Alta rotatividade de profissionais prejudica Programa Saúde da Família

A Comissão de Saúde reuniu, nesta terça-feira (19/11/2002), representantes dos médicos e do setor público para discut...

19/11/2002 - 22:00
 

Alta rotatividade de profissionais prejudica Programa Saúde da Família

A Comissão de Saúde reuniu, nesta terça-feira (19/11/2002), representantes dos médicos e do setor público para discutir os problemas relacionados à contratação de profissionais que atuam no Programa Saúde da Família (PSF), criado pelo Ministério da Saúde em 1994. Em Minas, que possui o programa em 666 dos 853 municípios, com um total de 2.177 equipes, uma das principais dificuldades é a falta de vínculos contratuais dos municípios para com os médicos e enfermeiros, que causa alta rotatividade desses profissionais. Essa foi a opinião de consenso entre os participantes.

"A média de permanência do médico em uma equipe do programa é de um ano, quando deveria ser de sete ou oito anos. No caso de enfermeiro, a média é de seis meses", afirmou a coordenadora do PSF da Secretaria de Estado da Saúde, Maria Rizoneide Negreiros de Araújo. Ela lembrou que a rotatividade é maior quanto menor o salário pago, ressaltando a diferença de faixa salarial paga em cada região do Estado. Em áreas pobres, como o Norte de Minas, a faixa salarial é superior à do Sul do Estado, região rica e que concentra grande número de faculdades de Medicina. Outro problema apontado pela coordenadora do programa é o descumprimento da jornada de trabalho de 40 horas.

O representante do Sindicato dos Médicos de Contagem e da Sociedade Mineira de Medicina da Família de Contagem, Carlos Eduardo Sampaio Correia, afirmou que o vínculo do médico de família em relação à comunidade é condição essencial para o bom desempenho do PSF. "Além de acompanhar a saúde das pessoas de forma contínua e integral, o médico dessa especialidade trabalha praticamente com dedicação exclusiva", completou, defendendo o preenchimento das vagas pela realização de concursos públicos para garantia dos direitos dos profissionais.

Ônus recai sob os municípios, argumentam convidados

"Os municípios não podem assumir o compromisso de realizar concursos públicos, pois hoje os gestores municipais não têm respaldo da Secretaria de Estado, arcando com a maior parte dos gastos. O incentivo do Ministério da Saúde cobre apenas 40% dos custos", opinou a presidente do Colegiado dos Secretários Municipais de Saúde, Myriam Araújo Coelho Tibúrcio. Segundo ela, a situação se agrava devido ao não-cumprimento, por parte do Estado, da Emenda à Constituição Federal nº 29, que assegura recursos mínimos para o financiamento das ações e serviços públicos de saúde: "A responsabilidade pelo financiamento é tripartite. Para piorar, o município ainda tem que promover a capacitação dos profissionais. Além dos médicos e enfermeiras, é necessário contratar psicólogos, assistentes sociais e agentes de saúde".

Além de estatutários, os médicos que trabalham no Saúde da Família têm contratos de celetistas, autônomos, temporários ou por meio de fundações, cooperativas e organizações. "Os municípios devem se encaixar na Lei de Responsabilidade Fiscal, daí a necessidade de fazer contratos temporários. Os prefeitos ainda se perguntam se o PSF é um programa ou de fato um plano permanente", completou o representante da Associação Mineira dos Municípios (AMM), Tadeu Mendonça, reforçando a idéia de que os municípios não recebem garantias de que o programa terá continuidade, dificultando os investimentos.

Ensino - O diretor financeiro do Sindicato dos Médicos, Nicodemus de Arimatéia, criticou a criação excessiva de cursos de Medicina, que acaba inserindo no mercado profissionais despreparados, e a dificuldade de especialização médica. "O médico da família precisa ter grande preparo, mas muitas vezes as vagas são ocupadas por profissionais recém-formados, que não conseguiram se especializar ou não foram aprovados na residência médica", afirmou.

Deputado sugere que entidades fiscalizem políticas do setor

Durante a reunião, o presidente da comissão, deputado Cristiano Canêdo (PTB), lembrou a importância do papel das regionais de saúde no andamento do Programa Saúde na Família. "Algumas regionais, por exemplo, exigem a separação física entre PSF e postos de saúde, por menores que sejam as cidades. É claro que as formas de trabalho das duas unidades são diferentes, mas nesses casos é possível economizar", afirmou.

O deputado Adelmo Carneiro Leão (PT) sugeriu à Comissão de Saúde organizar, a partir da próxima legislatura, um fórum de acompanhamento das políticas públicas de saúde, com a participação de todas as entidades ligadas ao setor. "O monitoramento das ações facilita a prevenção de problemas", afirmou.

Projetos - A Comissão de Saúde aprovou, em turno único, dois Projetos de Lei (PL). O PL 2.298/2002, do deputado José Henrique (PMDB), declara de utilidade pública a Fundação Hospitalar Mendes Pimentel. O PL 2.371/2001, do deputado Alberto Pinto Coelho (PPB), declara de utilidade pública a Fundação Instituto Clínico de Juiz de Fora. Os relatores foram os deputados José Braga (PMDB) e Adelmo Carneiro leão (PT).

Presença - Participaram da reunião os deputados Cristiano Canêdo (PTB), presidente da comissão, Jorge Eduardo de Oliveira (PMDB) e Adelmo Carneiro Leão (PT), além dos seguintes convidados: coordenadora do Programa Saúde na Família e Agentes Comunitários da Saúde da Secretaria de Estado da Saúde, Maria Rizoneide Negreiros de Araújo; presidente do Colegiado dos Secretários Municipais de Saúde do Estado, Myriam Araújo Coelho Tibúrcio; diretor do Sindicato dos Médicos, Nicodemus de Arimatéia; representante da Associação Mineira dos Municípios, Luiz Tadeu Mendonça; e representante do Sindicatos dos Médicos de Contagem, Carlos Eduardo Sampaio Correia.

 

 

 

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