Depoimento do diretor de penitenciária à CPI é inconsistente

Um depoimento marcado pela cautela ou pelo desconhecimento, que carece de consistência e padece de coerência. Assim o...

19/11/2002 - 21:20
 

Depoimento do diretor de penitenciária à CPI é inconsistente

Um depoimento marcado pela cautela ou pelo desconhecimento, que carece de consistência e padece de coerência. Assim o presidente da CPI do Sistema Prisional, deputado Ermano Batista (PSDB), definiu a fala do coronel da PM Isaac de Oliveira e Souza, diretor-geral da Penitenciária José Maria Alkimin, na reunião da comissão desta terça-feira (19/11/2002). O coronel foi convocado para prestar esclarecimentos sobre a rebelião na penitenciária localizada em Ribeirão das Neves, ocorrida no início desse mês, quando 16 agentes e um médico se tornaram reféns dos presos, e sobre denúncias da existência de armas brancas e telefones e televisores na penitenciária.

O coronel se defendeu, alegando que não foi evasivo e que estava na CPI para dizer a verdade. "Não estou em posição de confronto e não fui omisso". Ele também respondeu ao deputado Alberto Bejani (PFL), que o definiu como péssimo administrador e uma pessoa que não assume sua má administração perante a CPI. "Não sou mau administrador e exerci todos os cargos com tranqüilidade", rebateu. Para o deputado Ermano Batista, o coronel foi omisso, viu os fatos acontecerem na penitenciária e não tomou providências.

O que ocorria no interior da penitenciária foi revelada em uma operação de busca realizada no dia 4 de novembro, quando foram recolhidos das celas televisores, celulares e telefones. Segundo o diretor-geral da penitenciária, cada detento tem direito apenas a um rádio, um toca-fita e um aparelho de TV de até 14 polegadas. Ele disse que os aparelhos encontrados foram recolhidos e lacrados, mas não soube explicar, quando questionado pelo deputado Luiz Tadeu Leite (PMDB), como aconteceu a entrada desses equipamentos. Para isso, levantou três hipóteses: de a entrada ter sido feita por cima do muro da penitenciária, por intermédio de visitas ou por intermédio de funcionários.

Os deputados presentes questionaram o diretor-geral, Isaac de Oliveira, sobre o motivo de seu escritório ficar na casa 29, localizada fora da penitenciária. Ele disse que, quando assumiu a direção em janeiro deste ano, o escritório já estava instalado na casa, mas informou que tem um gabinete dentro da penitenciária. "Não tenho e não tive jamais medo de entrar na penitenciária. Hoje tenho controle total lá", afirmou.

Segundo o diretor-geral, a penitenciária tem atualmente 483 detentos cumprindo pena em regime fechado, 178 em regime semi-aberto e 10 em regime de segurança máxima. "Até o dia 4 de novembro eu não tinha controle total. Hoje tenho", reforçou. Ele explicou que, antes disso, os agentes penitenciários não tinham acesso a muitos locais, e os presos movimentavam-se livremente no interior da penitenciária. "Ontem, completaram-se 15 dias que os recuperandos em regime fechado estão dentro das celas", disse.

Outra irregularidade apresentada na reunião foi a existência de telefones públicos no interior da penitenciária, utilizados livremente pelos presos. O diretor-geral afirmou que quatro telefones foram desativados e apenas dois estão sendo utilizados pelos detentos, quando a direção autoriza.

Diretor afirma que não houve rebelião na penitenciária

O diretor-geral da Penitenciária José Maria Alkimin, Isaac de Oliveira e Souza, causou indignação nos deputados presentes na reunião da CPI do Sistema Prisional ao afirmar que o que ocorreu na penitenciária no início deste mês não foi rebelião. Em virtude dessa declaração, o deputado Alberto Bejani solicitou a apresentação da reportagem exibida na TV Alterosa sobre a rebelião, quando houve disparos, desentendimentos entre os agentes penitenciários, e uma mulher foi encontrada dentro do local, afirmando estar lá há uma semana, com autorização da direção.

Os deputados questionaram se o disparo ocorreu no interior da penitenciária, mas o diretor-geral não soube responder, assim como não soube opinar se os reféns foram trocados por parentes de presos, já que não participou das negociações. "Ouvi o disparo, mas não se sabe de onde veio. Em relação à mulher, a Corregedoria está apurando", alegou. O diretor-geral também não sabe quantos presos se rebelaram. E o deputado Sargento Rodrigues (PDT) ponderou: "se o diretor-geral não sabe informar quantos se rebelaram, fica complicado".

Comandante da 7ª Região da PMMG também foi ouvido

No segundo depoimento da reunião da CPI, o comandante da 7a Região da PMMG, Sócrates Edgard dos Anjos, afirmou que os reféns não foram maltratados e que não havia indícios de que a rebelião teria sido planejada. "Quando pedimos a lista de exigência para liberar os reféns, os presos fizeram de improviso. Parecia que não havia uma liderança na rebelião", disse. O comandante da PM também ressaltou que a cidade de Ribeirão das Neves tem mais de 300 policiais e não 240, como disse o deputado Irani Barbosa (PSD).

No decorrer do depoimento do diretor-geral da Penitenciária José Maria Alkimin, Isaac de Oliveira e Souza, o presidente da CPI, deputado Ermano Batista, questionou se os presos gostam da penitenciária porque podem sair quando bem entendem e ainda têm um álibi para cometer crimes. "Se isso ainda acontece, é por conta dos maus servidores e não com minha autorização. Não compactuo com as irregularidades", defendeu-se Oliveira, que assumiu a direção da penitenciária em janeiro.

Também na penitenciária há denúncias de que existem grupos de presos que detêm o poder de comando no interior do complexo. Para o diretor-geral, não existem grupos mandando lá dentro, mas confirmou a existência de representantes dos detentos que são escolhidos pelo diretor de Segurança. Durante o depoimento, também foi apresentada outra reportagem exibida pela TV Globo, no mês de fevereiro, mostrando que os presos saíam tranqüilamente da penitenciária e retornavam no final do dia. Segundo o diretor-geral, foram tomadas providências em relação às fugas. Os fatos estão sendo apurados pela Corregedoria, acrescentou

Requerimento - Durante a reunião, foi aprovado requerimento do deputado Edson Rezende (PT) solicitando que o pastor Roberto Luiz da Silva, membro do Conselho da Comunidade da Vara de Execuções Criminais, seja ouvido na próxima reunião da CPI do Sistema Prisional. Também foi desconvocada a reunião marcada para esta quarta-feira (20).

Secretária - Na reunião da próxima terça-feira (26), a CPI do Sistema Prisional vai ouvir a secretária de Estado da Justiça e Direitos Humanos, Ângela Pace.

Presença - Participaram da reunião os deputados Ermano Batista (PSDB), presidente; Luiz Tadeu Leite (PMDB), relator; Alberto Bejani (PFL), relator auxiliar; Edson Rezende (PT); Sargento Rodrigues (PDT); Ailton Vilela (PTB); e Irani Barbosa (PSD).

 

 

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