Desverticalização da Cemig recebe parecer favorável
A Comissão de Constituição e Justiça da Assembléia
Legislativa de Minas Gerais aprovou, nesta terça-feira (25/6/2002),
parecer pela constitucionalidade, juridicidade e legalidade do
Projeto de Lei (PL) 1.416/2001, do governador, que trata da
desverticalização da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig). O
projeto dá nova redação ao artigo 2º da Lei 8.655/84, alterado pela
Lei 12.653/97, dispondo que os sistemas de geração, transmissão,
distribuição e comercialização de energia serão desenvolvidos e
explorados diretamente pela Cemig ou através de empresas
subsidiárias integrais. O projeto determina, ainda, que o Estado
detenha, em quaisquer circunstâncias, sempre a maioria das ações com
direito a voto. O relator do projeto na Comissão de Justiça foi o
deputado Eduardo Hermeto (PFL). A proposição segue agora para as
Comissões de Meio Ambiente e Recursos Naturais e Fiscalização
Financeira e Orçamentária, antes de ser apreciado pelo Plenário em
1º turno.
Posição do Governo - Ao
encaminhar o projeto à Assembléia, no início do ano passado, o
governador argumentou que o objetivo da proposta é adaptar a lei de
regência da Cemig ao novo modelo institucional do setor elétrico
nacional, concebido pelo governo federal e implementado pela Lei
Federal 9.648/98. Na justificativa do projeto, Itamar Franco lembrou
que seu governo adiou, o quanto pôde, a reorganização societária da
Cemig, "com o sadio propósito de melhor examinar a questão sob o
ponto de vista administrativo, societário e tributário". Mas, apesar
disso, não teve como deixar de apresentar o projeto, uma vez que o
Estado, na condição de acionista controlador da Cemig, "deve se
posicionar frente à exigência do Poder concedente (a União),
aprovando lei que permita implementar a reorganização societária da
Companhia, da forma a que se obrigou o Governo anterior".
Com relação ao modelo escolhido, o governador
informou que ele é fruto de estudos técnico- jurídicos desenvolvidos
pelos setores competentes da Cemig e é o que melhor atende aos
interesses da estatal, sugerindo a criação de empresas subsidiárias
integrais, que atuarão separadamente nas áreas de geração,
transmissão, distribuição e comercialização de energia
elétrica.
ASSEMBLÉIA PROMOVEU DEBATE SOBRE
DESVERTICALIZAÇÃO
Para debater o PL 1.416/2001, a Assembléia
Legislativa promoveu, em 15 de março do ano passado, o Ciclo de
Debates "Desverticalização da Cemig", com a participação de
representantes do governo, eletricitários, especialistas e
representantes da Aneel, além dos parlamentares. No evento, o
presidente da Cemig, Djalma Morais, afirmou que uma das
conseqüências da desverticalização será o aumento de até 2,4% das
tarifas, além do aumento de impostos de R$ 197 milhões - com a
empresa integrada - para R$ 261 milhões, após a criação de empresas
subsidiárias integrais para as atividades de geração, transmissão,
distribuição e comercialização de energia.
Djalma Morais disse, também, que, segundo estudos,
com a divisão da Cemig o lucro da empresa diminuirá de R$ 471
milhões para R$ 424 milhões. Um dos grandes problemas da cisão,
segundo ele, refere-se ao aumento da carga de impostos, que se
refletirá na forma de aumento das tarifas e de diminuição dos
investimentos. Presente ao debate, o presidente da Assembléia,
deputado Antônio Júlio (PMDB), alertou, na ocasião, que a cisão pode
ser a primeira etapa para a privatização total da empresa.
CEMIG E ANEEL TÊM POSIÇÕES DIFERENTES
Contrapondo-se à fala do representante da Aneel
presente ao encontro, Djalma Morais enfatizou que não será a
desverticalização a responsável pelo aporte maior de recursos no
setor. "Não temos tido problema de aporte de recursos. Não há
investimentos do Estado, mas da empresa, juntamente com
empreendedores. A Cemig tem gerado bons dividendos e atingido suas
metas sociais", disse.
Já o procurador-geral da Aneel, Cláudio Girardi,
afirmou, no debate de março de 2001, que o novo modelo proposto para
o setor explica-se pelo fato de que não é possível a convivência
ente atividades competitivas, como a de geração, com aquelas
reguladas, cujas tarifas são estabelecidas pela Aneel. As atividades
livres, enfatizou, atraem o investidor, promovem a concorrência e
resultam em preços mais baixos para os consumidores.
Competitividade - Cláudio Girardi defendeu,
ainda, outros aspectos do modelo de desverticalização. Segundo ele,
a abertura permitirá à Cemig participar de aproveitamentos de
potenciais hidráulicos em outros Estados, tornando-se mais
competitiva. Ele fez referência também às empresas que, para gerar
energia, não precisam mais se dirigir à concessionária em questão,
como ocorria antes. "Usinas hidráulicas de até 30 megawatts
podem ser
construídas, desde que os projetos sejam aprovados pela Aneel. Nada
mais lógico, então, para o Estado, que transferir a geração de
energia para as empresas", disse. Girardi, no entanto, esquivou-se
de comentar o assunto privatização. "Não compete à Aneel falar em
privatização; nós apenas fiscalizamos. Sendo a Cemig uma empresa do
Estado, ele é que tem soberania para decidir sobre a privatização",
completou.
CRÍTICAS À DESVERTICALIZAÇÃO
O coordenador-geral do Sindicato dos Trabalhadores
na Indústria Energética de Minas Gerais (Sindieletro), Marcelo
Correia Baptista, também presente do Ciclo de Debates realizado no
Plenário da Assembléia, fez várias críticas ao processo de
desverticalização e questionou, inclusive, a obrigatoriedade de o
Estado seguir o que determina o contrato de concessão. "Não existe
lei no Brasil que obriga as empresas a se dividirem. O contrato fere
o princípio da legalidade, por isso não caberia punição por parte do
órgão regulador", afirmou Correia, referindo-se à multa aplicada
pela Aneel pelo fato de o governo de Minas não ter implementado a
mudança.
Privatização - Entre os
prejuízos apontados - além de a cisão ser o caminho para a
privatização, segundo o Sindieletro -, estão: a perda de eficiência;
a desvalorização do patrimônio público; a dificuldade em promover o
desenvolvimento socioeconômico; o fim do atendimento social; a
elevação dos custos de transação; o prejuízo no que diz respeito à
tecnologia e à soberania; e dificuldades em manter investimentos. O
sindicalista pediu que a Assembléia Legislativa votasse contra a
desverticalização.
Outro participante do Ciclo de Debates que criticou
a desverticalização foi Luiz Pingueli Rosa, vice-diretor da
Coordenação dos Programas de Pós-Graduação em Engenharia
(Coppe/UFRJ). Para ele, o modelo adotado para o setor energético
brasileiro foi um absoluto fracasso em todos os aspectos, resultando
em aumento de tarifas, apagões e crise no setor. Pingueli Rosa disse
acreditar que a desverticalização seja o primeiro passo para a
privatização e defendeu a manutenção da Cemig sob controle
estatal.
OUTRAS PROPOSIÇÕES ANALISADAS PELA COMISSÃO DE
JUSTIÇA
Nesta terça-feira (25/6), a Comissão de
Constituição e Justiça analisou, ainda, outras duas proposições
sujeitas à apreciação do Plenário. A primeira foi o PL 2.160/2002,
do deputado Eduardo Brandão (PL), que dispõe sobre a proibição, nos
serviços de radiodifusão e emissoras de televisão, da execução de
música cuja letra contenha expressões atentatórias à moral e aos
bons costumes, que faça apologia a qualquer tipo de violência ou que
utilize termos de baixo calão. O projeto recebeu parecer favorável
da Comissão.
Segundo o relator, deputado Eduardo Hermeto, o
artigo 220 da Constituição Federal determina que "a manifestação do
pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer
forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição,
observado o disposto nesta Constituição" e que o inciso IV do artigo
221 diz que a produção e a programação das emissoras de rádio e
televisão atenderão aos princípios do "respeito aos valores éticos e
sociais da pessoa e da família". Assim, segundo o relator, o projeto
desenvolve, na via da legislação ordinária, matéria disciplinada em
termos genéricos pela Constituição, conferindo caráter mais
específico a "diretrizes principiológicas de índole constitucional,
estabelecendo inclusive disposições de natureza sancionatória a fim
de assegurar a efetividade do comando normativo".
Imóvel - Também foi
aprovado pela Comissão, nesta terça-feira, parecer contrário ao PL
1.968/2002, do deputado Wanderley Ávila (PPS), que autoriza doação
de imóvel ao município de Rio Vermelho. Segundo o relator, o projeto
visa à doação do imóvel para a construção de creche para a população
carente, mas a Secretaria de Recursos Humanos e Administração
informou que o bem está destinado aos serviços da Secretaria de
Estado da Educação, que o utilizará para o Centro de Educação
Continuada (Cesec), do município de Rio Vermelho. Uma vez que o
Executivo não mostrou disposição para alienar o imóvel, o relator,
deputado Ermano Batista (PSDB), opinou pela antijuridicidade do
projeto.
Diligência - Também na
pauta da reunião, o PL 2.172/2002, do deputado Cristiano Canêdo
(PTB), que altera o inciso I do artigo 2º da Lei 12.688/97, foi
convertido em diligência por determinação do presidente da
Comissão.
Presenças - Compareceram à
reunião os deputados Geraldo Rezende (PMDB), que a presidiu, Ailton
Vilela (PTB), Eduardo Hermeto (PFL), Ermano Batista (PSDB) e Sávio
Souza Cruz (PMDB).
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