Projeto de JK reposicionou o Brasil no cenário mundial

O reconhecimento da importância da administração de Juscelino Kubitschek para a consolidação do processo de moderniza...

04/09/2002 - 19:38
 

Projeto de JK reposicionou o Brasil no cenário mundial

O reconhecimento da importância da administração de Juscelino Kubitschek para a consolidação do processo de modernização do Brasil foi a tônica das palestras apresentadas no primeiro painel do Ciclo de Debates "Os anos JK", promovido pela Assembléia Legislativa de Minas Gerais, nesta quarta-feira (04/09/2002). O deputado Wanderley Ávila (PPS), que presidiu e coordenou os trabalhos, destacou, na abertura do evento o espírito empreendedor de Juscelino Kubitschek, que, por onde passou, deixou uma obra de referência para os futuros governos.

O deputado ressaltou que "as restrições que se fazem ao ex-presidente, especialmente na área econômica, relacionam-se a "efeitos colaterais" de sua obsessão pelo desenvolvimento, como a dependência do capital externo, o aumento dos índices inflacionários e a pouca atenção dada ao meio rural e à política agrária. Contudo, ninguém pode lhe negar o espírito arrojado, a clarividência, a confiança no futuro e o otimismo, com os quais contagiou toda a nação brasileira. Nem a habilidade política, a capacidade de negociação e o espírito conciliador, graças aos quais conseguiu afastar as crises durante todo o seu mandado. Nem a inabalável vocação democrática, marca que cultivou durante toda sua trajetória pública".

O coordenador dos debates esclareceu que o objetivo do ciclo de debates, que se insere nas comemorações do centenário de nascimento de Juscelino Kubitschek, promovidas pela Assembléia Legislativa de Minas, é resgatar um pouco da memória desse estadista, na visão diversificada de historiadores, cientistas políticos, economistas e professores que se dedicaram ao estudo de sua vida e obra.

Projeto modernizante modificou BH, Minas e o Brasil

A historiadora Lucília Almeida Neves, professora da PUC-Minas, destacou o espírito inovador de JK que predominou em suas administrações, da prefeitura de Belo Horizonte, do governo de Minas, e da presidência do Brasil. Em cada um destes momentos, JK foi responsável pela implantação de um projeto modernizante que transformou a cidade, o estado e o país que governou. Ela observou, no entanto, que o culto do moderno, vigente nos anos 50, não impediu a manifestação de uma outra face de Juscelino, voltada para a valorização das tradições.

"Ele foi o nosso "presidente Bossa Nova", mas era também conhecido como um grande seresteiro e o "pé de valsa" que movimentava os salões. Ele foi o construtor de Brasília e também tinha uma política de valorização dos museus" - citou a professora, ressaltando que, com essas iniciativas, Juscelino resgatava a história do país e suas origens, fazendo uma ponte com o novo projeto que estava em construção.

Lucília Neves ponderou, no entanto, que o sucesso do projeto modernizante de JK não quer dizer que este não contivesse também suas contradições e os movimentos sociais que surgiram nessa época - o sindicalismo, as ligas camponesas, uma oposição política organizada - são alguns dos sinais evidentes dessa outra dimensão dos anos 50.

Fosso social não foi superado por JK

O cientista político, Fábio Wanderley Reis, segundo expositor do painel da manhã, destacou a habilidade de Juscelino Kubitschek de atender a uma multiplicidade de interesses antagônicos, criando entre eles uma convergência que os deslocava para um segundo plano, acomodando as suas possíveis divergências. Este centro agregador se encontrava em torno do seu projeto de desenvolvimento nacional. Mas o professor Fábio Wanderley ressaltou que essa tensão consorciativa tinha limites, desenhados pelo grande fosso social existente no país e que permaneceu ao final do seu governo até os nossos dias.

Bailarino - Para o professor do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj), Luiz Jorge Werneck Viana, era essa habilidade que o permitia desviar dos temas mais espinhosos, evitando enfrentá-los de frente e de criar situações de conflito. Ele afirmou que a tentativa de JK foi a de recriar o país por meio da articulação da economia e da política, "de fazer uma revolução sem revolução", que o permitisse fugir da polarização numa fuga a frente. "Mas ele não eliminou impasses políticos institucionais, contornou-os como um bailarino, deslocou a oposição e instalou o centro do seu projeto em um outro lugar" - afirmou o professor, frisando que JK não enfrentou também o legislativo, mas desviou-se habilidosamente dele e não tocou na questão agrária.

Werneck Viana ressaltou, no entanto, que a grande arte de Juscelino, de quem somos devedores, "era sua capacidade de criar esperança e a desconstrução desse projeto, mais do que pelos regimes militares, está sendo feita hoje, com a difusão da concepção neoliberal, que transformou o Estado numa entidade malévola, e que apaga, passo a passo, as pegadas luminosas de Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek".

A dimensão euclidiana de Juscelino

A professora Vânia Maria Losada Moreira, da Universidade Federal do Espírito Santo, falou sobre as três características marcantes do período JK: o desenvolvimentismo, o nacionalismo e a dimensão euclidiana do projeto de Juscelino, que estabeleceu um diálogo com a obra de Euclides da Cunha, criando uma ponte do moderno com o tradicional. O desenvolvimentismo está presente no Plano de Metas de JK que, apesar de muito ambicioso, foi cumprido em quase 100%. Vânia Moreira citou uma pesquisa realizada pelo Ibope, que acabava de ser criado, e que demonstrava que 80% da população percebia positivamente a aceleração desenvolvimentista implementada por Juscelino.

A aliança política do presidente com o movimento nacionalista, que reunia diversos segmentos da sociedade brasileira, como os militares, estudantes, intelectuais, e professores, deu a marca de outra importante característica de seu governo, segundo a professora. Ela esclareceu, no entanto, que este movimento não tinha um conteúdo fortemente ideológico, mas principalmente social e político. O projeto desenvolvimentista nacionalista de Juscelino era identificado no plano de modernização e industrialização do país, tirando o Brasil da dependência dos produtos primários e da agricultura, superando a sua fragilidade, que ficou evidente na crise de 29.

A dimensão euclidiana, destacada pela professora Vânia Moreira, encontra-se no capítulo dedicado às obras de integração nacional, incluído no Plano de Metas de JK. "A construção de Brasília e do Cruzeiro Rodoviário - uma rede de rodovias ligando Brasília aos principais centros políticos e econômicos do Brasil da época - sintetizam bem esta meta" - afirmou.

Com a integração física e econômica das diversas regiões do país, o presidente acreditava que viabilizaria o desenvolvimento nacional, fortalecendo o mercado interno e realimentando o processo de crescimento do país, promovendo ainda a integração campo e cidade. Nessa perspectiva, Juscelino fez três promessas de campanha: que a população rural teria melhores condições de vida no seu governo; que promoveria o fim das disparidades regionais; e, finalmente, romperia com o subdesenvolvimento nacional.

"Eram promessas de cunho nitidamente social, mas Juscelino não alcançou nessa área o mesmo sucesso que obteve com o seu programa de industrialização e modernização e as razões desse fracasso é que precisam agora ser melhor estudadas" - frisou a professora.

Público debate impactos do Plano de Metas

Durante os debates, os expositores foram questionados sobre a repercussão negativa do governo JK, que seria responsável pelo endividamento do país e crescimento do processo inflacionário. A professora Vânia Moreira ponderou, no entanto, que para realizar o seu projeto, que foi fundamental para reposicionar o país no cenário mundial, Juscelino não teria outra opção.

A poupança interna era insuficiente para financiar este projeto e a captação de recursos governo a governo, modalidade defendida pelos nacionalistas, não mais interessava aos países parceiros do Brasil, que optavam, naquele momento, por investimentos diretos, como aqueles utilizados por Juscelino. A última alternativa era a emissão de papel moeda que também foi adotada por JK. "De outra forma, não seria possível construir o país que ele deixou para as futuras gerações" - concluiu a professora.

 

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