Papel da mídia na defesa da criança e do adolescente é
discutido
A atuação e a responsabilidade da mídia na defesa
dos direitos da criança e do adolescente foram alguns dos temas
tratados na terceira mesa do Debate Público da Comissão de Direitos
Humanos "Eleições 2002: Legislar na Defesa da Infância e da
Juventude", nesta segunda-feira (16/9/2002), no Plenário da
Assembléia. O requerimento que deu origem ao debate é do deputado
Edson Rezende (PT).
O diretor de planejamento da Agência de Notícias do
Direito da Infância (Andi), Marcos Fucks, apontou a necessidade da
criação de uma ponte entre a sociedade civil e o jornalismo. Segundo
ele, para trazer à pauta questões da infância e do adolescente é
preciso que haja uma qualificação das fontes que possibilite a
melhoria da inserção do tema nos meios de comunicação. "Não queremos
uma cobertura de denúncia, factual, que simplesmente identifique a
realidade, e sim, matérias que busquem soluções, experiências que
sirvam de exemplo para a luta contra a violação dos direitos da
infância", afirmou. E, para que isso ocorra, Marcos Fucks sugere o
diálogo entre os meios, os conselhos, o poder público e demais
fontes: "Assim, podem ser analisados os indicadores sociais da
questão e traçadas estratégias que apontem soluções para a
deficiente abordagem do tema".
O diretor da ONG Oficina da Imagem, Luiz Guilherme
Queiroz, apresentou uma pesquisa realizada pela Andi sobre a
cobertura feita pela mídia das questões da infância e adolescência,
destacando a co-responsabilidade dos jornalistas e atores sociais.
"O jornalista está inserido na sociedade; se o jornal mostra uma
incompreensão sobre os temas da infância, isso é reflexo da
incompreensão de toda a sociedade", disse. Luiz Guilherme questionou
o currículo dos profissionais de comunicação que recebem uma
formação muito técnica, sem a preocupação com o exercício do seu
papel social, o que, na sua opinião, seria fundamental para ampliar
a qualificação e profundidade das coberturas jornalísticas.
A dificuldade de administrar interesses foi
apontada como causa da dificuldade das redações de tratar certos
temas, pelo editor do caderno "Gerais" do Estado de Minas, José Luiz
Longo. Segundo o jornalista, a redação vive dualidades que não são
compreendidas por quem está de fora. "A imprensa deve causar
indignação, denunciar, causar transformações na sociedade, mas o
jornalista não deve ser o agente destas transformações. Cabe ao ator
político ou social exercer este papel", afirmou.
"Fora da Rota"
A exclusão social sofrida pelas crianças e
adolescentes de baixa renda, em especial aquelas que vivem em vilas
e favelas, marcou a fala do representante da Rádio Favela, Misael
dos Santos. Ele afirmou que a população carente não tem acesso à
informação e que a cobertura da imprensa mineira não retrata a
realidade do jovem "favelado" e denigre a imagem das crianças e
adolescentes carentes. "Nós do morro não lemos jornal porque não se
entrega jornal na favela, estamos fora da rota. Quando somos
notícia, é feito sensacionalismo e só se fala da violência, mas não
dos problemas que geram a violência", disse ele. Para Santos, é
necessário que seja desenvolvida uma política "com P maiúsculo" para
essa faixa da população. "Essas crianças são vistas como problema,
mas elas são o futuro da cidade e precisam de atenção dos poderes",
acrescentou.
Na opinião do editor do MG TV, da Rede Globo, Paulo
Valadares, o trabalho da mídia em relação à defesa dos direitos da
criança e do adolescente é positivo. Segundo ele, depois do Estatuto
da Criança e do Adolescente, a responsabilidade e a consciência dos
profissionais da mídia foi ampliada, mas a relação dos jornalistas
com as fontes ligadas à defesa desses direitos dos jovens poderia
melhorar.
Meios de Comunicação Públicos
A sensibilidade para a questão das crianças e dos
adolescentes está presente nos trabalhos desenvolvidos pela
Assembléia Legislativa, de acordo com o gerente-geral de Rádio e TV
da Casa, Rodrigo Lucena. Ele afirmou que essa proximidade da
Assembléia com os grupos sociais faz com que o assunto esteja sempre
na pauta da TV Assembléia.
Para o presidente do Sindicato dos Jornalistas,
Aloísio Soares, cabe aos canais institucionais uma programação
voltada para a infância e juventude. "A TV, o rádio e o jornal
impresso do Estado têm a obrigação não só de fazer uma cobertura
institucional, mas de promover cultura e incentivar o exercício da
cidadania", disse ele. Soares destacou, também, as dificuldades
enfrentadas, atualmente, pelos jornalistas. Segundo ele, devido aos
cortes de pessoal realizados nas redações nos últimos anos, os
profissionais têm ficado sobrecarregados e não conseguem realizar
uma cobertura com profundidade.
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