ALMG debate violência sexual contra crianças e adolescentes

Elaborar um plano estadual de combate à violência contra crianças e adolescentes e estabelecer políticas públicas mai...

17/05/2002 - 16:35
 

ALMG debate violência sexual contra crianças e adolescentes

Elaborar um plano estadual de combate à violência contra crianças e adolescentes e estabelecer políticas públicas mais definidas, esclarecendo o papel da sociedade e do Poder Público. Estes são, de acordo com o deputado Rogério Correia (PT), os principais objetivos do Debate Público "Violência Sexual Contra Crianças e Adolescentes", realizado nesta sexta-feira (17/5/2002), no Plenário da Assembléia Legislativa.

Segundo o parlamentar, que coordenou os trabalhos, não basta detectar a gravidade do problema, é preciso discutir propostas para enfrentá-lo. O deputado Rogério Correia iniciou o debate fazendo uma breve explanação sobre os trabalhos da Comissão Especial da Prostituição Infantil da Assembléia, presidida por ele, que investiga a suspeita de favorecimento de prostituição infantil no Estado.

Integração - Durante a abertura, o presidente do Conselho Estadual de Defesa da Criança e do Adolescente, Geraldo Oliveira Filho, disse que as ações de combate à violência contra crianças e adolescentes devem ser orientadas por seis eixos básicos. São eles: análise da situação; mobilização e articulação; defesa e responsabilização; prevenção; apoio da mídia; e, principalmente, integração da rede de combate.

Para Geraldo Oliveira, os bolsões de pobreza existentes no Estado não são responsáveis diretos pelo problema, porém, são condutores de violência. Ele criticou a atual política econômica que, segundo ele, não gera empregos para a população. O presidente do Conselho salientou a necessidade de criação, em todos os municípios mineiros, de conselhos de defesa da criança e do adolescente, que ele afirmou existirem em pouco mais de 300 municípios mineiros.

A representante do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, Kênia Augusta Figueiredo, falou sobre a necessidade de se criar uma rede de proteção e delegacias especializadas. Ela ainda afirmou a necessidade de fortalecimento dos conselhos tutelares da criança e do adolescente e disse que é preciso "ganhar" a opinião pública. "É preciso encorajar as pessoas para que elas não se silenciem", comentou.

Estatuto - Segundo o coordenador de apoio operacional às Promotorias de Justiça da Infância e da Juventude de Minas Gerais, promotor José Ronald Vasconcelos Albergaria, a miséria é o maior abuso praticado contra a criança e o adolescente. Albergaria salientou a necessidade da participação da comunidade na implantação de políticas sociais e o fortalecimento dos Conselhos de Direitos, existentes atualmente no Estado.

"O Estatuto da Criança e do Adolescente tem como prerrogativa a prioridade absoluta de atendimento, mas isso não acontece na prática", denunciou Albergaria. Ele afirmou que os direitos garantidos no Estatuto, há 11 anos, ainda não são respeitados. Albergaria sugeriu a criação de delegacia e promotoria especiais, além de varas criminais especializadas no combate à violência contra crianças e adolescentes.

Violência doméstica - A família como praticante de violência contra crianças e adolescentes foi o assunto abordado pelo juiz da Infância e Juventude de Belo Horizonte, Tarcísio José Martins Costa. Ele afirmou ser este um problema de grandes dimensões, que atinge não só o Brasil, mas todo o mundo. O juiz sugeriu três tipos de prevenção, a geral, a detectada e a específica, como caminhos para a diminuição desse quadro de violência. Entre as sugestões apresentadas para a prevenção geral está a intervenção sobre os fatores socioeconômicos, como as políticas públicas de renda mínima. A prevenção detectada incidiria sobre os vitimados, e a específica sobre crianças e adolescentes envolvidos na rede de prostituição. Tarcísio Costa enfatizou, ainda, a necessidade da implantação de uma política específica para a juventude, além de conscientizar a sociedade sobre a responsabilidade ética da questão.

Prefeitura - Representando a Prefeitura Municipal de Belo Horizonte, o chefe de gabinete da Secretaria Municipal dos Direitos de Cidadania, Carlos Calazans, comentou sobre dois programas implantados pela PBH, relacionados a violência sexual: "Casa Bem Vinda" e "Casa Sempre Viva". O primeiro recebe denúncias e orienta mulheres vítimas de abusos sexuais. Caso seja necessário, essas mulheres são encaminhadas para a Casa Sempre Viva, onde recebem melhores cuidados e assistência especializada. Calazans afirmou que a Prefeitura também será parceira no combate ao abuso sexual contra crianças e adolescentes.

Em nome do Tribunal de Justiça, o desembargador Joaquim Alves de Andrade elogiou o trabalho desenvolvido pela Comissão Especial da Prostituição Infantil da Assembléia mineira. Ele disse ser necessário que a comissão seja permanente, pois, segundo ele, a Assembléia é capaz de enfrentar focos de corrupção praticados contra crianças e adolescentes.

Primeiro Painel

"Os canais de denúncias e a articulação entre eles" foi o tema do primeiro painel abordado durante o debate público. O jornalista e assessor de Direitos Humanos da Visão Mundial, Antônio Coquito, falou sobre a importância da Campanha Estadual de Combate à Violência Doméstica, Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. Coquito disse ser necessário priorizar o humano, o desenvolvimento da criança e combater a relação autoritária e burguesa que, segundo ele, norteia a exploração sexual. Entre as conquistas adquiridas durante os dois anos de implantação da Campanha, ele citou a criação do disque-denúncia, a mobilização da sociedade, a aproximação com diversas entidades, além da criação de um grupo multiprofissional de combate à violência, do Centro de Referência à Violência Doméstica e do Conselho de Promotores da Infância e da Juventude do Estado de Minas Gerais.

Coquito falou também sobre a importância da popularização do Estatuto da Criança e do Adolescente e do fortalecimento dos Conselhos Tutelares. "O Estatuto ainda não foi efetivado nos poderes executivos municipais. Muitas cidades não possuem seus conselhos tutelares e isso precisa ser urgentemente modificado", afirmou.

A diretora do Centro de Referência da Setascad/MG, Bernadete Dutra Santos, comentou sobre os programas e projetos de atenção às vítimas de violência. Ela sugeriu que as campanhas sejam ininterruptas, que os investimentos para essa área sejam revisados e que sejam criadas estruturas adequadas para as atividades dos Conselhos Tutelares. Bernadete pediu, ainda, agilidade na aprovação do Projeto de Lei (PL) 1.046/2000, de autoria do deputado Ailton Vilela (PTB), que institui o programa de serviços disque-denúncia no Estado de Minas Gerais. "Esse programa precisa ser oficializado pois seus resultados são positivos", salientou.

Os resultados positivos e a grande utilização do serviço de disque-denúncia foram reafirmados pela representante da Diretoria do Disque Direitos Humanos, da Secretaria Estadual Adjunta de Direitos Humanos, Clarissa Ramos Duarte. Segundo ela, o serviço, que está em funcionamento desde 2000, recebeu de janeiro a abril deste ano 100 denúncias sobre violência sexual, e 583 denúncias no ano anterior. Clarissa Ramos informou, também, que a Secretaria implantou um núcleo de atendimento às vítimas de crimes violentos. "Auxiliamos crianças e adolescentes vítimas de abuso sexual e essas denúncias já correspondem a 37% da demanda de 2002", afirmou.

Composição da Mesa: presidente da Comissão Especial da Prostituição Infantil, deputado Rogério Correia (PT), deputada Maria José Haueisen (PT), coordenador de apoio operacional às Promotorias de Justiça da Infância e da Juventude de Minas Gerais, José Ronald Vasconcelos Albergaria; juiz da Infância e Juventude de Belo Horizonte, Tarcísio José Martins Costa; presidente do Conselho Estadual de Defesa da Criança e do Adolescente, Geraldo Oliveira Filho; representante do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, Kênia Augusta Figueiredo; chefe de gabinete da Secretaria Municipal dos Direitos de Cidadania de Belo Horizonte, Carlos Calazans; desembargador Joaquim Alves de Andrade; jornalista e assessor de Direitos Humanos da Visão Mundial, Antônio Coquito; diretora do Centro de Referência da Setascad/MG, Bernadete Dutra Santos; representante da Diretoria do Disque Direitos Humanos, da Secretaria Estadual Adjunta de Direitos Humanos, Clarissa Ramos Duarte; representando a Polícia Militar, major Mírian Assupção; e representando a 4ª Divisão do Exército, o major Lincoln Duque Barbarela.

 

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