MG precisa de R$ 2 bi para asfaltar rodovias e reduzir desigualdades

Para garantir acesso pavimentado a todos os municípios mineiros, seriam necessários R$ 2,1 bilhões e pelo menos dez a...

20/08/2002 - 16:14
 

MG precisa de R$ 2 bi para asfaltar rodovias e reduzir desigualdades

Para garantir acesso pavimentado a todos os municípios mineiros, seriam necessários R$ 2,1 bilhões e pelo menos dez anos de investimentos ininterruptos. Essa é uma das conclusões do estudo elaborado pelo ex-secretário de Estado de Assuntos Internacionais, Carlos Eduardo Orsini, a pedido da Assembléia Legislativa. Os resultados dessa análise foram apresentados nesta terça-feira (20/8/2002), na primeira parte do ciclo de debates "Ampliação da malha rodoviária - Condição para o desenvolvimento econômico e social do Estado".

Com a participação de autoridades da área de transportes e lideranças empresariais, o ciclo de debates teve como objetivos discutir formas de melhorar a infra-estrutura das cidades que não possuem ligação rodoviária asfaltada. Em Minas Gerais, existem 234 municípios nessa situação, onde vivem 1,5 milhão de habitantes, quase 10% da população do Estado.

Para solucionar esse problema, Orsini elaborou um Programa de Integração Rodoviária, que consistiria na pavimentação de 2.383 km de rodovias de acesso, permitindo a integração dessas cidades com o restante da malha rodoviária do Estado. Esta seria uma forma de possibilitar o desenvolvimento econômico das regiões mais isoladas de Minas e melhorar as condições de vida de suas populações.

De acordo com a Fundação João Pinheiro, 52% dos municípios mineiros sem ligação rodoviária asfaltada têm Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) inferior a 0,50, semelhante ao dos países africanos. "Os municípios não integrados à malha rodoviária pavimentada possuem grandes dificuldades no transporte de sua produção, acarretando, portanto, uma capacidade econômica bem abaixo da média estadual", aponta o relatório de Orsini.

As conseqüências sociais e econômicas da falta de pavimentação também foram lembradas pelo diretor do Departamento Estadual de Estradas de Rodagem (DER/MG), Antônio Demétrio Bassili. Levantamento do DER aponta que, no Vale do Jequitinhonha, 63% dos municípios não têm acesso asfaltado. Já no Sul de Minas, apenas 18% das cidades não têm rodovias pavimentadas. Essa é uma das causas da discrepância econômica entre as duas regiões. A renda per capita de Andradas, no Sul, é de R$ 36.710, contra R$ 3.484 de Araçuaí, no Jequitinhonha.

Faltam recursos

O dinheiro necessário para viabilizar o programa poderia vir, segundo Orsini, dos orçamentos da União, do Estado e dos municípios envolvidos. O programa também poderia contar com verbas da Comig, do Proder (que poderia ser reativado), da extinta Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), do setor privado e de fundos especiais. Mas a maior parte da verba (34,5%) teria que vir de empréstimos internacionais. Atualmente, de acordo com Orsini, o Estado tem em caixa apenas 8% dos recursos necessários.

"Os investimentos são volumosos, mas perfeitamente viáveis, desde que o programa seja conduzido sob uma perspectiva de integração dessas cidades com as regiões mais desenvolvidas do Estado", acredita o ex-secretário. Após lançar o programa no ciclo de debates, Orsini disse que pretende enviá-lo para o DER.

O superintendente da Associação Mineira de Municípios, Aloísio Carlos Nogueira de Carvalho, lembrou que, para a solução do problema, basta boa vontade dos governantes. "Estamos em época de eleição e todos os candidatos inserem a pavimentação em seus planos de governo. Mas isso é meramente um engodo, pois nada tem sido feito", reclamou. O diretor do DER limitou-se a dizer que o órgão tem procurado manter a qualidade das estradas, mas a liberação de recursos depende do governador.

O Governo do Estado, porém, não é o único culpado pela decrépita situação das estradas mineiras. Segundo o coordenador em Minas Gerais do Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes (Dnit), José Élcio Santos Monteze, a União deveria investir, anualmente, US$ 3 mil na manutenção de cada quilômetro da malha rodoviária federal. Neste ano, segundo Monteze, foram destinados apenas US$ 800 para isso. "Se não tivermos uma mudança significativa, vamos continuar assistindo à piora do sistema, que já tem sua vida útil vencida e precisa de uma intervenção imediata", alertou.

Rede federal - Dos 261.668 km de rodovias que cortam o Estado, apenas 16.830 km são asfaltados, segundo o Ministério dos Transportes. A situação pior é das rodovias municipais, que somam 239.173 km, mas têm apenas 382 km asfaltados. Já a rede federal tem 1.232 km não pavimentados e 9.944 km com asfalto. Mas isso não quer dizer que essas estradas estejam em boas condições. Levantamento feito em 1995 pelo extinto Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (DNER) apontava que apenas 43,6% das estradas federais pavimentadas em Minas estavam em bom estado de conservação.

Qualidade da malha vem caindo

Com a falta de investimentos, a malha rodoviária, que já era deficiente, ficou ainda pior, segundo o presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas do Estado de Minas Gerais (Setcemg), Vander Francisco Costa. Ele apresentou os resultados de duas pesquisas feitas pela Confederação Nacional do Transporte (CNT) para avaliar a qualidade das estradas mineiras. Em 1999, 32% das rodovias do Estado estavam em ótimo estado, índice que caiu para 20,2% em 2000. Em contrapartida, o percentual de estradas em condições péssimas e ruins chegou a 76% nesse mesmo ano.

A conseqüência mais desastrosa do descaso com as estradas é o encarecimento dos custos do transporte, de acordo com Vander Costa. Segundo ele, a viagem de caminhão de Belo Horizonte a Vitória, um percurso de 500 km, poderia ser feita em 10 horas, a uma velocidade média de 50 km por hora. Graças à má qualidade das estradas, hoje a velocidade média é de 34 km por hora, o que aumenta o tempo de viagem para 14 horas e encarece o frete em 31,7%. Por isso, para Vander Costa, a falta de investimentos na malha rodoviária pode levar ao colapso do setor. "A infra-estrutura atual não comporta o crescimento do País. Dentro de três anos, pode haver um 'paradão', assim como houve o apagão no ano passado", alertou.

Presenças

O debate da manhã desta terça-feira foi coordenado pelo deputado Dilzon Melo (PTB). Também fizeram parte da mesa o deputado Mauro Lobo (PSB) e o representante do Tribunal de Alçada, Carlos Batista Franco.

 

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