Bacia do São Francisco é tema de reunião em Montes Claros

Ocupação desordenada, degradação ambiental em larga escala, uso de sistemas de irrigação inadequados para a região se...

04/06/2002 - 17:41
 

Bacia do São Francisco é tema de reunião em Montes Claros

Ocupação desordenada, degradação ambiental em larga escala, uso de sistemas de irrigação inadequados para a região semi-árida e conflitos quanto ao uso da água envolvendo produtores rurais. Esses são alguns problemas da Bacia do Rio Verde Grande, que serão discutidos na reunião regional do Seminário Legislativo "Águas de Minas II" em Montes Claros, no próximo sábado (8/6/2002), a partir das 10h30. O local do encontro, que será coordenado pelo deputado Gil Pereira (PPB), é a Câmara Municipal/Sala Geraldo Freire (avenida Dr. João Luiz de Almeida, nº 40). Cinqüenta e cinco municípios da região foram convidados a participar do evento.

A reunião regional em Montes Claros é a sexta e última realizada em municípios da Bacia do Rio São Francisco. Ainda esta semana acontece a reunião de Pirapora (7/6) e as demais aconteceram em Lagoa Santa (12 de abril), Divinópolis (26 de abril), Conselheiro Lafaiete (30 de abril) e Paracatu (16 de maio). O Rio Verde Grande é afluente da margem direita do São Francisco e sua bacia está, a maior parte (87%), no Norte de Minas e o restante no Sudoeste da Bahia. Ela abrange 27 municípios mineiros e nove baianos, tendo como principais pólos regionais Montes Claros e Janaúba, que se consolida como importante centro de desenvolvimento econômico por causa da expansão da agricultura irrigada. Os Projetos Jaíba e Gorutuba estão implantados nessa região.

Sugestões - Dos encontros no interior do Estado participam representantes do poder público, da sociedade civil organizada e dos usuários da água (companhias de abastecimento, indústrias, produtores rurais etc). Eles podem encaminhar sugestões sobre gestão, gerenciamento dos recursos hídricos e agências de bacia, temas que geraram relatórios com propostas preliminares, apresentadas pelas Comissões Técnicas Interinstitucionais (CTIs) do evento. Essas comissões são integradas por organizações governamentais e não-governamentais, que auxiliam a Assembléia a promover o seminário. Em Montes Claros, assim como nas outras reuniões regionais, serão eleitos seis delegados que terão direito a voz e voto na plenária final, marcada para os dias 1º a 3 de julho, em Belo Horizonte.

O coordenador do evento em Montes Claros, deputado Gil Pereira (PPB), ressalta que os recursos hídricos são estratégicos para o desenvolvimento econômico da região. "Nossa expectativa com relação ao encontro é grande, pois nele podem ser apresentadas propostas para recuperar os rios, que estão morrendo", acrescenta. É de autoria do parlamentar a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 83/2002, que institui, por 20 anos, o Fundo para a Revitalização Hidroambiental e o Desenvolvimento Sustentável da Bacia do Rio São Francisco em território mineiro. O objetivo é custear programas e projetos governamentais de recuperação hidroambiental do rio e de seus afluentes e de desenvolvimento sustentável da região banhada por eles. O fundo será constituído por 0,5% do produto da arrecadação dos impostos de competência do Estado, deduzidas as vinculações ou participações constitucionais. A proposta aguarda, agora, parecer da Comissão Especial criada para analisá-la, antes da discussão e votação, em 1º turno, pelo Plenário da Assembléia Legislativa.

Municípios representados em Montes Claros - Arinos, Bocaiúva, Bonfinópolis de Minas, Bonito de Minas, Brasília de Minas, Buritis, Capitão Enéias, Catuti, Chapada Gaúcha, Cônego Marinho, Espinosa, Formoso, Francisco Sá, Gameleiras, Glaucilândia, Guaraciama, Ibiracatu, Itacarambi, Jaíba, Janaúba, Januária, Japonvar, Juramento, Juvenília, Lontra, Luislândia, Mamonas, Manga, Matias Cardoso, Mato Verde, Mirabela, Miravânia, Montalvânia, Monte Azul, Montes Claros, Nova Porteirinha, Pai Pedro, Patis, Pedras de Maria da Cruz, Pintópolis, Porteirinha, Riachinho, Riacho dos Machados, Santa Fé de Minas, Santo Antônio do Retiro, São Francisco, São João da Ponte, São João das Missões, São Romão, Serranópolis de Minas, Unaí, Uruana de Minas, Urucuia, Varzelândia e Verdelândia.

PARTICIPANTES PODERÃO APRESENTAR SUGESTÕES EM MONTES CLAROS

No relatório "Gerenciamento das Águas", produzido por uma das três comissões técnicas interinstitucionais do seminário, uma das propostas é efetivar o Fundo de Recuperação, Proteção e Desenvolvimento Sustentável das Bacias Hidrográficas de Minas Gerais (Fhidro), a fim de deflagrar a consolidação dos comitês de bacias hidrográficas. Outras propostas são: inserir indicadores biológicos de toxicidade no sistema de monitoramento das águas de Minas Gerais, no prazo máximo de um ano após a plenária final do seminário; e inserir, no Código Estadual de Saúde, capítulo específico dedicado ao tema "Saúde Ambiental".

Agricultura - O relatório "Gerenciamento dos Recursos Hídricos" lista 42 propostas, que serão discutidas na reunião de Montes Claros. Entre elas, as seguintes: criação de dispositivos legais que estabeleçam regras rígidas, visando à proibição de dragagens, retificação e impermeabilização de canais naturais de rios; estímulo à criação de associações de agricultores e pecuaristas, com o objetivo de envolver esse segmento no processo de consolidação da política de recursos hídricos; criação de mecanismos indutores e motivadores da participação da agricultura no Sistema de Gerenciamento de Recursos Hídricos, enfatizando a importância do setor como produtor de água e esclarecendo sobre filosofia da cobrança pelo uso das águas; tratamento diferenciado para os usuários das águas na agricultura, ao se estabelecer a cobrança pelo uso das águas, em especial no que se refere a mecanismos de indução de práticas conservacionistas no manejo do solo.

Oscips - O grupo que estudou o tema "Agências de bacia" apresentou a proposta de que essas agências sejam, preferencialmente, organizações da sociedade civil de interesse público (Oscips), "mais adequadas à agilização dos processos de gerenciamento de pessoal e de aquisição de bens e serviços".

COMISSÃO SE MOBILIZA PARA FORMAR COMITÊ DO VERDE GRANDE

Segundo o responsável pelo Escritório Técnico da Bacia do Verde Grande, Luiz Lobo, o debate poderá estimular o envolvimento de todos os interessados na busca de soluções para os problemas da água, inclusive o segmento político. Integrante da Comissão Pró-Comitê Federal da Bacia, Luiz Lobo informa que já foram concluídas as reuniões de esclarecimento sobre o papel do comitê e, até agosto, serão realizadas assembléias visando à eleição dos integrantes. Os encontros serão em Montes Claros, Janaúba e Espinosa. A comissão pró-comitê, criada em janeiro deste ano, tem o objetivo de coordenar o processo de estruturação do comitê federal. Ela possui 14 membros, entre poder público, sociedade civil organizada e usuários da água (companhias de abastecimento, produtos rurais, indústrias etc), reproduzindo a representatividade do comitê de bacia.

Enquanto esse trabalho de mobilização está sendo feito, o escritório técnico aguarda a decisão do Conselho Nacional de Recursos Hídricos quanto à criação do comitê federal. O escritório existe desde junho de 2001 e é ligado à Agência Nacional de Águas (ANA). Luiz Lobo informa que a ANA, ao ser criada, em 2000, priorizou uma bacia-piloto para iniciar seu trabalho. A bacia escolhida foi a do Verde Grande, tendo em vista, entre outros fatores, sua importância econômica para a região, a existência de estudos técnicos suficientes e os vários conflitos instaurados em função do uso da água para irrigação. Essa era também, segundo Lobo, a única bacia onde estava suspensa, desde 1996, a outorga (autorização para captação da água). De acordo com o escritório técnico, será concluído em dois meses o cadastramento de todos os usuários da bacia e, a partir daí, será retomado o processo de outorga. A previsão é de que ele seja reiniciado em dezembro deste ano.

Segundo o superintendente da Codevasf (Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco) em Minas Gerais, Ciríaco Serpa, é um avanço a constituição do comitê federal no formato previsto pela legislação em vigor. "Tudo o que o comitê decidir terá conseqüências, o que dará um novo rumo ao debate sobre a água", ressalta Serpa, que foi presidente de comitê instituído na região em período que antecedeu a aprovação da política nacional de recursos hídricos.

 

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