Público questiona pesquisadores e técnicos sobre
biotecnologia
O painel "Impactos da Biotecnologia na
Agroindústria", última atividade do Fórum Técnico "A Biotecnologia e
Você: Mitos, Verdades e Fatos", promovido nesta quarta-feira
(18/9/2002) pela Assembléia Legislativa de Minas, foi novamente
espaço para a defesa da biotecnologia e da engenharia genética. Já a
fase de debates revelou-se um momento de confronto de opiniões entre
aqueles que apóiam a produção de alimentos transgênicos e os que
indagam sobre seus efeitos e querem mais informações sobre os
organismos geneticamente modificados (OGMs).
Respondendo a perguntas da platéia, o representante
da Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig), Naftale
Katz, ponderou que em poucos minutos é impossível mostrar todos os
aspectos da biotecnologia - favoráveis e desfavoráveis. Ele tinha
sido questionado sobre os riscos à saúde que produtos modificados
poderiam provocar e argumentou que qualquer medicamento tem efeito
colateral e que é preciso saber o que é bom ou ruim na técnica para,
então, aplicá-la com cuidado. "A imprensa é mal orientada, muitas
vezes por culpa do próprio cientista ou por contra-informações cujo
objetivo é inviabilizar projetos", acrescentou o professor Roberto
Machado Silva, da Escola de Veterinária da Universidade Federal de
Minas Gerais (UFMG), em resposta à questão sobre as formas de mudar
o conceito ruim que os transgênicos têm atualmente.
A diretora da Sociedade Brasileira de Bioética,
Maria de Fátima Oliveira, também respondendo perguntas, afirmou que
a clonagem e a transgenia são biotecnologias rudimentares e
inseguras. Defendeu, portanto, que os cientistas informem mais sobre
o assunto a sociedade - que paga suas pesquisas - e não apenas
prestem contas a seus pares. "O fórum das empresas de biotecnologia
deve tirar a viseira e chamar a sociedade para o debate das
diferentes opiniões. Não se pode empurrar uma pseudo-verdade goela
abaixo", criticou. O deputado Edson Rezende (PT), por sua vez,
defendeu que a pesquisa em campo precisaria estar condicionada à
apresentação de estudo e relatório de impacto ambiental. "Por que as
empresas não fizeram isso e não querem fazer?", indagou. Ele
argumentou que, se o governo não consegue controlar os alimentos não
transgênicos, não teria como controlar os geneticamente
modificados.
Sindbio defende produção de transgênicos e mostra
resultados
O representante do Sindicato das Empresas de Base
Biotecnológica no Estado (Sindbio), Wilhelmus Uitdewilligen,
apresentou diversos números para demonstrar que a produção comercial
de alimentos transgênicos é sinônimo de maior produtividade,
conquista de mercados e mais receita para a agricultura. Ele
informou que 46% da soja cultivada no mundo é transgênica. No que
diz respeito ao milho, o índice é de 7%; ao algodão, 20%. Já a
canola transgênica corresponde a 13% do cultivo mundial. "Será que
esses produtores são burros?", disse, questionando o porquê da
dúvida quanto às vantagens desses produtos, se são cultivados em
larga escala e com resultados positivos.
Wilhelmus relacionou as diversas vantagens dos
transgênicos no controle das pragas. Entre elas, sua alta
eficiência, o fato de serem biodegradáveis e de não haver
necessidade de manuseio adicional. O expositor afirmou que, apesar
de a produção comercial ser ilegal, haveria 2 milhões de hectares
plantados com soja modificada no Rio Grande do Sul (índice de 60% a
70%). Em Goiás e no Maranhão, acrescentou, já se oferece soja
transgênica. Ele fez outra denúncia, afirmando que está sendo
proibido, sim, no Brasil o teste de produtos em campo, sob ameaça de
autuação do Ministério da Agricultura.
Preferência em dúvida - Ao
questionar a tese de que a Europa não quer produtos transgênicos, o
representante do Sindbio disse que 70% da soja cultivada nos Estados
Unidos é modificada e o índice chega a 95% na Argentina. E esses
produtos, acrescentou, continuam chegando à Europa. Os Estados
Unidos têm liberados, atualmente, 53 produtos transgênicos. Com
exceção de dois, 51 são desenvolvidos por empresas privadas. Os
transgênicos de importância comercial foram lançados em 1996 e têm,
portanto, pouco tempo de mercado. Essas informações também foram
repassadas por Wilhelmus Uitdewilligen.
Embrapa diz que resultados com transgênicos são
positivos
O chefe do Departamento de Pesquisa e
Desenvolvimento da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
(Embrapa), Maurício Antônio Lopes, também defendeu a produção de
transgênicos. Segundo ele, a empresa é a que mais desenvolve esforço
em biotecnologia no Brasil - e não as multinacionais. Informou que
há resultados positivos com mamão, milho, soja e feijão
transgênicos, entre outros. Lopes disse também que é um erro
restringir o uso da biotecnologia a esse tipo de produto. Há,
acrescentou, um conjunto novo de ferramentas, como a cultura de
tecidos e a bioinformática.
Crítica - Maurício Lopes
ponderou que tudo o que a população consome hoje é fruto de
modificação genética. A transferência de genes entre espécies
representa, segundo ele, uma modificação localizada e precisa no
genoma, ao contrário do melhoramento genético tradicional, onde a
mudança é massiva. O representante da Embrapa disse que nenhum dano
teria sido causado até hoje por produtos fruto da biotecnologia
moderna. "Não podemos permanecer em um debate embaçado, pouco
objetivo e centrado em muito pouco do que representa a
biotecnologia, senão estaremos perdendo tempo", criticou.
Referindo-se ao Brasil como a grande fronteira para
a expansão da agricultura no mundo, Maurício Lopes afirmou que o
País precisa aumentar a produtividade e a qualidade de seus
produtos, de forma sustentável, para competir no mercado global. A
biotecnologia e a tecnologia de informação seriam vertentes de
inovação importantes, portanto, para o agronegócio. "Se queremos nos
inserir no mundo globalizado, é preciso uma visão radicalista de
mudança. A sobrevivência e a competitividade estão reservadas a quem
inovará de forma segura e contínua", acrescentou.
Estudantes querem Conselho Regional de
Biotecnologia
Estudantes de biotecnologia apresentaram, ao final
do evento, moção de apoio à criação de um grupo de trabalho para
estudar a viabilidade legal de um Conselho Regional de
Biotecnologia. Na moção, lida em Plenário, eles defendem o
reconhecimento do biotecnologista e a definição do perfil e funções
desse profissional.
Palavra dos deputados - No
encerramento do fórum técnico, o deputado Eduardo Hermeto (PFL), que
coordenou o último painel, ressaltou que a Alemg sempre promoveu
debates de forma democrática, com a participação de todos os
segmentos envolvidos no tema abordado, sendo nacionalmente
reconhecida por esse motivo. Ele agradeceu, ainda, o Sindbio e a
Fiemg, parceiros na realização do evento. Já o deputado Edson
Rezende (PT) ponderou que nenhuma inovação tecnológica teve tanta
oportunidade de ser debatida como a biotecnologia. Para ele, esta
terça-feira (18/9) foi um momento importante.
Reprise e publicação no "Minas Gerais" - As notas taquigráficas do fórum técnico serão
publicadas no Diário Oficial "Minas Gerais/Diário do Legislativo" no
dia 5 de outubro. Já a TV Assembléia (canal 11 do sistema a cabo, em
Belo Horizonte) vai reprisar o evento nesta segunda-feira (23/9). A
partir das 8h30, a reprise é dos debates da manhã; e a partir das
14h20 é a vez da programação da tarde.
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