Em 2025, Brasil será o 6º país com mais idosos no
mundo
Em 2025, o Brasil terá uma população de 33 milhões
de idosos e será o sexto país com mais idosos no mundo. A partir da
percepção do crescimento da população idosa do Brasil - que passou
de 4%, na década de 40, para 9% hoje, o que representa cerca de 15
milhões de habitantes -, a deputada Maria Olívia (PSDB) abriu o
Ciclo de Debates "As demandas de um Brasil que envelhece", na
Assembléia Legislativa de Minas Gerais, nesta terça-feira
(27/8/2002). Ela foi autora do requerimento que deu origem ao
ciclo.
Um dos objetivos do evento é discutir as
implicações políticas e sociais da mudança no perfil da população
brasileira - que passou de uma expectativa de vida de 34,5 anos, na
década de 20, para 68 atualmente. Em Minas, esse número chega a 70.
Segundo a deputada Maria Olívia, o ciclo pretende, ainda, apresentar
propostas de melhoria da situação dos idosos. Após a abertura da
reunião, o presidente da Comissão do Trabalho, da Previdência e da
Ação Social, deputado Dalmo Ribeiro Silva (PPB), assumiu a
coordenação das atividades.
Segundo dados fornecidos pela secretária adjunta de
Estado do Trabalho, da Assistência Social, da Criança e do
Adolescente de Minas, Anália Maria F. Nogueira, são gastos cerca de
R$ 300 milhões do orçamento de fundo nacional com o Benefício de
Prestação Continuada (BPC), que atende aos aposentados com renda de
até 1/4 do salário mínimo. Esse dinheiro é usado pela terceira
idade, em primeiro lugar, na compra de alimentos, depois em
medicamentos e tratamentos médicos.
Aposentado como office-boy - A
coordenadora da Área de População e Família do Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada (Ipea), Ana Amélia Camarano, também informou que
42% dos homens e 12% das mulheres idosas do Brasil continuam no
mercado de trabalho. "Aqui, a aposentadoria não tira o idoso do
mercado", concluiu. O consultor da Previdência Social José Prata de
Araújo responsabilizou os empregadores por usarem do que chamou de
"criatividade" para explorar benefícios que deveriam ser direitos
dos idosos. O consultor se referia à contratação de idosos para
ocuparem funções de office-boys. Assim, a empresa
contratante tira proveito do passe-livre e da preferência nas filas
de bancos, por exemplo.
ANÁLISE DO IPEA SOBRE CONDIÇÃO DO IDOSO É
CONTESTADA
Ana Amélia Camarano, do Ipea, lembrou que os
idosos, de uma maneira geral, vivem em condições melhores que o
resto da população pobre do País, porque recebem os benefícios da
Previdência Social. Isso faz com que passem, muitas vezes, da
condição de beneficiários para provedores do sustento da família. De
acordo com a deputada Maria Olívia (PSDB), dados do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam o crescimento
do percentual de idosos chefes de família - de 60%, em 1999, para
62%, em 2002 (destes, 54% vivem com renda média abaixo da normal,
que é de R$ 769,00). Ana Amélia Camarano também comparou a situação
da terceira idade com a do jovem - que encontra hoje dificuldades
para entrar no mercado de trabalho.
Crítica - Esses dados
foram fortemente contestados pelo coordenador do Núcleo de Geriatria
e Gerontologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Edgar
Nunes de Moraes. Ele foi enfático ao dizer que a questão em pauta
não é a miséria. "Não estamos discutindo miséria. As necessidades
dos idosos não são como as do jovem. Os idosos têm necessidades
específicas. Envelhecer é tornar-se vulnerável. Está havendo uma
inversão completa dos papéis sociais: o idoso, que é mais frágil,
está se tornando arrimo de família", afirmou.
O médico defendeu, ainda, que o Benefício de
Prestação Continuada (BPC) é só um passo para a melhoria de vida do
idoso. Explicou também que o Núcleo de Geriatria e Gerontologia
preocupa-se com a qualidade de vida dos idosos, que é a capacidade
de desempenhar os papéis sociais. "Para a geriatria, a saúde engloba
o lado orgânico e o social; não dá para fragmentar. O que buscamos é
a funcionalidade global (ter condições de fazer o que se quer). Não
há interesse apenas em viver muito, mas em viver bem",
concluiu.
ALTERNATIVAS À HOSPITALIZAÇÃO SÃO DEBATIDAS
A representante dos geriatras no Conselho Estadual
do Idoso, Karla Giacomin, falou das alternativas à hospitalização
dos velhos, já que isso corresponde a um risco. "Os velhos têm
médicos, o que não significa que o médico saiba cuidar deles",
afirmou. Segundo a geriatra, os idosos não sabem o que reivindicar,
porque nunca tiveram certos benefícios. Karla Giacomin emocionou a
platéia ao fazer uso de um testemunho pessoal para ilustrar o
aumento na expectativa de vida, a redução na taxa de natalidade e a
dificuldade que o jovem encontra para se inserir no mercado de
trabalho, precisando ser, muitas vezes, sustentado pelos pais já
idosos.
O credenciamento de hospitais gerais para o
atendimento especializado à terceira idade e de centros de
referência em assistência à saúde do idoso fazem parte do projeto
apresentado pela coordenadora estadual de Atenção à Saúde do Idoso
da Secretaria de Estado da Saúde de Minas Gerais, Eliana Márcia
Fialho Souza Bandeira. As ações previstas pela Secretaria foram
projetadas após a realização de um diagnóstico da situação do idoso,
envolvendo o atendimento hospitalar, asilar e ambulatorial. O
hospital escolhido para servir de piloto para esse programa foi o
Hospital das Clínicas da UFMG.
A gerente do Benefício de Prestação Continuada
(BPC) da Secretaria de Estado de Assistência Social do Ministério da
Previdência e Assistência Social, Deuzina Lopes da Cruz, apresentou
a preocupação da Secretaria em desenvolver ações que priorizem o
idoso como agente experiente e permitam a integração entre gerações.
Entre essas iniciativas, estão revitalizar e modernizar os asilos,
as atividades na comunidade, o acolhimento, o abrigo e o acesso a
programas de complementação alimentar.
Debates da manhã - O Ciclo
de Debates teve os trabalhos da manhã encerrados com a participação
de representantes de associações e prefeituras, entre outros. Os
principais pontos abordados nas perguntas foram: políticas exercidas
pelo governo no pagamento dos aposentados e contribuintes do
Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS); e o Benefício de
Prestação Continuada (BPC), que atende aos aposentados que possuam
renda equivalente a até 1/4 do salário mínimo.
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