Déficit potencial do Estado para 2003 é de mais de R$ 2 bilhões

O déficit potencial do Estado para 2003 é de mais de R$ 2 bilhões. A estimativa está no projeto de lei de diretrizes ...

19/06/2002 - 16:34
 

Déficit potencial do Estado para 2003 é de mais de R$ 2 bilhões

O déficit potencial do Estado para 2003 é de mais de R$ 2 bilhões. A estimativa está no projeto de lei de diretrizes orçamentárias (LDO), do governador, em tramitação na Assembléia Legislativa, que recebeu 111 emendas parlamentares. Para diminuir esse déficit, o Executivo aposta nas negociações com o governo federal, de acordo com o secretário adjunto de Estado do Planejamento e Coordenação Geral, Paulo Roberto Araújo, que falou, nesta quarta-feira (19/6/2002), à Comissão de Fiscalização Financeira e Orçamentária. Ele defendeu a revisão do acordo da dívida - um dos pontos em negociação -, com um prazo maior de pagamento e a redução dos juros (hoje entre 12% e 14% ao ano) para 3% a 6% ao ano. A dívida, hoje, é de R$ 28,756 bilhões.

Cuidado - Outros pontos negociados são: a restituição de R$ 850 milhões do Fundef (Fundo de Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério); o ressarcimento de US$ 1,340 bilhão relativos a investimentos nas rodovias federais de Minas, na década de 90; e a reposição de perdas com a Lei Kandir (de R$ 1,756 bilhão). No entanto, para o secretário adjunto de Estado da Fazenda, Flávio Riani, não se pode criar a expectativa de que as negociações com a União resolverão o problema de caixa, já que algumas nem terão resultado nesse governo. Segurança de recursos, acrescentou, se restringiriam, hoje, aos R$ 150 milhões de fundo do Estado no Banco Itaú, constituído para oferecer proteção em caso de problemas nos créditos assumidos pelo banco.

"É estruturalmente difícil a situação do Estado, mas há caminhos para resolvê-la, como melhorar a eficiência dos serviços públicos e renegociar a dívida e os demais pleitos com a União", ponderou o secretário adjunto de Planejamento, Paulo Roberto Araújo, em entrevista após a reunião. Ele apresentou diversos números para demonstrar a realidade de Minas. Entre eles, aqueles contidos no PL 2.176/2002, da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO). Segundo a proposição, a projeção da dívida líquida para 2003 é de R$ 1.666.170.147,00. O pagamento de pessoal corresponderia, de acordo com o secretário, a R$ 7,225 bilhões; e a projeção da receita está em R$ 8,966 bilhões.

Os recursos de fundo do Itaú foram mencionados em documento lido pelo presidente da Comissão de Fiscalização Financeira e Orçamentária, deputado Mauro Lobo (PSB), preparado por sua assessoria. No documento, o parlamentar menciona números desse fundo e do Fundef, bem como aqueles referentes à recompra, pelo Estado, da carteira habitacional da extinta Minas Caixa (R$ 1 bilhão) e à dívida do Estado para com a Cemig, relativos à Conta de Resultado a Compensar. "Os valores em negociação, se forem esses mesmos, embora expressivos, são uma gota d água no desequilíbrio fiscal de Minas Gerais e talvez representem os últimos recursos de que o Erário pode dispor para equacionar esse desequilíbrio, através da responsabilidade fiscal tomada como religião", alerta o deputado Mauro Lobo (PSB), no documento lido na reunião.

Balanço dos debates - Após a reunião, em entrevista à imprensa, o deputado Mauro Lobo (PSB) disse que o Executivo não trouxe muitas novidades à Comissão de Fiscalização Financeira e Orçamentária. "Há pouco a aliviar do caixa do Estado este ano", comentou, referindo-se às explicações repassadas sobre ressarcimentos e recursos a serem encaminhados pelo governo federal. Ele também comentou que o Estado não tem como cumprir a Lei de Responsabilidade Fiscal (Lei Complementar 101/2000).

FAZENDA PREVÊ DIFICULDADES EM OUTUBRO PARA PAGAR DÍVIDA

Além do projeto de lei que contém a LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias), a Comissão de Fiscalização Financeira e Orçamentária discutiu o cumprimento das metas fiscais referentes ao primeiro quadrimestre de 2002, bem como a situação das finanças públicas. O secretário adjunto de Estado da Fazenda, Flávio Riani, antecipou dificuldades para pagamento da dívida em outubro. Isto porque, segundo ele, além do pagamento normal, há vencimentos de compromissos externos da ordem de R$ 80 milhões. O comprometimento mensal de recursos para o serviço da dívida com a União é de R$ 120 milhões a R$ 140 milhões. "Se houver recuperação da arrecadação de ICMS, essa dificuldade pode ser minimizada", ponderou. Em abril, houve problemas com o pagamento e os conseqüentes bloqueios de recursos pelo governo federal (repasses como o do Fundo de Participação dos Estados - FPE).

ICMS cai - A previsão de arrecadação mensal de ICMS era de R$ 800 milhões, no início de 2002. As expectativas não se confirmaram, e os números ficaram em R$ 730 milhões. Flávio Riani apontou como justificativas para a queda o racionamento de energia e seu impacto nas atividades econômicas, bem como alterações na tributação de combustíveis. As perdas teriam sido minimizadas pela anistia fiscal, prevista em lei sancionada no final do ano passado. Foram R$ 250 milhões arrecadados (fora os R$ 100 milhões que couberam aos municípios) com a anistia.

EXECUTIVO GASTA 62,86% DA RECEITA CORRENTE LÍQUIDA COM PESSOAL

A Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) foi um tema recorrente na reunião desta quarta-feira (19/6) da Comissão de Fiscalização Financeira e Orçamentária da Alemg. O secretário adjunto de Estado do Planejamento, Paulo Roberto Araújo, informou que, hoje, o Executivo consome 62,86% da receita corrente líquida com pagamento de pessoal. A Lei de Responsabilidade Fiscal (Lei Complementar 101/2000) determina que o Executivo gaste 49%. O excesso, neste caso, é de 13,86%. "Não dá para cumprir a lei de imediato", argumentou Araújo.

Artifícios - Questionado pelo deputado Mauro Lobo (PSB) sobre o descumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal, o secretário disse que muitos Estados usaram "artifícios" para se adaptarem à legislação. Citou o exemplo da Bahia, que privatizou a Coelba (a companhia de eletricidade) e criou um fundo para pagar os aposentados. Esse fundo, disse, terá se esgotado em cinco anos. O deputado Mauro Lobo (PSB) lembrou que não estão cumprindo a LRF apenas três (Alagoas, Minas Gerais e Rio Grande do Sul) dos 27 estados brasileiros.

Paulo Roberto Araújo apresentou aos deputados números que demostrariam "rigidez com relação a pessoal", mas que também revelariam o comprometimento da folha de pagamento com educação, saúde e segurança - áreas em que o Estado precisa ser mais eficiente. A folha de pagamento de abril de 2002 foi de R$ 545,873 milhões. Excetuando-se os inativos, que consumiram R$ 223,732 milhões (cerca de 40%), os gastos com servidores da educação, saúde e segurança representaram R$ 284,985 milhões. O secretário adjunto do Planejamento, Paulo Roberto Araújo, informou que, entre 1998 e abril deste ano, houve a redução de 12 mil servidores das administrações direta e indireta. Hoje, há 450.891 servidores no Executivo, sendo 146 mil aposentados.

A Secretaria de Estado do Planejamento apresentou, ainda, números sobre a execução orçamentária de 1998 e de 2001. O déficit fiscal, em 1998, foi de R$ 866,676 milhões, resultado dos seguintes desempenhos: receita (basicamente ICMS) de R$ 5,356 bilhões; despesa (pagamento de pessoal, serviço da dívida, etc) de R$ 8,789 bilhões; resultado operacional de R$ 3,432 bilhões; e alienação de bens (entre os quais, venda do Credireal) de R$ 2,565 bilhões. Já em 2001 o déficit fiscal ficou em R$ 1,461 bilhão, resultado dos seguintes desempenhos: receita de R$ 8,187 bilhões (crescimento de 52,8%); despesa de R$ 9,838 bilhões (aumento de 11,9%); resultado operacional de R$ 1,650 bilhão (menos 51,9%); e alienação de bens restrita a R$ 189,218 milhões.

PRESIDENTE DA COMISSÃO RESSALTA DIFICULDADES EM 2003

O documento lido pelo presidente da Comissão de Fiscalização Financeira e Orçamentária, deputado Mauro Lobo (PSB), sobre as metas fiscais para 2003, ressalta que persistirá o quadro sério de desequilíbrio fiscal do Estado. A preços correntes, a previsão da receita é de R$ 19,128 bilhões. "Considerando o comportamento da receita estadual efetivamente realizada nos últimos quatro anos, e o que se pode esperar desse exercício, essa receita apresenta uma superestimativa de R$ 2 bilhões, que deverá aparecer na proposta orçamentária como as já habituais "outras receitas de capital", restituição da União", destaca. Desse total, estima-se que R$ 2,7 bilhões pertencem aos municípios, o que deixa para o Estado R$ 14,4 bilhões de receitas efetivas, disponíveis para trabalhar, completa o deputado Mauro Lobo (PSB).

No relatório, apresentado aos convidados no início da reunião desta quarta-feira (19/6), o deputado Mauro Lobo (PSB) destacou que o custeio da máquina pública e os investimentos, pressionados pelas vinculações de recursos com saúde, educação, ciência e tecnologia, deverão comprometer receitas inexistentes, gerando um déficit de R$ 2 bilhões.

COMO SE DÁ A TRAMITAÇÃO DA LEI DE DIRETRIZES ORÇAMENTÁRIAS

O projeto que contém a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) - PL 2.176/2002 - é analisado, em turno único, pela Comissão de Fiscalização Financeira e Orçamentária. Da discussão e votação do parecer na Comissão, poderão participar, com voz e voto, dois membros de cada uma das comissões permanentes às quais tenha sido distribuído o projeto, observado, tanto quanto possível, o princípio da proporcionalidade das representações partidárias ou do bloco parlamentar.

Depois de vencido o prazo de apresentação de emendas (ele terminou nesta terça-feira, 18/6), o presidente da Comissão proferirá, em dois dias, despacho de recebimento das emendas, que serão numeradas e publicadas, e dará publicidade, em separado, às que, por serem consideradas inconstitucionais, ilegais ou anti-regimentais, deixar de receber. A publicação no "Minas Gerais"/Diário do Legislativo ocorrerá nesta sexta-feira (21/6/2002). Do despacho de não recebimento de emendas caberá recurso, em 24 horas, ao presidente da Alemg, que terá dois dias para decidir. Esgotados todos os prazos, o projeto será encaminhado ao relator, para receber parecer. Enviado à Mesa da Assembléia, o parecer será publicado, incluindo o projeto na ordem do dia, para discussão e votação em turno único.

Presenças - Participaram da reunião os deputados Mauro Lobo (PSB), presidente; Ivair Nogueira (PMDB), vice-presidente; Dilzon Melo (PTB), Luiz Fernando Faria (PPB), Chico Rafael (PMDB) e Hely Tarqüínio (PSDB), além de Maria da Conceição Rezende, diretora da Superintendência Central de Contadoria Geral, representando o secretário de Estado do Planejamento, e Soraia Ghader, superintendente da Central de Orçamento, representando o secretário de Estado da Fazenda.

 

Responsável pela informação: Assessoria de Comunicação - 31 - 3290 7715