Ciclo de debates sobre cotas para negros nas universidades

A reserva de vagas para negros nas universidades públicas foi o tema do ciclo de debates "Cotas para negros", realiza...

13/05/2002 - 18:44
 

Ciclo de debates sobre cotas para negros nas universidades

A reserva de vagas para negros nas universidades públicas foi o tema do ciclo de debates "Cotas para negros", realizado a pedido do deputado Paulo Piau (PFL) no Plenário da Assembléia Legislativa nesta segunda-feira (13/5/2002), dia em que se comemora a abolição da escravatura. Com a participação de representantes de entidades de defesa dos direitos da população afro-descendente, o debate serviu também como forma de apresentação de quatro Projetos de Lei (PLs) de interesse da população negra. O mais polêmico é o PL 1.826/2001, do deputado Amilcar Martins (PSDB), que garante aos negros 20% das vagas nas universidades estaduais mineiras (Uemg e Unimontes).

A representante da reitoria da UFMG, Maria José Salon, disse que a maior universidade pública do Estado vem-se preocupando com a igualdade de oportunidades, mas não pretende implantar cotas. "Nossa preocupação inclui não apenas o acesso à universidade, mas também a permanência do aluno. Muitas vezes o negro consegue entrar, mas se perde durante sua trajetória acadêmica. Por isso nós estamos implantando um projeto de assistência aos estudantes", explicou.

Mas a necessidade de estabelecimento das cotas foi quase um consenso entre os demais participantes do debate. Argumentos a favor não faltaram. "As cotas são uma reparação histórica", afirmou a coordenadora municipal da comunidade negra, Vânia Diniz. "A maioria dos pobres no Brasil é de origem africana, e vive em condições subumanas. Estamos diante de um genocídio cotidiano, sutil e perverso. O estabelecimento de cotas não resolve o problema do racismo, é apenas um paliativo. Mas se nada for feito, a situação de desigualdade tende a perdurar", disse o representante da Fundação Centro de Cultura Negra em Minas Gerais, Marco Antônio Cardoso.

Essa opinião é compartilhada pelo ex-ministro da Cultura Aluísio Pimenta. "A cota pode criar uma massa crítica de pessoas capazes de ocupar cargos no Legislativo, Executivo e Judiciário", disse, citando o exemplo dos Estados Unidos, onde já existe política semelhante. "A fixação de cotas não desqualifica o negro, mas reafirma nossa identidade. O não acesso à educação superior é uma das mais perversas formas de exclusão social. Por isso, a discussão das cotas é uma questão de justiça", defendeu a coordenadora do Nzinga - Coletivo de Mulheres Negras, Benilda Regina Paiva de Brito.

O professor da Universidade de São Paulo (USP), Kabengele Munanga, também é a favor das cotas, mas lembrou que a discriminação dos negros vai além da dificuldade de acesso à universidade. "A exclusão do negro não pode ser debitada apenas a fatores econômicos. Antes, vem o racismo, que não é apenas mais um resíduo da escravidão, pois já se enraizou no tecido social e na cultura brasileira. Na maioria das vezes, o livro didático é repleto de preconceitos, e muitos educadores não têm preparo para lidar com a diversidade étnica", explicou.

O presidente da Assembléia, deputado Antônio Júlio (PMDB), falou dos demais projetos que poderiam beneficiar a população negra. O PL 1.883/2001, do deputado Paulo Piau (PFL), reserva 25% das vagas da rede estadual de ensino médio, fundamental e pré-escolar a alunos da raça negra. Já o PL 1.967/2002, do deputado Sebastião Costa (PFL), estabelece igual percentual para negros em cargos públicos de instituições estaduais. E o PL 1.637/2001, do deputado Adelmo Carneiro Leão (PT), pretende criar o Programa de Resgate Histórico e Valorização das Comunidades Remanescentes de Quilombos em Minas Gerais. Todos esses projetos estão em fase de análise nas comissões.

 

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