Desverticalização da Cemig está em regime de urgência
Na Reunião Ordinária desta terça-feira (3/9/2002),
o Plenário da Assembléia Legislativa aprovou requerimento do líder
do Governo, deputado Antônio Andrade (PMDB), solicitando que o
Projeto de Lei (PL) 1.416/2001, do governador, que trata da
desverticalização da Cemig, tramite em regime de urgência. Com isso,
fica dispensada a publicação prévia dos pareceres e demais
proposições acessórias e os prazos regimentais serão reduzidos à
metade.
O projeto de desverticalização dá nova redação ao
artigo 2º da Lei 8.655/84, alterado pela Lei 12.653/97, dispondo que
os sistemas de geração, transmissão, distribuição e comercialização
de energia serão desenvolvidos e explorados diretamente pela Cemig
ou através de empresas subsidiárias integrais. Ele também prevê que
é responsabilidade da Cemig o desenvolvimento de atividades nos
diferentes campos de energia, em qualquer de suas fontes; e, ainda,
que o Estado deterá, em quaisquer circunstâncias, sempre a maioria
das ações com direito a voto.
HISTÓRICO DA TRAMITAÇÃO
O PL 1.416/2001 iniciou sua tramitação na
Assembléia Legislativa em 8 de março de 2001, sendo distribuído às
Comissões de Constituição e Justiça, de Meio Ambiente e Recursos
Naturais e de Fiscalização Financeira e Orçamentária. Em 25 de junho
de 2002, o projeto recebeu parecer da Comissão de Justiça pela
constitucionalidade, juridicidade e legalidade. Em seguida, o
projeto foi enviado à Comissão de Meio Ambiente e Recursos Naturais,
que perdeu prazo para emitir seu parecer sobre a matéria. No último
dia 4 de julho, o Plenário aprovou requerimento do deputado Rogério
Correia (PT) solicitando que o projeto fosse apreciado também pela
Comissão de Administração Pública.
Na agenda das Comissões desta quarta-feira (4/9), o
projeto está na pauta das Comissões de Administração Pública, com
reuniões às 10h30 e às 14h30, e de Fiscalização Financeira e
Orçamentária, às 10h45, em 1º turno. O projeto também está na pauta
da reunião extraordinária de Plenário, às 20 horas. Caso as
Comissões aprovem pareceres sobre o projeto, ele estará em condições
de ser apreciado pelo Plenário, em 1º turno.
POSIÇÃO DO GOVERNO
Ao encaminhar o projeto à Assembléia, no início do
ano passado, o governador argumentou que o objetivo da proposta é
adaptar a lei de regência da Companhia Energética de Minas Gerais
(Cemig) ao novo modelo institucional do setor elétrico nacional,
concebido pelo Governo Federal e implementado pela Lei Federal
9.648/98. Na justificativa do projeto, Itamar Franco lembrou que seu
governo adiou, o quanto pôde, a reorganização societária da Cemig,
"com o sadio propósito de melhor examinar a questão sob o ponto de
vista administrativo, societário e tributário". Mas, apesar disso,
não teve como deixar de apresentar o projeto, uma vez que o Estado,
na condição de acionista controlador da Cemig, "deve se posicionar
frente à exigência do Poder concedente (a União), aprovando lei que
permita implementar a reorganização societária da Companhia, da
forma a que se obrigou o Governo anterior".
Com relação ao modelo escolhido, o governador
informou que ele é fruto de estudos técnico- jurídicos desenvolvidos
pelos setores competentes da Cemig e é o que melhor atende aos
interesses da estatal, sugerindo a criação de empresas subsidiárias
integrais, que atuarão separadamente nas áreas de geração,
transmissão, distribuição e comercialização de energia
elétrica.
ASSEMBLÉIA PROMOVEU DEBATE SOBRE
DESVERTICALIZAÇÃO
Para debater o PL 1.416/2001, a Assembléia
Legislativa promoveu, em 15 de março do ano passado, o Ciclo de
Debates "Desverticalização da Cemig", com a participação de
representantes do governo, eletricitários, especialistas e
representantes da Aneel, além dos parlamentares. No evento, o
presidente da Cemig, Djalma Morais, afirmou que uma das
conseqüências da desverticalização será o aumento de até 2,4% das
tarifas, além do aumento de impostos de R$ 197 milhões - com a
empresa integrada - para R$ 261 milhões, após a criação de empresas
subsidiárias integrais para as atividades de geração, transmissão,
distribuição e comercialização de energia.
Djalma Morais disse, também, que, segundo estudos,
com a divisão da Cemig o lucro da empresa diminuirá de R$ 471
milhões para R$ 424 milhões. Um dos grandes problemas da cisão,
segundo ele, refere-se ao aumento da carga de impostos, que se
refletirá na forma de aumento das tarifas e de diminuição dos
investimentos. Presente ao debate, o presidente da Assembléia,
deputado Antônio Júlio (PMDB), alertou, na ocasião, que a cisão pode
ser a primeira etapa para a privatização total da empresa.
CEMIG E ANEEL TÊM POSIÇÕES DIFERENTES
Contrapondo-se à fala do representante da Aneel
presente ao encontro, Djalma Morais enfatizou que não será a
desverticalização a responsável pelo aporte maior de recursos no
setor. "Não temos tido problema de aporte de recursos. Não há
investimentos do Estado, mas da empresa, juntamente com
empreendedores. A Cemig tem gerado bons dividendos e atingido suas
metas sociais", disse.
Já o procurador-geral da Aneel, Cláudio Girardi,
afirmou, no debate, que o novo modelo proposto para o setor
explica-se pelo fato de que não é possível a convivência entre
atividades competitivas, como a de geração, com aquelas reguladas,
cujas tarifas são estabelecidas pela Aneel. As atividades livres,
enfatizou, atraem o investidor, promovem a concorrência e resultam
em preços mais baixos para os consumidores.
Competitividade - Cláudio Girardi defendeu,
ainda, outros aspectos do modelo de desverticalização. Segundo ele,
a abertura permitirá à Cemig participar de aproveitamentos de
potenciais hidráulicos em outros Estados, tornando-se mais
competitiva. Ele fez referência também às empresas que, para gerar
energia, não precisam mais se dirigir à concessionária em questão,
como ocorria antes. "Usinas hidráulicas de até 30 megawatts
podem ser
construídas, desde que os projetos sejam aprovados pela Aneel. Nada
mais lógico, então, para o Estado, que transferir a geração de
energia para as empresas", disse. Girardi, no entanto, esquivou-se
de comentar o assunto privatização. "Não compete à Aneel falar em
privatização; nós apenas fiscalizamos. Sendo a Cemig uma empresa do
Estado, ele é que tem soberania para decidir sobre a privatização",
completou.
No debate, a proposta de desverticalização da Cemig
também foi criticada pelo coordenador-geral do Sindicato dos
Trabalhadores na Indústria Energética (Sindieletro), Marcelo Correia
Baptista, e Luiz Pingueli Rosa, vice-diretor da Coordenação dos
Programas de Pós-Graduação em Engenharia (Coppe/UFRJ).
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