Fórum debate uso da biotecnologia e modelos de desenvolvimento

A defesa do uso da biotecnologia foi quase unânime no primeiro painel do Fórum Técnico "A Biotecnologia e Você: Mitos...

18/09/2002 - 18:58
 

Fórum debate uso da biotecnologia e modelos de desenvolvimento

A defesa do uso da biotecnologia foi quase unânime no primeiro painel do Fórum Técnico "A Biotecnologia e Você: Mitos, Verdades e Fatos", promovido nesta quarta-feira (18/9/2002) pela Assembléia Legislativa de Minas. O único questionamento foi do professor de Ecologia de Desenvolvimento Rural do Centro Universitário de Belo Horizonte (Uni-BH), Carlos Eduardo Mazzeto Silva, que criticou a necessidade de seguir políticas adotadas em outros países, principalmente os EUA. Para ele, o modelo daquele país é de "desenvolvimento insustentável". "O planeta não tem recursos ambientais disponíveis para acompanhar o ritmo do desenvolvimentismo proposto em nome de um capital global, sem qualquer referência ética", observou.

O exemplo dos Estados Unidos havia sido citado pelo pesquisador da UFMG e da Universidade de Harvard, Francisco Vidal Barbosa, que defendeu a importância da biotecnologia para o desenvolvimento econômico. Segundo ele, na década de 1990, mais de 60% dos empregos naquele país foram gerados por novas empresas, principalmente de biotecnologia. O professor destacou que os EUA são o maior país em geração de biotecnologia e outros, como Cuba, China, Canadá e Japão têm uma política de desenvolvimento do setor. "Se não priorizarmos a biotecnologia e investirmos, ficaremos para trás. A biotecnologia tem tudo a ver com prosperidade, novos empregos, segurança nacional, independência científica e tecnológica e desenvolvimento", defendeu.

Êxodo rural - Embora concordando com algumas considerações de Francisco Vidal, Carlos Eduardo Mazzeto Silva argumentou que essa é uma corrente desenvolvimentista. Especialmente sobre a geração de emprego, ele destacou que, entre 1985 e 1995, foram eliminados no Brasil 5 milhões de postos de trabalho na agricultura, e que na década de 1960 havia 27 milhões de pessoas nos centros urbanos. Hoje esse número é de 130 milhões. "É isso que acontece ao copiarmos modelos de desenvolvimento de outros países", contrapôs. "Não estamos resistindo à biotecnologia, mas sobre as questões éticas envolvendo a clonagem e os transgênicos. Quando a sociedade questiona, resiste sobres essas questões, ela está prezando pela cidadania. São perguntas feitas, sem respostas", completou.

Negócios e aplicações da biotecnologia

Francisco Vidal Barbosa, da UFMG e da Universidade de Harvard, explicou que a biotecnologia reúne um grupo de tecnologias relacionadas à manutenção de material biológico, visando a geração de novos produtos. As principais características atribuídas ao negócio são a necessidade de se intensificar a pesquisa, pensar um horizonte a longo prazo, ter uma indústria regulamentada e baseada na ciência e a dependência de pessoal altamente qualificado. "Desde que tenhamos uma preocupação com a capacitação, seremos capazes de chegar aonde quisermos", afirmou.

Francisco Vidal perguntou por que a biotecnologia não é questionada quando aplicada ao desenvolvimento de vacinas e drogas e somente aos alimentos. "Quando utilizam a biotecnologia para os alimentos todos ficam assustados. Não devem. Precisamos, sim, expor os fatos", ponderou. Ele citou o Estado de Massachusetts, nos EUA, como sucesso na aplicação de biotecnologia. Segundo Francisco Vidal, lá existe uma "Comunidade de Biotecnologia" que conta com apoio do governo, em interação com as universidades e as empresas. "Esses três setores sentam e discutem juntos, pensando na geração de empregos e riqueza. Gostaria que nossos políticos estudassem esse caso americano", sugeriu.

Potencial - Para aproveitar o potencial do Brasil e, em especial de Minas Gerais, Francisco Vidal Barbosa defende a interlocução entre governo, empresas e universidades, além do estímulo ao intercâmbio internacional entre empresários, empreendedores, cientistas e técnicos. Ele também considerou que é preciso definir áreas-foco para o desenvolvimento da biotecnologia, acessar as informações disponíveis na internet e qualificar a mão-de-obra. Para Minas Gerais, Francisco Vidal acrescentou que é preciso ter uma mudança cultural e um desenvolvimento de políticas regionais, específicas, de acordo com seus pontos fortes.

Potencial da biotecnologia em Minas Gerais

Minas Gerais é considerado o maior pólo potencial de biotecnologia na América Latina, segundo a presidente do Sindicato das Empresas de Base Biotecnológica do Estado de Minas Gerais (Sindbio), Hélen Aguiar Lima. Influem para isso, segundo ela, o clima, temperatura, altitude e localização estratégica no Brasil. Os dados apresentados por ela indicam que, das 5.500 empresas de biotecnologia do Brasil, 750 estão em Minas Gerais, produzindo 90 mil empregos diretos e um faturamento de R$ 3,5 bilhões, no ano passado.

Hélen Aguiar Lima lembrou que a biotecnologia é uma ferramenta estratégica, um vetor de desenvolvimento e, no caso de biofármacos, cosméticos e biomédica, Minas Gerais já é um estado desenvolvido, que deu visibilidade ao setor. "Alguma coisa está sendo feita, mas poderíamos fazer mais. No momento estamos procurando trabalhar com o apoio governamental e conseguimos a garantia de criar o Fundo das Empresas de Biotecnologia, cujo gestor será o BDMG", informou.

Educação - A importância do investimento em educação e esclarecimento também foi destacada pelo presidente da Federação da Agricultura do Estado de Minas Gerais (Faemg), Gilman Viana Rodrigues. "A educação é importante para a biotecnologia porque o empreendedor, o cliente precisa conhecer o que está fazendo, quais são seus riscos. Temos que escolarizar as pessoas para que elas possam lidar com a biotecnologia", acredita.

Histórico - O Fórum Técnico "A Biotecnologia e Você: Mitos, Verdades e Fatos", teve uma etapa de interiorização entre o final de agosto e início de setembro, quando aconteceram quatro reuniões em cidades-pólo do Estado: Passos (28/8), Montes Claros (30/8), Barbacena (4/9) e Uberaba (11/9). O Fórum é uma parceria entre a Assembléia Legislativa de Minas Gerais, o Sindicato das Empresas de Base Biotecnológica no Estado (Sindbio) e a Federação das Indústrias (Fiemg), além de organizações governamentais e não-governamentais e associações. Durante a etapa final, promovida nesta quarta-feira (18/9/2002), serão discutidos ainda os temas "Biotecnologia e aspectos legais"; "Impactos da biotecnologia na saúde"; "Impactos da Biotecnologia no meio ambiente" e "Impactos da biotecnologia na agroindústria".

 

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