Fórum Técnico na Alemg debate consolidação das leis

As diferentes opiniões sobre a necessidade, o formato e a quem caberia fazer a consolidação das leis brasileiras fora...

10/06/2002 - 14:49
 

Fórum Técnico na Alemg debate consolidação das leis

As diferentes opiniões sobre a necessidade, o formato e a quem caberia fazer a consolidação das leis brasileiras foram evidenciadas no Fórum Técnico "A consolidação das leis como instrumento de aperfeiçoamento da democracia", que a Assembléia Legislativa de Minas Gerais promove até esta terça-feira (11/6/2002). "O quadro é mesmo caótico", ilustrou o consultor do Senado Gabriel Dezen Júnior, classificando como "astronômico" o número de 14 normas criadas por dia no Brasil (levantamento entre 5 de outubro de 1998 e final de 2000). Para o consultor, a tarefa de consolidar (reunir as leis existentes em um texto único) seria simplesmente executiva e caberia ao Legislativo a fiscalização do processo.

Já o professor da Faculdade de Direito da UFMG Menelick de Carvalho Neto, apesar de não ser contra a racionalização, pondera que não se deve ter a ilusão de que, com ela, seria possível evitar problemas de interpretação do Direito. "A legislação é complexa, pois a realidade e a sociedade são complexas", enfatizou. Na opinião de Menelick, a inflação legislativa não será resolvida com a inflação constitucional. "A questão não será solucionada com normas e textos", disse, acrescentando que a sociedade precisa participar desse debate.

Objetivos - O fórum técnico, que teve início na manhã desta segunda-feira (10/6/2002), pretende criar um marco teórico sobre consolidação de leis e estabelecer referências técnicas para a execução de políticas de racionalização do processo legislativo e de simplificação do ordenamento jurídico. Simplificar o sistema legal pode evitar conflitos na Justiça e ampliar o conhecimento da legislação pela sociedade. A iniciativa da Alemg, inédita no País, foi elogiada no evento.

CONSULTOR DO SENADO CRITICA EXCESSO DE LEIS

A "tentadora facilidade de legislar" foi criticada pelo consultor do Senado Gabriel Dezen Júnior. Segundo ele, essa situação ocorre tanto no âmbito federal quanto no estadual, quando não há inspiração maior do legislador - que atua "ao sabor dos ventos" e não se debruça sobre o que, de fato, deve legislar. Ele defendeu que sejam inseridos, na Constituição, princípios processuais para conter o excesso de atividade legislativa. "Essa contenção não tem o objetivo de engessar o parlamentar, mas instituir princípios constitucionais de ordenação da atividade", afirmou. Exemplificando: se o político quer legislar sobre Polícia Militar, ele deve incluir o texto no Código da PM. O consultor enfatizou, ainda, que a "abundância legislativa" não é sinônimo de efetividade ou de eficiência.

O que é consolidar? - Na opinião de Gabriel Dezen Júnior, é preciso distinguir também codificação de consolidação - termos de difícil entendimento pelo cidadão. Codificar, segundo o consultor do Senado, é tarefa do Legislativo, que pressupõe renovação do Direito. Já consolidar seria simplesmente integrar o Direito existente em um texto único, sem inovação. "Na consolidação, a ação legislativa é apenas fiscalizatória", opinou. Desta forma, os parlamentares apenas verificariam se o Executivo, a pretexto de consolidar, estaria ou não inovando.

OAB DIZ QUE CONSOLIDAÇÃO PODE FACILITAR TRABALHO DA JUSTIÇA

Facilitar a vida dos operadores do Direito é um dos benefícios da consolidação das leis apontados pelo presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/Seção Minas Gerais), Marcelo Leonardo. Ele se referiu às dificuldades atuais de acesso à legislação e de saber o que está em vigor e o que foi ou não revogado. Para exemplificar, o presidente da OAB/MG lembrou as modificações da Lei Complementar Federal 95/98, que contém diretrizes para elaborar leis, regras para padronizá-las e normas de consolidação. Essa norma foi alterada pela Lei Complementar 107/2001. Já a regulamentação abrangeu um primeiro decreto, o 2.954/99, que foi modificado pelo Decreto 4.176/2002, de março. Marcelo Leonardo classificou o universo das leis como um "cipoal".

Curso de Direito na berlinda - O presidente da OAB/MG mostrou-se preocupado, no fórum técnico, com a proliferação e a qualidade dos cursos de Direito. Vale lembrar que os profissionais oriundos desses cursos estão também ligados, de diferentes formas, à tarefa da consolidação. No Brasil, são mais de 400 cursos de Direito e, em Minas Gerais, 45. Apenas na cidade de Belo Horizonte há oito cursos. Marcelo Leonardo mostrou que, no primeiro exame para ingresso na OAB de 2002, mais de 2,3 mil candidatos se inscreveram. "Os níveis de aprovação estão caindo", constatou, referindo-se a esses exames.

CONSULTORA DA UNIÃO MOSTRA TRABALHO EM ÂMBITO FEDERAL

Atuou como debatedora na manhã desta segunda-feira (10/6) a consultora da União Marisa de Souza Alonso. Integrante do Grupo Executivo da Casa Civil da Presidência da República que trabalhou na consolidação, Marisa relatou que o primeiro susto foi com a quantidade de normas legais "ditas em vigor": 28 mil leis, sendo 14 mil passíveis de consolidação, já que eram de caráter geral. Passado esse susto, o grupo executivo fez um trabalho conjunto com o Prodasen, do Senado Federal, que desenvolveu um banco de dados com a legislação federal existente. O resultado dessa atividade de consolidação feita pelo governo federal foi a apresentação de 10 projetos indicando a revogação expressa de algumas normas. Os projetos estão hoje no Congresso Nacional.

O que Minas já fez - O deputado Eduardo Brandão (PL), coordenador do grupo encarregado da consolidação na Assembléia de Minas Gerais, fez um histórico das normas mineiras, ressaltando que o acúmulo de matérias aponta a necessidade de rever a legislação. O deputado informou sobre trabalho já realizado, de levantamento de toda a legislação ambiental, considerado um "projeto-piloto" da consolidação em Minas. Os deputados Sebastião Navarro Vieira (PFL) e Wanderley Ávila (PPS) foram responsáveis por essa primeira iniciativa.

 

 

 

 

 

 

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