CPI investiga fugas de presos em Juiz de Fora e
Ibirité
A CPI do Sistema Prisional da Assembléia
Legislativa do Estado de Minas Gerais recebeu, nesta terça-feira
(14/5/2002), o delegado de polícia Elder Gonçalo Monteiro Dangelo e
o detetive Marcelo Barros Romualdo. Cada um prestou depoimento a
respeito de dois casos distintos envolvendo agentes penitenciários
na facilitação de fuga de prisioneiros nas instituições carcerárias
de Minas Gerais. Segundo o presidente da Comissão, deputado Ermano
Batista (PSDB), o objetivo da CPI é apurar as inúmeras denúncias de
irregularidades no sistema penitenciário do Estado. Para ele, as
penitenciárias se transformaram em verdadeiros quartéis-generais de
criminosos, que servem de álibi para que eles cometam seus
crimes.
O delegado Elder Gonçalo Monteiro Dangelo falou
sobre a fuga de quatro prisioneiros do Centro de Remanejamento da
Secretaria de Segurança Pública (Ceresp) de Juiz de Fora, em
fevereiro de 2001. Os prisioneiros escaparam durante um churrasco
promovido por dois policiais que estavam de plantão, no final de
semana. Na época, Elder era o delegado responsável pela instituição,
além de comandar o Presídio Santa Teresinha, mas não estava no
Ceresp quando ocorreu a fuga. "Fazer uma festa destas é
absolutamente irregular e anormal. Se isto não estivesse acontecido,
estes bandidos estariam presos hoje", pondera o delegado. Para o
deputado Alberto Bejani (PFL), relator auxiliar da CPI, o delegado é
uma pessoa séria e não foi responsável pelo o que ocorreu no
Ceresp.
Na fuga, os quatro prisioneiros pegaram o carro da
polícia, levaram armas e munição e no percurso seqüestraram um
vereador da cidade, obrigando-o a pagar R$ 30 mil para soltá-lo. Dos
quatro bandidos, três fugiram e um morreu porque capotou o carro da
polícia. O delegado responsável pelo inquérito e pela sindicância do
caso, Renato Álfio Cutti, concluiu pelo afastamento de 30 dias dos
detetives e o caso foi arquivado.
Isso causou indignação ao deputado Irani Barbosa
(PSD), autor da CPI. "Detetives que facilitam fuga ou vendem drogas
e armas não podem pegar apenas 30 dias de suspensão. A promiscuidade
do sistema carcerário está tão grande que a impressão é de que o
Brasil é um país sem lei", afirma Irani Barbosa.
Mais um caso - O segundo
depoimento prestado nesta terça-feira na CPI do Sistema Prisional
foi do detetive da Polícia Civil de Minas Gerias, Marcelo Barros
Romualdo. Ele era o responsável pelo setor carcerário da cadeia de
Ibirité em setembro de 2000, quando quatro detentos foram soltos,
entre eles Daniel Renan, que cometeu três crimes no período que
estava em liberdade. Segundo Marcelo, o delegado da cadeia de
Ibirité, Marco Aurélio dos Anjos, soltou os presos para que eles
pudessem passar o feriado de 7 de setembro com a família. "Não foi a
primeira vez que o delegado fez isso com o Daniel. Eu me recusei a
soltar o preso na ocasião e entreguei a chave da cela para o
delegado", conta Marcelo. Os presos voltaram cinco dias depois, mas
quando Daniel soube que estava sendo procurado por ter cometido
crimes, inclusive latrocínio, ele desapareceu misteriosamente da
cadeia, na qual ficava fora da cela durante todo o dia. Até hoje
Daniel está foragido.
No final da reunião, foram aprovados os
requerimentos do deputado Alberto Bejani para que as seguintes
pessoas prestassem depoimento: delegado Renato Alfio Ciutti,
inspetor Tardieu Silva, detetive Paulo Roberto Murta Jardim, detento
Franciso de Paula Filho, do Cerespe de Ipatinga. Também foram
solicitadas ao detetive Marcelo Romualdo cópias dos documentos
relatados em seu depoimento e que seja oficiado o Corregedor Geral
de Polícia, Sérgio Francisco de Freitas, para que envie à CPI
informações referentes a inquéritos policiais e sindicâncias
administrativas dos casos.
O deputado Luiz Tadeu Leite (PMDB) também
participou da reunião.
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