Professores pedem agilidade aos deputados na aprovação do PLC 53

Os professores da rede pública estadual marcaram um prazo para a Assembléia Legislativa concluir a apreciação do Proj...

12/09/2002 - 09:50
 

Professores pedem agilidade aos deputados na aprovação do PLC 53

Os professores da rede pública estadual marcaram um prazo para a Assembléia Legislativa concluir a apreciação do Projeto de Lei Complementar (PLC) 53/2002, do governador, que dispõe sobre o Estatuto dos Profissionais da Educação Pública de Minas Gerais. Eles esperam que a votação do projeto esteja concluída até o dia 6 de outubro, para que o governo tenha tempo de enviar ao Legislativo, ainda antes do encerramento do ano, um novo projeto com a Tabela de Cargos e Salários da área da Educação, encerrando assim uma discussão que já dura mais de uma década.

Nesta quarta-feira (11/9/2002), mais de 500 servidores da área da Educação acompanharam a audiência pública da Comissão de Fiscalização Financeira e Orçamentária, presidida pelo deputado Mauro Lobo (PSB), para debater o PLC 53/2002. A reunião, realizada no Plenário da Assembléia, foi convocada a pedido do deputado Rogério Correia (PT), com os objetivos de sensibilizar os deputados para a tramitação mais ágil do projeto; e de obter do secretário de Educação, Murílio Hingel, esclarecimentos sobre alguns pontos do projeto, ainda divergentes em relação à demanda dos professores, visando alcançar um consenso para facilitar a sua tramitação.

Negociação - O secretário da Educação, Murílio Hingel, fez uma exposição dos principais pontos da proposta enviada pelo governo, que ele considera um avanço em relação ao Estatuto do Magistério, em vigor desde 1977. O coordenador-geral do Sind-UTE, Antônio Carlos Hilário, segundo expositor da reunião, destacou os pontos do projeto que estão em discordância com as reivindicações dos trabalhadores da área da Educação, argumentando em favor dos professores. Logo após a sua intervenção, o secretário voltou a defender a proposta do governo, mas ponderou que os pontos destacados pelo sindicalista são passíveis de negociação e não constituirão entrave para a tramitação do projeto.

A reunião foi encerrada no início da tarde, depois de um debate que se estendeu por mais de uma hora, com a participação dos professores e dos assessores da Secretaria de Estado da Educação que acompanhavam Murílio Hingel.

PROJETO CONSOLIDA E ESTENDE DIREITOS A TODOS SERVIDORES

O secretário de Estado da Educação, Murílio Hingel, iniciou sua exposição ponderando com os professores, que reivindicavam do governo a apresentação imediata da nova tabela de remuneração da área da Educação, que o PLC 53/2002 é muito mais abrangente que um Plano de Carreira. Isto porque trata de outras matérias que estão exigindo regulamentação para que o sistema da Educação funcione de forma mais eficaz.

A diferença começa, segundo o secretário, pelo próprio nome do documento contido na proposta: Estatuto dos Profissionais da Educação Pública do Estado de Minas Gerais. A legislação anterior enfocava apenas aqueles servidores do quadro do magistério. O novo estatuto engloba todos os servidores que atuam na educação, qualquer que seja o órgão de lotação e seja ele professor, servidor ou administrador de ensino público. Todos são reconhecidos como profissionais da Educação.

Ele destacou ainda a forma como o documento foi elaborado, com a participação dos segmentos diretamente envolvidos, em discussões iniciadas ainda em 2001. "A proposta encaminhada ao Legislativo incorpora todos os pontos consensuais desse debate e, naqueles itens sobre os quais não chegamos a um acordo, prevaleceu a posição do governo, como não poderia deixar de ser", ponderou o secretário. Para ele, esses pontos discordantes serão agora negociados, durante a tramitação do projeto.

Regulamentações - O secretário ressaltou que o PLC 53/2002 contém alguns dispositivos que, posteriormente, deverão ser regulamentados por lei, por decreto ou por resolução da Secretaria de Estado da Educação. "A tabela de remuneração é um exemplo. O projeto sendo aprovado e, a partir da sanção do Estatuto, o Poder Executivo terá um prazo de 60 dias para apresentar um novo projeto de lei, contendo a tabela de remuneração dos profissionais da Educação", citou ele.

A eleição de diretor de escola é outro dispositivo que terá de ser regulamentado. Atualmente, como os diretores exercem um cargo em comissão, não existe uma legislação que regule o processo eleitoral. A consulta à comunidade para escolha de diretores é uma prática, mas não regulamentada. Com o novo estatuto, os diretores passarão a exercer função gratificada, tornando possível o processo eletivo, mas exigindo, por outro lado, sua regulamentação. O secretário advertiu que essas e outras situações criadas pelo novo Estatuto terão necessidade de legislação complementar, e os servidores devem estar atentos para acompanhar a conclusão do processo.

AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO É UM DOS PONTOS POLÊMICOS

Uma das inovações da proposta do governo, destacada pelo secretário Murílio Hingel, é o processo de avaliação de desempenho previsto nos dispositivos que tratam da evolução na carreira. A avaliação será adotada como critério para o desenvolvimento do servidor tanto na progressão horizontal, quanto na promoção vertical. A avaliação será implementada por meio de uma Comissão Paritária Permanente, com a participação de representantes sindicais e titulares indicados das Secretarias de Estado da Educação e de Recursos Humanos e Administração e será feita individualmente pelo servidor, pela chefia imediata e pelo Colegiado das Escolas.

Mas se esta é uma das inovações importantes do novo Estatuto, segundo o secretário, é também um ponto polêmico, na avaliação dos professores. No caso da progressão horizontal, a avaliação de desempenho é pertinente, mas, na promoção vertical, os professores questionam a legitimidade do processo. A promoção vertical é a passagem do servidor de um nível para o imediatamente superior dentro de uma mesma classe de cargos. Isso ocorrerá periodicamente, por força da formação, titulação e tempo de serviço do servidor e, agora, também pela avaliação de desempenho.

"Esse é um aspecto contraditório da proposta, pois, se o projeto reconhece a titulação como um bom critério para o servidor ter direito à promoção e se, para obter essa titulação, o servidor já passou por um processo de avaliação, qual é o sentido de mais uma nova etapa de averigüação?", indagou o coordenador-geral do Sind-UTE, Antônio Carlos Hilário. O secretário ponderou, no entanto, que esse critério terá de ser regulamentado de alguma forma. Se não for por um processo de avaliação, será por algum outro instrumento, pois a conclusão de um curso não poderá garantir automaticamente o acesso à promoção vertical. "Teremos de avaliar a qualidade desse curso e a adequação do seu conteúdo às atividades do servidor", esclareceu ele.

A progressão horizontal ocorrerá pela mudança do grau do cargo do nível em que o servidor se encontra para o grau subseqüente, no mesmo nível, de acordo com o tempo de serviço e avaliação de desempenho. Assim, para ter esse direito, o servidor deverá, entre outros critérios, estar no efetivo exercício do cargo; cumprir o intervalo de três anos no mesmo grau; e ter recebido avaliação de seu desempenho que recomende a progressão. A proposta do governo é de 10 graus para progressão e acréscimo de 5% a cada mudança.

O coordenador-geral do Sind-UTE explicou que o servidores, nesse caso, não questionam a avaliação de desempenho, mas defendem a manutenção da progressão a cada dois anos, que é uma das poucas conquistas dos educadores, e um acréscimo de 8% a cada progressão, numa tabela de 15 graus. O secretário Murílio Hingel não questionou a reivindicação dos professores e argumentou apenas que o critério adotado pela Secretaria, para fixar esse intervalo de três anos, obedeceu a um raciocínio lógico. "Ao final de 30 anos, quando o servidor estiver em condições de se aposentar, ele terá tido a possibilidade de incorporar à sua remuneração 100% da sua base salarial. Mas essa não é uma questão fechada nem pretendemos promover um retrocesso, portanto é um ponto para negociarmos", disse ele.

PROFESSORES QUESTIONAM MUDANÇAS NA JORNADA DE TRABALHO

A proposta do novo estatuto dos profissionais da educação pública promove ainda algumas alterações na jornada de trabalho dos servidores, fixando em 24 horas semanais a jornada para os professores, sendo 18 horas para regência e 6 horas para planejamento e avaliação; e 40 horas semanais para diretores, pedagogos, ajudante de serviços gerais, auxiliar de secretaria e bibliotecário. Os professores reivindicam uma jornada de 22 horas para os professores; 22 horas para pedagogos e analistas de educação especial, podendo se estender a 40 horas semanais com dedicação exclusiva; e 30 horas para ajudante de serviços gerais, auxiliar de secretaria e bibliotecário.

O secretário Murílio Hingel explicou que, durante a fase de implantação do novo estatuto, ocorrerão algumas situações transitórias para as quais haverá a possibilidade de opção pelos servidores. "Nesse período teremos professores regidos pelo sistema anterior e professores que estarão ingressando já sob o novo regime. Assim, para ajustarmos essas condições, os servidores antigos terão a oportunidade, dentro de um determinado prazo ainda a ser regulamentado, de fazer a opção pelo novo regime", explicou ele, citando como exemplo o caso dos supervisores pedagógicos.

Pelo regime em vigor, a carga horária desses profissionais é de 24 horas semanais e, pelo novo estatuto, ela se estenderá por 40 horas semanais, com remuneração correspondente. Para o secretário, nesse caso, a mudança foi importante para garantir o bom funcionamento da escola. Mas, no caso dos auxiliares de secretaria e ajudantes de serviços gerais, a mudança poderá ser rediscutida.

SERVIDORES VÃO PRESSIONAR PELA VOTAÇÃO DO PROJETO

O coordenador-geral do Sind-UTE, Antõnio Carlos Hilário, alertou os deputados para o fato de que os professores estão dispostos a acompanhar, das galerias dos Plenarinhos da Assembléia, toda a tramitação do PLC 53/2002, até a sua votação final. Ele justificou a pressão dos professores como uma forma de garantir que a proposição esteja aprovada até o início do próximo mês, viabilizando o envio e apreciação do novo projeto, com a tabela de remuneração dos servidores da área da Educação, ainda neste ano.

Para ele, os valores da atual tabela salarial dos professores são um desestímulo para a categoria e precisam ser urgentemente revistos, de forma a resgatar a dignidade dos educadores. Ele pediu também que os recursos aplicados na Educação sejam classificados pelo Estado como investimento e não como gasto. "Se é necessário avançarmos socialmente com o nosso projeto de educação, é importante que o Estado considere a aplicação desses recursos como investimento que dará frutos no futuro", afirmou o sindicalista.

PROFESSORES COBRAM NOVA TABELA DE SALÁRIOS

Durante a fase de debates, os profissionais da área da Educação de diversas regiões do Estado e deputados questionaram o secretário-adjunto da Educação, Agamenon José Siqueira, sobre vários aspectos do PLC 53/2002. Agamenon Siqueira substituiu o titular, Murílio Hingel, que teve de se ausentar do Plenário em função de outros compromissos.

Questionado sobre a ausência da tabela de salários na proposta enviada pelo governador e sob a pressão dos professores nas galerias, ele explicou que a elaboração da tabela leva em conta seu impacto financeiro sobre os gastos do governo. Segundo o secretário-adjunto, se o projeto sofrer alterações na Assembléia, esse impacto poderá ser alterado, gerando novas despesas para o Estado. Além disso, o prazo de 60 dias para o envio dessa proposta, estipulado após o fim da greve dos professores no semestre passado, seria pequeno para realizar todos os cálculos da nova tabela.

O deputado Rogério Correia (PT) mostrou preocupação com a demora na aprovação do plano de carreira da Educação. Com o intuito de agilizar os trabalhos, ele se candidatou ao cargo de relator do projeto na Comissão de Administração Pública. Correia afirmou que, em dois dias, no máximo, estaria em condições de entregar o relatório, pois já está acompanhando a situação dos professores há mais tempo. Sobre os prazos regimentais para a tramitação do PLC 53/2002, contendo o Estatuto dos Profissionais da Educação Pública do Estado, o parlamentar disse que, como se trata de um projeto de lei complementar, os prazos são contados em dobro, sendo de 40 dias para cada comissão. "Mas, com a mobilização da categoria, é possível reduzir esses prazos para poucos dias", enfatizou.

Curso superior - Os professores estaduais, ansiosos com a demora na aprovação do projeto, aproveitaram o espaço concedido pela Assembléia para manifestar sua indignação em relação aos rumos da Educação no Estado e no Brasil. A professora Ana Maria, representante de Juiz de Fora, criticou a exigência, que estaria prevista no novo estatuto, de curso superior para todos os professores. Para ela, muitos deles não têm condições financeiras de pagar faculdade e, às vezes, são obrigados a viajar para outras cidades para estudar.

O secretário-adjunto, Agamenon Siqueira, contestou a afirmação, dizendo que não se trata de uma imposição a todos professores, mas essa condição garantirá um ganho salarial para aqueles que tiverem o curso superior concluído. Segundo o secretário, desde a greve de 1979, os professores reivindicam que o professor seja remunerado com base na sua formação e não de acordo com o nível de ensino em que atue. Para Siqueira, trata-se de uma conquista que o governo estadual está proporcionando a toda a categoria. Finalizando, o secretário disse estar empenhado, junto com o Sind-UTE e os professores, na aprovação, com urgência, do projeto.

OS PRINCIPAIS PONTOS DO NOVO PROJETO

Além da mudança conceitual, que engloba não apenas os professores, mas todos os profissionais que atuam dentro do Sistema da Educação, a proposta do novo Estatuto dos Profissionais da Educação Pública traz outras inovações. Entre elas, destacam-se as seguintes:

* Cria incentivo ao trabalho na zona rural e nas áreas urbanas consideradas de alto índice de vulnerabilidade social

*Define regras para a progressão na carreira

* Garante a consulta à comunidade para escolha das funções de diretor e vice-diretor de escola

* Define e reconhece a gestão democrática da escola

* Institui o contrato de gestão para diretores e vice-diretores de escolas

* Cria o sistema de avaliação de desempenho dos profissionais

Presenças - Participaram da reunião os deputados Mauro Lobo (PSB), que a presidiu; Rogério Correia (PT), Doutor Viana (PMDB), Arlen Santiago (PTB) e Ivair Nogueira (PMDB).

 

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