Educação à distância amplia oportunidades de ensino

O desinteresse do Congresso Nacional de regulamentar iniciativas de incentivo a programas de educação à distância, a ...

02/07/2002 - 12:00
 

Educação à distância amplia oportunidades de ensino

O desinteresse do Congresso Nacional de regulamentar iniciativas de incentivo a programas de educação à distância, a falta de prioridade destes projetos dentro do Ministério da Educação e Cultura (MEC) e a resistência dos próprios professores em adotar novas tecnologias de ensino são os principais obstáculos para a maior difusão de projetos de educação à distância no Brasil, que poderiam ampliar as oportunidades de aprendizado no país. Essa é a avaliação do presidente da Associação Brasileira de Educação a Distância (Abed), Frederic Litto, que participou, nesta quarta-feira (19/06/2002), de uma audiência pública da Comissão de Educação, Cultura, Ciência e Tecnologia para debater os Programas de Educação à Distância.

Para superar esses obstáculos, o presidente da Abed sugeriu que o Brasil deveria se libertar da mentalidade cartorial e confiar mais nas pessoas e instituições, permitindo a auto-regulamentação do setor e garantindo maior autonomia às escolas na concepção dos seus programas de educação à distância. Frederic Litto fez um relato sobre as tendências mundiais do ensino à distância, destacando a potencialidade das novas tecnologias aplicadas na educação, que viabilizam a democratização do conhecimento.

Na sua avaliação, Frederic Litto considerou que o Brasil avançou muito nos projetos de educação à distância aplicados ao ensino fundamental, à educação corporativa e à tecnológica. "Mas o Brasil vai mal nas aplicações voltadas para o ensino superior, sendo que existe uma forte demanda reprimida por esses cursos". Segundo o presidente da Abed, apenas 12% da população em idade para cursar o 3º grau no Brasil está na universidade, sendo que a média na América Latina é de 32% e, nos países desenvolvidos, 50%.

Ele advertiu que a Espanha e Inglaterra, principalmente, estão investindo pesadamente nesses programas e que teriam o objetivo de transferir suas experiências para países como o Brasil. A avaliação do presidente da Abed é de que o potencial desse mercado é muito grande e desperta muitos interesses. Apesar disso, cerca de 30 tentativas feitas no Congresso Nacional, desde 1971, para regulamentar as universidades abertas, principal porta de entrada dos cursos de educação à distância, fracassaram.

Litto adverte, porém, que o crescimento desse mercado traz alguns riscos. Entre eles, citou o perigo de estes projetos de educação à distância promoverem uma nova onda de colonização, tanto econômica quanto cultural. Além disso, segundo ele, corre-se o risco de se transformar o ensino em mercadoria. Mas, o presidente da Abed insistiu que essa é uma tendência mundial, sem retorno.

 

Pressão da OMC pode pôr em risco ensino público gratuito

O reitor da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), Dirceu do Nascimento, também manifestou a sua preocupação em relação às formas de expansão desse mercado. Ele criticou a pressão que os países desenvolvidos estão fazendo para a regulamentação dos serviços de educação no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC), pretendendo que o ensino superior seja incluído no rol dos 12 serviços submetidos ao Acordo Geral sobre o Comércio de Serviços (Gatt).

Dirceu do Nascimento advertiu que essa possibilidade transforma a educação em comércio, colocando em risco as políticas de educação pública gratuita como a via preferencial para a democratização do conhecimento. A professora da Universidade Federal de Ouro Preto, Maria do Carmo Vila, responsável pelo projeto de educação à distância da Ufop, esclareceu também que a opção do MEC é a de priorizar programas que mesclem metodologias presenciais e as que utilizam as novas tecnologias para promover a democratização do ensino. "Estamos caminhando nessa direção", disse ela.

Essa opção se justifica, conforme ponderação da professora, porque, entre outras razões, o Brasil ainda tem que solucionar outras carências antes de adotar projetos que utilizem exclusivamente tecnologias como a da internet. Ela exemplificou esta situação, citando a própria experiência da Ufop. "Nós pretendemos estender o nosso projeto para o Vale do Jequitinhonha, mas para chegarmos lá teremos de dar uma outra solução, pois a internet não alcança aqueles municípios".

Mesmo que essas carências não existissem, Maria do Carmo chamou atenção para a necessidade das escolas de criarem uma estrutura especializada para o atendimento dos cursos à distância. "É uma estrutura complexa, que vai desde a criação de sistemas de gestão do trabalho, sistemas tutoriais e operacionais, até a produção de materiais pedagógicos específicos. Ela frisou ainda que é preciso considerar que as avaliações de cursos, conforme orientação do MEC, devem ser presenciais e, para isso, as escolas devem ter também uma estrutura adequada para esse procedimento.

Ufop está formando mais de 3 mil professores

O projeto de educação à distância da Ufop está voltado para a os cursos de licenciatura, com o objetivo de atender a uma determinação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), que estabelece o prazo de 2006 para que todos os professores do ensino fundamental tenham concluído um curso superior. O projeto já foi implantado em dez pólos, atingindo 70 municípios e garantindo a formação de 3.128 professores de 1ª a 4ª séries do ensino fundamental, além de outros 192 em cursos de pós-graduação.

Os cursos são implantados em parceria com as prefeituras locais. O professor Mauro Schettino, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), esclareceu que o custo semestral de uma turma de 350 alunos, incluindo os gastos com manutenção, formação de uma biblioteca e materiais de consumo, é de R$ 142,5 mil, o que corresponde a uma parcela semestral por aluno de R$ 407,14 ou uma mensalidade de R$ 67,86.

Entidades reivindicam autonomia para o setor

O presidente do Instituto de Pesquisas Avançadas em Educação, João Roberto Moreira Alves, sustenta que as melhores experiências em educação à distância são aquelas que não possuem regulamentação. Segundo ele, a exigência de credenciamento pela União de cursos de educação à distância presente na Lei de Diretrizes Básicas da Educação é um desrespeito à Constituição Federal. "É um absurdo e uma norma inconstitucional. As instituições não devem renunciar aos princípios de autonomia universitária", afirmou.

Para o consultor na área de Educação Wilson Azevedo, o conceito de distância não pode ter um sentido apenas físico e geográfico, devendo ser observados os aspectos comunicacionais, psíquicos e relacionais. De acordo com ele, pode-se obter, na educação á distância, uma proximidade virtual e emocional, o que torna a presença física secundária. O consultor sugeriu a concessão de incentivos fiscais para que as tecnologias com fins educativos possam chegar a uma parcela maior da população.

O diretor de Educação à Distância da Secretaria de Estado da Educação, Estevam de Toledo, disse que os avanços na área estão acontecendo de forma gradativa, mas que seriam significativos. Entre as iniciativas, ele destacou o projeto Veredas, de formação superior de professores com metodologias de educação à distância. O projeto é resultado de um esforço conjunto de 18 universidades mineiras. "Não adianta ter equipamentos para as ações de virtualização sem se preparar os recursos humanos", comentou.

Deputado propõe a criação de uma Frente Parlamentar de Educação à Distância

O presidente da Comissão de Educação, Cultura, Ciência e Tecnologia, Dalmo Ribeiro Silva (PPB), e o deputado Eduardo Brandão (PL), presentes à reunião, puseram-se de acordo para encaminhar à Presidência da Assembléia Legislativa um pedido de criação de uma Frente Parlamentar de Educação à Distância. Ribeiro Silva defendeu a importância desse debate, não apenas para os profissionais que já atuam em programas de educação à distância, mas para todas as instituições ligadas à educação, e o fortalecimento das relações entre os programas de ensino à distância e de educação continuada, chamando atenção para que as escolas se estruturem não apenas para atender à demanda reprimida por vagas, mas também as novas necessidades dos estudantes.

O deputado Eduardo Brandão destacou que o ensino à distância é um poderoso instrumento de difusão do ensino de qualidade, capaz de encurtar distâncias e superar carências. Para ele, num país como o Brasil, marcado por muitas diferenças, a educação à distância poderá ser uma solução para derrubar as barreiras que hoje impedem a maior difusão do conhecimento.

Presenças - Participaram da reunião os deputados Dalmo Ribeiro Silva (PPB), Eduardo Brandão (PL), Adelmo Carneiro Leão (PT), José Henrique (PMDB) e Marco Régis (PL). A realização dessa reunião teve ainda o deputado Antônio Carlos Andrada (PSDB), como co-autor do requerimento que a originou.

 

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