Uso indevido de agrotóxicos gera preocupação em
Barbacena
Com o objetivo de debater os danos à saúde humana e
ao meio ambiente provocados pelo uso indevido de agrotóxicos, a
Comissão de Trabalho, da Previdência e da Ação Social da Assembléia
Legislativa de Minas reuniu-se na última sexta-feira (28/6/2002) em
Barbacena com lideranças locais. A audiência pública aconteceu na
Câmara Municipal e foi motivada por estudos que demonstram altos
índices de contaminação da população rural causados provavelmente
pela utilização inadequada de defensivos agrícolas. Os trabalhos
foram presididos pelo deputado Edson Rezende (PT), vice-presidente
da comissão.
Um estudo da Fundação Centro Brasileiro de Pesquisa
em Segurança, Saúde e Meio Ambiente de Trabalho (Fundacentro), órgão
do Ministério do Trabalho e Emprego, realizado na região rural de
Barbacena em 1999, revelou que 66,8% dos agricultores, incluindo
mulheres e crianças, apresentam problemas graves de saúde. A técnica
da Fundacentro Terezinha Campos atribuiu aos agrotóxicos esse
índice, apesar de não ter provas concretas da ligação entre os
defensivos e as doenças registradas (leucemia e outros tipos de
câncer, distúrbios neurológicos, problemas na pele, irritação nos
olhos, entre outras).
Segundo ela, a situação é preocupante porque, na
região de Barbacena, 85% da economia se baseia na agricultura
familiar. A pesquisa da Fundacentro mostrou ainda que 80% dos filhos
dos agricultores ajudam seus pais na lavoura e, desses, 80% não usam
equipamentos de proteção ao lidarem com defensivos agrícolas. Os
efeitos são sentidos também nas escolas. A chefe de gabinete da
Secretaria Municipal de Bem Estar Social, Cláudia Maria Figueiredo
Azevedo, disse que são comuns os casos de crianças apresentando
sintomas como desmaios, olhos irritados e alergias.
Para Adaih Neves dos Reis, técnico da Empresa de
Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais
(Emater/MG), presente ao encontro, o mesmo problema existe em outras
regiões do Estado. "Barbacena tem a felicidade de ter um
acompanhamento, o que traz a questão à tona", afirmou. O estudo da
Fundacentro foi o segundo realizado na região. Em 1984, a mesma
pesquisa foi produzida, constatando um índice de 61,5% de pessoas
intoxicadas. "Nada foi feito pelas autoridades depois desse
diagnóstico", denunciou Terezinha.
Educação - Os
participantes da audiência pública de Barbacena foram unânimes em
reconhecer que a solução para os problemas ligados ao uso indevido
de defensivos agrícolas está na educação. Adaih Neves dos Reis, da
Emater, justificando que é humanamente impossível fiscalizar a
aplicação de agrotóxicos junto aos cerca de 2 mil produtores rurais
da região, defendeu que a sociedade tenha mais acesso à origem dos
alimentos que consome.
Segundo a técnica da Fundacentro Terezinha Campos,
a oferta de equipamentos de proteção aos agricultores carentes é uma
medida paliativa e não resolve o problema. Ela defendeu um trabalho
mais ostensivo junto aos alunos, nas escolas, visando à mudança de
cultura. "Precisamos também, em caráter preventivo, preparar a
família rural para receber essa criança que chega com as novas
informações", salientou.
A conscientização dos produtores também foi
defendida por Sérgio Grossi, presidente do Instituto Rio Limpo, uma
organização não-governamental (ONG) que faz a limpeza periódica das
margens do Rio das Mortes. Ele afirmou que, freqüentemente, são
encontradas embalagens de agrotóxicos jogadas na beira do rio, que
fica a menos de 30 quilômetros do ponto de captação da água que
abastece mais de 50% da cidade de Barbacena.
Tecnologia - A defesa dos
agrotóxicos na reunião foi feita pelo presidente da Associação dos
Revendedores de Defensivos Agrícolas de Barbacena e Região, Danilo
Reis de Souza. Ele disse que, nos últimos anos, houve uma evolução
muito grande dos produtos, deixando-os menos ofensivos à saúde
humana e ao meio ambiente. O comerciante afirmou ainda que o uso
correto dos agrotóxicos pelos produtores rurais já eliminaria 99%
dos problemas verificados.
"Hoje, infelizmente, nós não conseguimos ainda
produzir alimentos com a quantidade e a qualidade necessárias sem a
utilização dos defensivos agrícolas", disse ele, acrescentando que,
apesar de fornecedor do produto, é também um consumidor e, portanto,
compartilha das mesmas preocupações manifestadas pelos demais
presentes na reunião.
Ao final da audiência pública, o deputado Edson
Rezende propôs a criação de um grupo de trabalho para apresentar e
implementar propostas, a fim de reduzir a incidência de problemas de
saúde em produtores rurais causados pelo uso incorreto de
agrotóxicos. O primeiro encontro acontece no dia 15 de julho, em
Barbacena.
Presenças - Participaram
da reunião o deputado Edson Rezende (PT), Adaih Neves dos Reis
(Emater), Terezinha Campos (Fundacentro), Vandir Dias de Moura (ONG
Vertente Solidária), Cláudia Maria Figueiredo Azevedo (Secretaria
Municipal de Bem Estar Social de Barbacena), Sérgio Grossi
(Instituto Rio Limpo), Márcio José da Silva (Sindicato dos
Trabalhadores Rurais de Barbacena), Leonardo Cocenza (Delegacia
Regional do Trabalho), Danilo Reis de Souza (Associação dos
Revendedores de Defensivos Agrícolas de Barbacena e Região), Renato
Oliveira Guimarães (Posto do Ministério do Trabalho em Barbacena),
Yeda Lúcia Gomes Dutra Costa (Secretaria Municipal de Educação) e
outras lideranças locais.
|