Violência contra os idosos é abordada em ciclo de debates

A mulher com mais de 75 anos, dependente física ou mental, que é dependente ou vive com familiares e com história de ...

27/08/2002 - 19:48
 

Violência contra os idosos é abordada em ciclo de debates

A mulher com mais de 75 anos, dependente física ou mental, que é dependente ou vive com familiares e com história de passividade é o perfil do idoso vítima de violência, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). Esse perfil, citado pela secretária executiva do Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa Idosa, Neidyl Spinola da Costa, foi confirmado, nesta terça-feira (27/8/2002), pelos dados fornecidos pela delegada Sueli Aparecida Paixão Ribeiro, titular da Delegacia de Proteção ao Idoso de Belo Horizonte.

Elas foram palestrantes, à tarde, do Ciclo de Debates "As demandas de um Brasil que envelhece", promovido pela Assembléia Legislativa de Minas Gerais a requerimento da deputada Maria Olívia (PSDB). Aspectos legais, promoção de atividades de cultura, lazer, esporte e turismo e o Conselho Nacional da Pessoa Idosa foram os temas das palestras da tarde, coordenadas pelo deputado Jorge Eduardo de Oliveira (PMDB).

A delegada Sueli Ribeiro disse que, além das mulheres, viúvas e com idade avançada, os idosos saudáveis também são vítimas - na maioria das vezes de abusos financeiros ou sofrem ameaças de familiares interessados em obter bens ou antecipar o acesso a heranças. Os idosos são explorados, segundo ela, por pessoas da família que acham que não serão denunciadas. Sueli Ribeiro disse, ainda, que há dificuldades na formalização de denúncias porque o idoso não tem coragem de denunciar o fato, comprometendo familiares, baseando-se no ditado de que "roupa suja se lava em casa". Eles apenas usam a delegacia como forma de pressão.

MINISTÉRIO PÚBLICO RELATA TRABALHO DE FISCALIZAÇÃO

A promotora de Justiça Simone Montez Pinto Monteiro, coordenadora estadual do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça de Defesa dos Direitos das Pessoas Portadoras de Deficiência e dos Idosos, disse que o Ministério Público tem dado prioridade para a fiscalização das instituições de longa permanência para idosos. A fiscalização é feita em parceria com a Vigilância Sanitária Municipal e o primeiro passo foi o mapeamento das instituições, que mostrou que a participação governamental é mínima - 52% das instituições são filantrópicas; 47%, privadas e apenas 1%, governamentais. Dos asilos fiscalizados, apenas 1% foram considerados muito bons e 20% deles são muito fracos. O Ministério Público constatou, ainda, que o internamento leva ao afastamento da família pela quebra do vínculo familiar.

Acabar com os preconceitos contra a idade é fundamental na discussão dos direitos dos idosos, segundo o advogado Rodrigo da Cunha Pereira, presidente do Instituto Brasileiro de Direito de Família (IBDFAM). Ele defendeu a alteração da lei que prevê limite de idade para determinar a capacidade dos idosos. Para o advogado, a incapacidade só pode ser declarada em processo judicial - a interdição. Mas, segundo ele, o ideal é sempre buscar uma forma alternativa.

SESC E PREFEITURA DE JUIZ DE FORA APRESENTAM EXPERIÊNCIAS

O desenvolvimento de atividades de cultura, lazer, esporte e turismo foi o tema do segundo painel da tarde. O secretário municipal de Assistência Social de Juiz de Fora, José Sotter Figueroa, e a coordenadora do Trabalho Social com a Terceira Idade do Serviço Social do Comércio (Sesc/MG), Regina Ângela do Amaral, apresentaram experiências bem-sucedidas de atividades para a terceira idade. Em Juiz de Fora, no Centro de Convivência do Idoso, são feitos 450 atendimentos por dia e oferecidos projetos como Internet Sênior; oficinas de memória, bailes e reinserção profissional. O Projeto Carinhoso, em implantação, oferece serviço de atendimento domiciliar de saúde, com agentes comunitários capacitados.

O Sesc/MG tem 26 anos de trabalho social com a terceira idade, segundo Regina Amaral. As atividades vão desde apresentações de teatro, danças, gincanas folclóricas - sempre com a produção feita pelos próprios idosos - até viagens, atividades físicas e com envolvimento das famílias. O Sesc também promove campanhas de saúde, como vacinação e controle de pressão arterial.

CONSELHOS DOS IDOSOS PRECISAM SER INSTALADOS

A secretária executiva do Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa Idosa, Neidyl Spinola da Costa, falou sobre os aspectos legais da criação do Conselho, criado pela Lei Federal 8.842/94. O Conselho ainda não foi instalado. Segundo ela, de 4 a 6 de setembro deste ano será realizada uma assembléia para eleição complementar, quando serão escolhidos os representantes do segmento dos aposentados. A instalação do Conselho Nacional está prevista no Decreto 4.227, de 13 de maio de 2002, revisto pelo Decreto 4.287, de 27 de junho de 2002. A revisão, segundo Neidyl da Costa, foi feita para corrigir a composição do Conselho, instituindo a paridade entre representantes governamentais e da sociedade civil.

Maus tratos - A representante do Ministério da Justiça, ao qual está ligado o Conselho, disse que a definição de maus tratos utilizada é a da OMS - uma ação única ou repetida ou, ainda, a ausência de uma ação devida, que causa sofrimento ou angústia e que ocorre em uma relação onde haja expectativa de confiança. A OMS classifica o abuso como físico, psicológico, financeiro, sexual e a negligência.

O representante da Região Sudeste na Comissão Nacional de Articulação da Política Nacional do Idoso, Serafim Fortes, falou sobre a pesquisa desenvolvida por ele, nos anos de 2000 e 2001, pela Universidade Federal Fluminense. Segundo essa pesquisa, no Norte do Estado apenas um Conselho Estadual foi instalado; no Nordeste, só quatro; no Centro-Oeste, dois. Apenas as regiões Sudeste e Sul têm todos os conselhos instalados. A situação também é crítica ao analisar a instalação dos conselhos municipais nos Estados da região Sudeste. Em Minas Gerais, por exemplo, com 853 municípios, não havia nem 10 conselhos.

Recursos - A presidente do Conselho Estadual do Idoso de Minas Gerais, Cleonice de Alencar Bahia, reivindicou a definição de verbas específicas para os idosos no orçamento do Estado e dos municípios. Segundo ela, é preciso que a sociedade desenvolva a capacidade de evitar que as pessoas caiam em risco social.

 

 

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