Violência é principal causa de morte entre os jovens
No debate da tarde desta segunda-feira (20/5/2002),
no Seminário Regional "Violência Urbana e Saúde Pública", no
Plenário da Assembléia, o coordenador do painel "Violência urbana:
diagnóstico e as perspectivas de solução", deputado Eduardo Brandão
(PL), ressaltou que todos os brasileiros têm consciência do quanto a
violência urbana vem crescendo e que, no final deste seminário,
espera que surjam propostas para este problema. "É no esforço
coletivo que vamos conseguir soluções para esta grave questão",
disse.
A expositora Maria Cecília de Souza Minayo,
coordenadora do Centro Latino-Americano de Estudos de Violência e
Saúde, destacou que, do ponto de vista da saúde, é necessário
considerar duas causas externas: violência e acidentes. "Morre-se
muito mais no Brasil por causa da violência do que por complicações
de Aids, por exemplo. São cerca de 120 mil mortos por ano. É a
segunda causa de mortalidade no País", afirma. Segundo Maria
Cécilia, de 1979 a 1999, houve um aumento de 36% na violência no
Brasil. E a grande questão desta violência são os homicídios, que
cresceram 115%. "A maioria das agressões leva à morte e o número de
hospitalizações é cada vez menor. Quem agride o outro com arma,
agride para matar", denuncia.
Para Maria Cecília, outro fator preocupante é que a
maioria das ações violentas, como homicídios e acidentes de
trânsito, está concentrada nas regiões Sudeste e Centro-Oeste.
"Quase 80% das mortes na faixa etária jovem, entre 17 e 25 anos,
acontece em decorrência de homicídios ou de acidentes de trânsito.
Por isso, qualquer política pública voltada os jovens deve
considerar o combate à violência", pondera.
MAIOR PARTE DAS VÍTIMAS NÃO PROCURA POLÍCIA
Já Helder Rogério Santana Ferreira, membro do
Núcleo de Estudos da Violência da Universidade do Estado de São
Paulo (USP), abordou, principalmente, a violência urbana no Estado
de São Paulo. Segundo ele, houve um crescimento na violência em todo
o Estado, mas com uma concentração na região metropolitana de
Campinas. Como exemplos, ele citou que de 1996 a 2001 a tentativa de
homicídio subiu de 20% para 25% e que o tráfico de entorpecentes
cresceu no interior e se estabilizou na capital. Helder Ferreira
destacou que nem todos os crimes são registrados. De acordo com ele,
54,6% das vítimas de roubo ou furto e 61,8% das vítimas de agressão
não recorrem à polícia.
Esse aspecto foi abordado também por Daniel
Cerqueira, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
(Ipea). Segundo ele, dependendo dos casos, entre 30% e 42% das
pessoas vítimas de algum tipo de violência não procuram a polícia
para dar queixa. "São números dramáticos que comprovam que grande
parte da população não só não confia na polícia como a teme",
afirma. O pesquisador ressaltou ainda que os homicídios e o uso de
armas fogo aumentaram. De 1991 a 2000, o número de homicídios no Rio
de Janeiro cresceu 45%, sendo que o uso de armas de fogo, nesses
casos, representa 83,5%.
CRESCIMENTO ECONÔMICO NÃO IMPEDE VIOLÊNCIA
A violência no Estado do Espírito Santo foi
abordada por Vanda de Aguiar Valadão, coordenadora do Curso
Integrado de Especialização em Segurança Pública da Universidade
Federal do Espírito Santo (Ufes). Segundo ela, a violência no Estado
chama atenção porque é um paradoxo já que o Espírito Santos foi
considerado a sétima economia do País por quatro anos consecutivos,
ao mesmo tempo em que é o segundo em número de homicídios por grupo
de 100 mil habitantes. "Em termos criminais, o Espírito Santo
freqüenta os primeiros lugares no ranking nacional e a cidade
de Vitória é apontada como uma das capitais mais violentas, apesar
de ser a quarta capital brasileira com melhor índice de
desenvolvimento humano", afirmou.
Em relação à Minas Gerais, Eduardo Cerqueira
Batitucci, pesquisador da Fundação João Pinheiro, disse que, até
1997, o Estado estava fora das altas taxas de homicídio. Hoje o
número é de 10 a 12 homicídios para cada grupo de 100 mil
habitantes. Bem aquém da média de Estados como Roraima, Pernambuco,
Rio de Janeiro e Espírito Santo, que são de 50 homicídios para cada
100 mil habitantes. Outro dado apresentado por Eduardo Batitucci é
que, num período de em três anos - de 1997 a 2000 - o número de
homicídios cresceu mais de 400% na Região Metropolitana de Belo
Horizonte.
Fátima Oliveira, coordenadora da Regional Minas
Gerais da Rede Saúde, abordou a violência sexual contra a mulher e
destacou que, para milhões de mulheres, "o lar não é um abrigo de
paz e sim um ambiente de violência". Ela disse, ainda, que 175 mil
mulheres são espancadas por mês no Brasil e não existe uma política
pública voltada para o combate a essa forma de violência. "É uma
situação epidêmica. Há uma guerra civil para as mulheres neste país.
Temos medo do estupro nas ruas, mas é no lar que está o principal
perigo", ressalta.
Esteve presente também no seminário o deputado
federal Nilmário Miranda (PT).
GRUPOS DE TRABALHO
Após a palestra "Violência urbana: diagnóstico e as
perspectivas de solução", os participantes do seminário foram
divididos em quatro grupos, com os seguintes coordenadores:
Violência e Saúde, deputado Cristiano Canêdo (PTB); Violência e
Desenvolvimento Urbano, deputado José Augusto, da Assembléia
Legislativa de São Paulo; Violência e Educação, deputado Adelmo
Carneiro Leão (PT); e a Sociedade Civil e a o Violência, deputado
Edson Rezende (PT). A síntese dos trabalhos dos grupos será
apresentada nesta terça-feira (21/5/2002), no segundo dia do
seminário, quando haverá discussão e aprovação da "Carta da Região
Sudeste.
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