Fazenda confirma que não tem como quitar débito com a Saúde

A Comissão de Saúde deverá ouvir, em breve, representantes do Ministério Público e do Tribunal de Contas para tentar ...

02/07/2002 - 21:44
 

Fazenda confirma que não tem como quitar débito com a Saúde

A Comissão de Saúde deverá ouvir, em breve, representantes do Ministério Público e do Tribunal de Contas para tentar aprofundar as discussões sobre como viabilizar o cumprimento de dispositivo constitucional que obriga o Estado a investir um percentual da sua arrecadação na área da Saúde. O secretário adjunto da Fazenda, Flávio Riani, deixou claro, na reunião desta terça-feira (02/07/2002) da Comissão, que o Estado não tem recursos para quitar o débito já acumulado, de quase R$ 300 milhões, e nem previsão para o próximos dois anos.

A exigência constitucional passou a vigorar a partir de outubro de 2000 e determina que os Estados devem aplicar um mínimo de 7% da sua arrecadação na área da Saúde. Este percentual está sendo gradualmente ajustado, e deverá atingir, em 2004, o total de 12%. No caso dos municípios, esse percentual será, no final deste prazo, de 15%. No ano de 2001, o Estado fez a previsão desta verba, de 8,25% do total arrecadado pelo Estado e empenhou o recurso nas suas contas mas, na prática, o dinheiro não foi liberado, gerando um "restos a pagar" no valor de R$ 300 milhões no balanço de 2001.

É essa verba, que seria destinada aos convênios da área da Saúde, assinados com os 853 municípios, que os prefeitos estão cobrando do Estado. Para eles, a Secretaria de Estado da Saúde deu uma solução técnica para o problema, meramente contábil, mas não garantiu o cumprimento da Constituição, liberando a verba. O secretário adjunto da Saúde, Luiz Márcio Araújo, explicou que, ao fazer essa opção, a Secretaria da Saúde garantiu instrumentos para que essa cobrança pudesse estar sendo feita agora, mesmo depois de encerrado o exercício. Se os recursos não tivessem sido empenhados e lançados em "restos a pagar", a área da Saúde não teria mais como receber esta verba.

ESTADO ENFRENTA DIFICULDADES

Durante a reunião da Comissão de Saúde, presidida pelo deputado Cristiano Canêdo (PTB), Luiz Márcio Araújo fez um relato das principais ações da Secretaria da Saúde e dos problemas que passa para viabilizar todos os programas que o Estado gerencia. Ele ponderou também que a Secretaria vem trabalhando em parceria com a Secretaria do Estado da Fazenda para liberação destes recursos, mas as dificuldades que Minas Gerais enfrenta são muito grandes.

O secretário adjunto da Fazenda, Flávio Riani, apresentou um quadro da situação financeira do Estado, que apresenta um déficit mensal de R$ 176 milhões e advertiu que não há perspectiva de uma folga de caixa, a curto prazo, para quitação deste débito. Pressionado pelos deputados, o secretário adjunto esclareceu que não é a Secretaria da Fazenda que decide as prioridades de gastos do Estado. "Essa é uma decisão de governo" - disse ele, insistindo, no entanto, que a situação financeira de Minas Gerais "é grave", em função da obrigação de pagamento dos serviços da dívida com a União. "Enquanto não houver uma renegociação desta dívida, não teremos como reverter esse quadro", afirmou.

O deputado Cristiano Canêdo (PTB) ressaltou a urgência de se encontrar uma solução e garantir a liberação destes recursos, pois Minas já começou a perder por não estar cumprindo a Emenda 29 da Constituição Federal. Recentemente, a tabela de pagamento do Sistema Único da Saúde (SUS) foi atualizada, com as consultas básicas passando de R$ 2,40 para R$ 3,60 e, as consultas especializadas, de R$ 2,55 para R$ 7,55, mas esses valores não serão aplicados em Minas, porque o Estado ainda não alcançou todos os requisitos para assumir a gestão plena do Sistema, entre eles, o cumprimento da Emenda 29.

FALTA DE RECURSOS É QUESTIONADA

O deputado José Braga (PMDB), que também participou da reunião, manifestou a sua descrença em relação ao atendimento das demandas por mais recursos, encaminhadas ao Legislativo mineiro por diversos setores. Ele ressaltou os números apresentados pelo representante da Secretaria do Estado da Fazenda, mostrando um quadro financeiro de grandes dificuldades e defendeu uma discussão mais profunda, sobre o pacto federativo brasileiro e sobre as formas de financiamento do Estado. "A hora de mudança é agora, não podemos mais adiar essa discussão" - disse ele.

O deputado Carlos Pimenta (PDT) questionou os argumentos da Secretaria da Fazenda, de falta de recursos, lembrando que o dispositivo constitucional fixou um percentual a ser aplicado sobre a arrecadação do Estado e não sobre um recurso ainda a ser negociado. Assim, o que o Estado deveria estar fazendo é o que a maioria dos prefeitos fazem. À medida que os recursos chegam aos cofres do município, o percentual da Saúde é separado e aplicado no setor, evitando criar dívidas e garantindo o cumprimento da Constituição Federal.

O deputado Adelmo Carneiro Leão (PT), autor do requerimento que deu origem à reunião, também questionou os argumentos de que o Estado não teria como quitar esse débito e garantir os recursos seguintes. "O não cumprimento de uma emenda constitucional é crime de responsabilidade e o Estado poderá responder por isso" - disse ele. O deputado afirmou que se o Brasil quer viver numa democracia deve, em primeiro lugar, cumprir a sua Constituição.

Durante a reunião, a presidente do Colegiado dos Secretários Municipais da Saúde (Cosems), Miriam Araújo Tibúrcio e do Conselho Estadual de Saúde, Eni Carajá Filho, também advertiram sobre a gravidade dos problemas que a área da Saúde enfrenta e pediram urgência na solução deste problema. O Conselho Estadual de Saúde condicionou a aprovação das contas da Secretaria de Estado da Saúde, referentes ao exercício de 2001, à apresentação de um calendário de liberação dos recursos devidos ao setor. A presidente do Cosems disse que a implantação de políticas municipais de saúde dependem desses recursos e, por isso, buscará todas as formas para garantir o cumprimento da Emenda 29.

Presenças - Participaram dessa reunião os deputados Cristiano Canêdo (PTB), presidente da Comissão, José Braga (PMDB), Maria José Haueisen (PT), Carlos Pimenta (PDT), Jorge Eduardo de Oliveira (PMDB).

 

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