidente da Comissão de bairro Célvia, Ney Antônio de Miranda; o pároco do bairro Morro Alto, Frei Gilson; e as moradoras do bairros Fagundes e Jardim Itaú, Carla Daniele Fagundes e Margarete Jelnini Machado, respectivamente.

 

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