Excesso de leis dificulta compreensão e aplicação das normas

O excesso de leis, a difícil compreensão das normas e a necessidade de simplificar o ordenamento jurídico brasileiro ...

10/06/2002 - 19:18
 

Excesso de leis dificulta compreensão e aplicação das normas

O excesso de leis, a difícil compreensão das normas e a necessidade de simplificar o ordenamento jurídico brasileiro foram temas recorrentes na programação do Fórum Técnico "A consolidação das leis e o aperfeiçoamento da democracia" da tarde desta segunda-feira (10/6/2002), coordenada pelo deputado Cabo Morais (PL). A procuradora-geral do Estado, Carmen Lúcia Antunes Rocha, afirmou que haveria no Brasil um campo aberto à corrupção, tendo em vista a existência de inúmeras normas, modificadas freqüentemente, cujo conhecimento total ninguém possui nem pode cobrar. Participam do evento, que termina nesta terça-feira (11/6), estudantes, especialistas e técnicos dos Legislativos estadual e federal.

Exemplos - Carmen Lúcia citou o exemplo do novo Código Civil, que entrará em vigor apenas em 2003, mas que já tem cerca de mil propostas de modificação no Congresso Nacional. Outro exemplo é o de decreto recente do Executivo que revogou dezenas de normas, em vigor desde a década de 20, sobre o uso de veículos oficiais dos três Poderes do Estado. Segundo ela, citar todas as normas revogadas ("revogação expressa") consumiu horas de trabalho dos técnicos da Procuradoria-Geral do Estado. "Ainda hoje, muitas normas são elaboradas fazendo-se remissão a várias outras e somente quem as elaborou consegue, de fato, entendê-las", completou. "É um samba-do-crioulo-doido", disse o promotor de Justiça Geraldo Flávio Vasques, referindo-se à remissão.

Participação popular - Essa "insegurança jurídica", segundo Carmen Lúcia, deve ser objeto de análise na consolidação das leis (a grosso modo, a tarefa de reunir as leis existentes sobre determinado assunto em um texto único). A consolidação também deve levar em conta os princípios constitucionais republicano e de estabilidade política e jurídica e da participação popular. "É preciso democratizar o conhecimento das leis", resumiu a procuradora-geral do Estado, acrescentando que, se as pessoas não têm noção de seus direitos, é impossível participar do processo.

CONSOLIDAÇÃO PASSA TAMBÉM POR DECISÃO POLÍTICA

O gerente-geral de Consultoria Temática, Sabino José Fortes Fleury, defendeu que a consolidação das leis deve ser incluída num processo mais amplo: o da elaboração legislativa. Na opinião do consultor, a elaboração das leis, assim como a consolidação, envolve questões técnicas e jurídicas, mas também políticas. "O processo legislativo não é neutro; ele espelha as relações de poder e reflete a sociedade, que é desigual e complexa", enfatizou Sabino. Esse contexto político deve ser encarado, acrescentou, bem como deve ser observada a técnica legislativa na elaboração legislativa futura, independentemente dos problemas do passado.

O promotor de Justiça Geraldo Flávio Vasques também concorda com o fato de que a discussão não é somente técnica, mas também política. Para ele, por outro lado, a elaboração legislativa precisa também mudar, respondendo-se a perguntas como essas: o que pode ser objeto de norma jurídica; quais são as competências do legislador; se o projeto apresentado atende aos princípios constitucionais. "Os Poderes continuarão existindo, por isso chegaremos a um patamar em que será preciso consolidar tudo novamente", opinou, se não for reavaliada a elaboração legislativa.

Números - A tarefa de consolidar deve tratar, de forma diversa, os diferentes tipos de lei, na opinião de Sabino Fleury. Em Minas Gerais, por exemplo, as leis de declaração de utilidade pública (classificadas de "leis de efeito concreto") poderiam ser reunidas em um bloco, confirmando-se, depois, se as entidades em questão ainda existem, para revogar as normas. Segundo levantamento de 1947 até outubro de 1999, o Estado tinha 13.331 leis. Dessas, havia 1.052 revogadas; 4.660 (39%) de declaração de utilidade pública; 2.426 de denominação de prédios públicos; 896 de doação e aquisição de imóveis.

O tema "consolidação", discutido na Assembléia esta semana, está muito longe da realidade dos milhões de miseráveis do País, como enfatizou Sabino. Em contrapartida, é de fundamental importância para ampliar o conhecimento das leis e a participação da sociedade, contrapôs a procuradora-geral do Estado, Carmen Lúcia Antunes Rocha.

TÉCNICA LEGISLATIVA DEVE SER OBSERVADA NA CONSOLIDAÇÃO

A professora da PUC Minas Natália de Miranda Freire falou sobre o tema "A consolidação como objeto da técnica legislativa", abordando os critérios que devem ser observados na tarefa de consolidar. Grafia correta, linguagem clara e compreensível, organização e articulação do conteúdo, uso de advérbios e adjetivações foram aspectos abordados.

Leis - Natália fez referência também à Lei Complementar Federal 95/98, que contém diretrizes para elaborar leis, regras para padronizá-las e normas de consolidação; e ao Projeto de Lei (PL) 53/99, do deputado Sebastião Navarro Vieira (PFL), em tramitação na Alemg, que trata da redação, da alteração e da consolidação das leis. Natália Freire também distinguiu consolidação de codificação.

TV Assembléia vai reprisar - As palestras do Fórum Técnico "A consolidação das leis e o aperfeiçoamento da democracia" serão publicadas no "Minas Gerais"/"Diário do Legislativo" do dia 6 de julho. O evento também será reprisado pela TV Assembléia. As palestras e debates da manhã do dia 10 serão retransmitidos no dia 14 de junho, às 14 horas. No dia 17 de junho, também às 14 horas, será reprisada a programação da tarde do dia 10. Já a programação do fórum técnico do dia 11 de junho será apresentada pela TV Assembléia no dia 21 de junho: às 9 horas, a programação da manhã; e, às 14 horas, a programação da tarde.

 

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