Participantes de fórum discutem as causas da dependência
brasileira
"A desordem internacional e a desconstrução da
soberania latino-americana e caribenha" foi o tema do debate da
manhã desta quinta-feira (22/8/2002) do II Fórum Minas por um outro
Mundo, que acontece na Assembléia de Minas. As origens dessa
"desordem internacional" foram explicadas pelo embaixador Samuel
Pinheiro Guimarães, que traçou um panorama da política internacional
durante os anos 90. Segundo ele, a atual conjuntura mundial começou
a delinear-se no início dessa década, com a vitória dos Estados
Unidos na Guerra do Golfo e a implosão da União Soviética.
A partir de então, o mundo passou a contar com uma
única potência mundial - os Estados Unidos. Somando-se o avanço das
novas tecnologias da comunicação e a hegemonia do pensamento
neoliberal, esperava-se o fim dos conflitos militares e nova era de
bem-estar social e crescimento econômico. Mas, segundo o embaixador,
essas foram apenas utopias. No centro do capitalismo, as novas
tecnologias trouxeram o desemprego estrutural, e a desregulamentação
decorrente do neoliberalismo possibilitou diversas formas de
corrupção. Na periferia, o fracasso das políticas neoliberais
acarretou concentração de renda, queda nos salários, desemprego
elevado, desarticulação da infra-estrutura e desmoralização das
instituições, além do aumento dos conflitos regionais.
Quanto ao papel das potências hegemônicas nesse
panorama, o embaixador Samuel Pinheiro lembrou que, para manter a
estabilidade do sistema internacional e sua supremacia sobre os
demais países, os Estados Unidos precisam passar uma imagem de
democracia perfeita. "Eles devem se mostrar eficientes e honestos e
têm que defender os direitos humanos, a lei e a ordem, assumindo uma
postura verdadeiramente superior", salientou. Mas, para o
embaixador, isso não vem ocorrendo.
Protestos - Segundo ele,
cada vez mais as pessoas estão tomando consciência de que as
políticas neoliberais fracassaram e, por isso, vêm ganhando força os
movimentos de protestos. E isso, de acordo com Samuel Pinheiro, gera
instabilidade política, social e econômica, o que preocupa não só as
elites periféricas, mas, principalmente, as potências que
administram o "grande condomínio" que é o sistema capitalista
internacional. "Para a potência hegemônica, é necessário manter seus
privilégios e, para isso, ela precisa reprimir a periferia"
disse.
O embaixador citou algumas estratégias utilizadas
pelas potências para consagrar esses privilégios do centro do
sistema e manter sua política de dominação, destacando a exigência
do cumprimento de acordos internacionais (com o FMI, por exemplo) e
a manutenção de bases militares reguladoras. "Essas políticas trazem
a desconstrução da soberania dos países periféricos, que só podem
adotar um tipo de política econômica (o neoliberalismo) e não podem
ter armas. Na verdade, esse é um processo de reconstrução do sistema
colonial", concluiu.
AMERICANOS PODEM DOMINAR BASE DE ALCÂNTARA
A representante da ONG (organização
não-governamental) carioca Rede Práxis, Ivana Monte Lima, falou
sobre a possível utilização, pelos Estados Unidos, do Centro de
Lançamento de Alcântara (MA). Quando o centro foi criado, em 1984,
esperava-se que o Brasil entrasse no século XXI dominando a
tecnologia necessária para competir no lucrativo mercado de
lançamento de satélites e foguetes. Mas, em 2000, Brasil e Estados
Unidos assinaram o Acordo de Salvaguardas Tecnológicas, que autoriza
os americanos a utilizarem o centro para lançarem seus foguetes.
O acordo proíbe a circulação de brasileiros nos 620
quilômetros quadrados do centro e dá aos americanos o direito de
desenvolver, em Alcântara, programas sigilosos, sem ter que dar
satisfações às autoridades brasileiras. Em contrapartida, o Brasil
receberia US$ 34 milhões por ano, mas esse dinheiro não poderia ser
investido em pesquisas espaciais. "Esse acordo fere a nossa
soberania e abre a possibilidade de os Estados Unidos utilizarem
Alcântara como base militar", alertou Ivana.
Decisão do Congresso - Para
o acordo entrar em vigor, é preciso que os congressos dos dois
países ratifiquem a decisão dos dois governos. Atualmente, o acordo
aguarda parecer da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos
Deputados e tem poucas chances de ser ratificado ainda este ano.
Ivana conclamou os participantes do fórum a manterem-se informados
sobre o andamento do acordo e defendeu a realização de um plebiscito
para descobrir se a população concorda com a decisão do governo.
Presenças - Também
participou do debate a representante do Comitê Mineiro do Fórum
Social Mundial, Carlúcia Maria Silva, além dos deputados Eduardo
Brandão (PL) e Adelmo Carneiro Leão (PT).
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