Secretária e coronéis serão convocados pela CPI do Sistema
Prisional
A secretária de Estado de Justiça e Direitos
Humanos, Ângela Pace; o coronel Sócrates Edgard dos Anjos,
comandante da 7ª Região da Polícia Militar de Minas Gerais; e o
coronel Isaac de Oliveira e Souza, diretor da Penitenciária José
Maria Alkmim, em Ribeirão das Neves, serão convocados a prestar
depoimento na CPI do Sistema Prisional. Eles haviam sido convidados
pela Comissão Parlamentar de Inquérito para a reunião desta
terça-feira (12/11/2002), mas não compareceram.
Os deputados presentes - Ermano Batista (PSDB),
presidente da CPI; Luiz Tadeu Leite (PMDB), relator; Alberto Bejani
(PFL), relator auxiliar; Dinis Pinheiro (PL) e Irani Barbosa (PSD)
criticaram a ausência dos convidados. Para Ermano Batista, "a
omissão da Secretaria é patente". O deputado Luiz Tadeu Leite (PMDB)
chegou a considerar que tenha havido boicote à comissão por parte
dos convidados. Por isso, foram aprovados requerimentos do relator
auxiliar com a convocação, para a próxima reunião ordinária da CPI,
no dia 19 de novembro. A ausência sem justificação adequada
implicará crime de responsabilidade.
Em ofício enviado ao presidente da comissão, o
coronel Sócrates Edgard dos Anjos diz que esteve em viagem de
serviço a partir do dia 4 último e, por isso, só teve conhecimento
do convite na manhã desta terça-feira (12). "Não tive tempo
suficiente para me inteirar, amiúde, de todos os desdobramentos
decorrentes da rebelião deflagrada na Penitenciária José Maria
Alkmim e que tenham, possivelmente, motivado esse convite", explica.
O coronel, comandante da 7ª Região da PMMG, diz ainda que seria mais
apropriada e proveitosa "a manifestação dos atores envolvidos na
solução do(s) problema(s) de segurança pública, relacionados com o
funcionamento do sistema prisional do município de Ribeirão das
Neves".
Já o diretor-geral da Penitenciária José Maria
Alkmim, coronel Isaac de Oliveira e Souza, salienta em ofício que a
Corregedoria de Justiça da Secretaria de Estado de Justiça e
Direitos Humanos (SEJDH), por solicitação da diretoria, está
apurando os fatos, "não se conhecendo, ainda, dados plausíveis que
autorizem a formação de qualquer juízo". O coronel solicita, ainda,
que, sendo subordinado à secretária de Justiça, seja ela a convidada
a comparecer a reunião da CPI no futuro.
Ofício - Ao final da
reunião, foi lido ofício da juíza Luziene Medeiros do Nascimento
Barbosa, titular da Vara de Execuções Criminais de Ribeirão das
Neves. Ela justificou o não comparecimento alegando que, devido à
condição de juíza, só deve se manifestar através de "decisões no
âmbito de autos processuais que tramitam por esta Vara". Ela
apresentou, ainda, dados sobre sua atuação, desde 22 de março deste
ano, quando assumiu o cargo, e cópia da Portaria Correicional
01/2002, baixada após a rebelião na Penitenciária José Maria
Alkmim.
Agentes penitenciários contam sobre rebelião
Apesar do não comparecimento dos convidados
previstos, a reunião da Comissão Parlamentar de Inquérito foi
movimentada. Foram ouvidos dois agentes penitenciários que estavam
na Penitenciária José Maria Alkmim durante a rebelião ocorrida de 1º
a 3 de novembro. Também participaram da reunião representantes de
comitivas de Santa Luzia, na Região Metropolitana de Belo Horizonte,
e de Muriaé, na Zona da Mata, que protestavam contra a construção de
presídios naqueles municípios. Uma comitiva de Neves também
protestou contra a construção de estabelecimentos prisionais no
município. Houve tumulto envolvendo um grupo de funcionários de
penitenciárias no Salão de Chá da Assembléia.
Drogas e armas - O agente
penitenciário José Silvério Gomes emocionou-se ao relatar as
torturas e ameaças físicas e psicológicas a que foi submetido
durante a rebelião em Neves. Ele contou que foi amarrado em um
colchão, entre bujões de gás, e os presos ameaçavam explodir tudo.
Um dos detentos ameaçava matar a família de José Silvério caso
houvesse punição. Segundo o servidor público, as ameaças constantes
aos agentes contratados são levadas ao diretor, coronel Isaac.
Questionado pelo deputado Sargento Rodrigues (PDT),
José Silvério disse que cada um dos quatro pavilhões da
penitenciária tem três líderes, normalmente os mais "valentes", de
maior periculosidade. Ele reclamou da falta de diálogo da diretoria
com os agentes, dizendo que tudo o que aconteceu foi por causa dos
líderes de pavilhão.
Troca de turno - A troca de
turno dos agentes penitenciários é aproveitada pelos presos para
receber pacotes que são jogados por cima do muro, segundo José
Silvério Gomes e o agente Cristian Eduardo da Silva, também ouvido.
Eles contaram que os presos só são recolhidos às celas após as 20
horas, e quando começa a escurecer, na troca de turno, os pacotes
são jogados. Segundo Cristian, é impossível para dois agentes
impedirem a operação de cerca de 600 detentos e que o fato já foi
levado ao conhecimento da direção da penitenciária.
População protesta contra construção de
presídios
Rodolfo Tram Filho, de Santa Luzia, e Álvaro
Abrantes Cerqueira, de Muriaé, representaram comitivas daqueles
municípios que protestaram contra a construção de presídios. Eles
consideram que a comunidade foi enganada pela Secretaria de Estado
de Justiça, que teria oferecido a construção de uma unidade
prisional nos moldes da APAC, de Itaúna, quando na verdade pretendia
construir penitenciárias com 260 vagas. Rodolfo Tram Filho disse que
a construção em Santa Luzia foi embargada por não ter licenciamento
ambiental e ter sido iniciada em área de proteção ambiental. Álvaro
Cerqueira contou que a construção está mais adiantada, apesar do
protesto do Movimento Reage Muriaé, que reúne 35 entidades.
O deputado Cristiano Canêdo (PTB) lembrou que as
penitenciárias que estão sendo construídas contrariam a Lei
12.936/98, que limita a 170 o número de vagas em qualquer unidade
prisional de Minas Gerais. O deputado lembrou, ainda, que não há
licenciamento ambiental para a obra e disse que a penitenciária será
terceirizada. "Os moradores de Muriaé concordam com a construção da
APAC, mas não querem ser enganados", ressaltou.
Requerimentos aprovados
O deputado Alberto Bejani (PFL) apresentou
requerimento, aprovado pela CPI, para que o Ministério Público
requeira ao Poder Judiciário a interdição do Ceresp de Juiz de Fora,
tendo em vista a superlotação do estabelecimento prisional.
Do deputado Irani Barbosa (PSD) foram aprovados
dois requerimentos, um deles para que a Secretaria de Estado da
Justiça encaminhe à CPI a lista com os nomes dos detentos que foram
enviados para cumprir pena por tráfico de drogas no sistema
prisional de Ribeirão das Neves, nos últimos três anos, constando
possíveis alvarás de soltura ou modificação de suas penas. O outro,
para que seja solicitada à Telemar a conta detalhada de todos os
telefones fixos e públicos instalados na Penitenciária José Maria
Alkmim, nos últimos dois anos.
A CPI do Sistema Prisional foi criada a
requerimento do deputado Irani Barbosa (PSD) e outros. O objetivo é
apurar o funcionamento do sistema prisional de Ribeirão das Neves e
outros municípios, verificando a possível participação do Poder
Público, com grupos criminosos organizados, no esquema de
facilitação de fuga, tráfico de drogas, liberdade e soltura
extralegal.
Presença - Participaram da
reunião os deputados Ermano Batista (PSDB) - presidente; Luiz Tadeu
Leite (PMDB) - relator; Alberto Bejani (PFL) - relator auxiliar;
Dinis Pinheiro (PL); Márcio Kangussu (PPS); Irani Barbosa (PSD);
Sargento Rodrigues (PDT) e Cristiano Canêdo (PTB).
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