Deputados e pescadores cobram regulamentação de lei

A necessidade de agilizar a regulamentação da Lei 14.181/2002, ex- PL 1.162/2000, do deputado Fábio Avelar (PTB), que...

09/05/2002 - 16:05
 

Deputados e pescadores cobram regulamentação de lei

A necessidade de agilizar a regulamentação da Lei 14.181/2002, ex- PL 1.162/2000, do deputado Fábio Avelar (PTB), que dispõe sobre a política de proteção à fauna e à flora aquática e de desenvolvimento da pesca e da aqüicultura no Estado, foi enfatizada em audiência pública da Comissão de Meio Ambiente e Recursos Naturais realizada nesta terça-feira (7/5/2002), a requerimento do deputado Agostinho Silveira (PL). De acordo com o deputado Fábio Avelar, a regulamentação da lei irá contribuir para equacionar os problemas que vive a população pesqueira do Estado de Minas Gerais. O deputado afirmou que a situação atual dos pescadores profissionais mineiros é precária, em virtude do decreto 38.744/1997, que proíbe a utilização de rede e tarrafas como instrumentos de pesca dentro do Estado.

O deputado Carlos Pimenta (PDT) também defendeu agilidade na regulamentação da Lei 14.181/2002, afirmando que ela irá possibilitar que os pescadores façam uso dos instrumentos necessários para a atividade da pesca. Carlos Pimenta ainda afirmou que irá encaminhar, em caráter oficial, propostas de pescadores da Colônia de Alfenas ao governador do Estado.

Justificativa e denúncia - O deputado Agostinho Silveira (PL) justificou a solicitação da reunião, afirmando que ela pode ser um caminho para que seja encontrada a melhor maneira de preservar o meio ambiente, os rios mineiros e buscar alternativas para a melhoria das condições de vida dos pescadores profissionais. O deputado defendeu a atividade prestada por essa categoria, dizendo que tem consciência de que eles tiram dos rios o que é necessário para a sobrevivência de suas famílias.

Agostinho Silveira relatou que o requerimento que deu origem à audiência pública havia sido xerocado por um "colega da Casa" e interpretado de maneira errônea, a fim de prejudicar a sua imagem e arrancar votos dos pescadores da cidade de Três Marias. Segundo o deputado, a confusão foi desfeita durante uma reunião realizada na Câmara Municipal daquela cidade, quando ele explicou a verdadeira intenção do requerimento.

PARTICIPAÇÃO DO IEF E PESQUISAS REALIZADAS

Os deputados cobraram do diretor de Gestão da Pesca e de Monitoramento e Controle do Instituto Estadual de Florestas (IEF), César Augusto Maximiano Estanislau, a participação do instituto na busca de uma solução para o problema dos pescadores profissionais mineiros e uma posição diante da situação. César Estanislau elogiou a Lei 14.181/2002 e afirmou que o IEF tem as responsabilidades de desenvolver estudos técnicos ligados à questão ambiental e de agir dentro da lei estabelecida pelo Estado. Ele também disse que o IEF tomará um posicionamento em uma oportunidade devida.

César Estanislau apresentou resultados de pesquisas feitas pelo instituto que demonstram a redução do estoque de peixes e a existência de impacto na fauna aquática do Estado. Segundo a pesquisa, os principais causadores são a presença de esgoto e de agrotóxicos nas águas dos rios, as hidrelétricas e a pesca praticada de uma forma não sustentável, ou seja, de forma predatória. O diretor deixou claro que a pesca predatória não é realizada pelos pescadores profissionais, mas por pescadores que não respeitam o meio ambiente.

O diretor citou ainda alguns trabalhos do instituto que estão sendo implementados a fim de contribuir com a melhoria de vida dos pescadores profissionais mineiros. Entre eles, está a instalação de tanques-rede em áreas pesqueiras, como na Zona da Mata, Paracatu e Urucuia. Ele também denunciou a prática da pesca em rios mineiros por pescadores de outros estados, como a Bahia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, e Espírito Santo.

Posição da Polícia Militar - O capitão Arley Ferreia afirmou que a Polícia Militar está atenta à questão da pesca e que se encontra em uma situação difícil, pois, às vezes, tem que se colocar entre os cidadãos e a lei. Para o capitão, uma situação de equilíbrio deve ser buscada, para que a PM possa cumprir a legislação sem que tenha que prender os pescadores que estiverem exercendo a atividade pesqueira.

MANIFESTAÇÕES DOS PESCADORES

Pescadores de diversas colônias manifestaram-se a favor da agilidade na regulamentação da lei 14.181/2002; contra o Decreto 38.744/1997, que proíbe a utilização de rede e tarrafas como instrumentos de pesca dentro do Estado, além da pesca praticada por pescadores amadores. Eles questionaram, ainda, os resultados das pesquisas realizadas pelo Instituto Estadual de Florestas. De acordo com o presidente da Federação dos Pescadores, Raimundo Ferreira Marques, os dados apresentados estão incompletos e não mostram a realidade. Segundo ele, o IEF deve fazer um trabalho mais transparente.

O diretor de Gestão da Pesca e de Monitoramento e Controle do IEF, César Augusto Maximiano Estanislau, afirmou que todo estudo tem críticas e que elas são recebidas como uma forma de colaboração para trabalhos futuros do instituto. Os pescadores também fizeram um apelo para que o IEF se posicionasse a favor da categoria, quando o governador do Estado questionasse o instituto a respeito da revogação do Decreto 38.744/1997, solicitada em requerimento apresentado, na reunião, pelo deputado Carlos Pimenta.

CONSELHO ESTADUAL DE PESCA

O Conselho, instituído pela Lei 14.181/2002, que terá como presidente o diretor-geral do IEF, também foi lembrado durante a audiência pública. O diretor de Gestão da Pesca e de Monitoramento e Controle do IEF, César Augusto Maximiano Estanislau, informou que o IEF já enviou um documento aos órgãos que terão representantes no Conselho, a fim de começar a montar o esqueleto do decreto que orientará as atividades do Conselho Estadual de Pesca. Segundo César Estanislau, há um planejamento de que sejam realizadas reuniões quinzenais, a princípio em Belo Horizonte, para discutir as ações do novo órgão.

PESCA PREDATÓRIA E PRESERVAÇÃO DO MEIO AMBIENTE

A prática da pesca predatória foi criticada pelos presidentes de clubes de pesca presentes à reunião. O diretor e assessor jurídico do Náutico Três Marias Iate Clube, William Bertozzi Dornas, contou que, no clube, os pescadores são orientados a não fazer esse tipo de pesca, devolvendo ao rio o peixe que não será utilizado, e também a recolher os lixos encontrados nas beiras dos mananciais. Ele afirmou que é desenvolvida uma atividade alternativa no local, quando os pescadores profissionais instruem os amadores.

A preservação do meio ambiente foi defendida pelos representantes dos clubes de pesca e pelo presidente da organização não-governamental (ong) Ponto Terra, Ronaldo Malard. Segundo ele, a ong vem desenvolvendo um trabalho na área ambiental há dois anos, sendo uma de suas prioridades a questão da água. Para o ambientalista Ronaldo Malard, a pesca está diretamente relacionada com a qualidade da água, pois, se esse recurso não tiver em bom estado, os peixes não terão condições de sobreviver. Ele também mostrou-se preocupado com as condições de vida dos pescadores profissionais mineiros e falou da importância dos Comitês de Bacia Hidrográfica, que permitem o gerenciamento dos recursos hídricos com a participação da comunidade.

REQUERIMENTOS APROVADOS

Durante a reunião, foram aprovados três requerimentos:

* Do deputado Fábio Avelar (PTB), solicitando que seja feito convite ao diretor-geral do Instituto Estadual de Florestas (IEF), também presidente do Conselho Estadual da Pesca e da Agricultura, instituído pela Lei 14.181/2002, para que promova a reunião de instalação do Conselho Estadual de Pesca no âmbito da Comissão de Meio Ambiente e Recursos Naturais, durante reunião pública. De acordo com o requerimento, a reunião pública contribuiria com a estruturação do Conselho, que terá um papel essencial na regulamentação da Lei 14.181/2002 e na execução da política pesqueira no Estado;

* Do deputado Carlos Pimenta (PDT), requerendo que seja encaminhada ao governador do Estado a proposta de voltar a prevalecer o artigo 6º do Decreto 38.744/1997, inciso II, alínea C-B3, "Pesca profissional temporária", que libera a pesca com a utilização de redes e tarrafas até que se regulamente a Lei 14.181/2002, obedecendo a normas e proibições contidas no capítulo V do referido decreto;

* Do deputado Agostinho Silveira (PL), solicitando que seja agendada audiência pública para discutir a situação da pesca profissional no âmbito do Estado de Minas Gerais.

Presença - Compareceram à audiência pública os deputados José Milton (PL), presidente da Comissão; Fábio Avelar (PTB), vice-presidente; Agostinho Silveira (PL), autor do requerimento que deu origem à audiência; Carlos Pimenta (PDT); Ivo José (PT) e Adelmo Careiro Leão (PT). A audiência também contou com a presença do diretor de Gestão da Pesca e de Monitoramento e Controle do Instituto Estadual de Florestas (IEF), César Augusto Maximiano Estanislau; do capitão da 3ª Seção do Estado Maior da Polícia Militar do Estado de Minas Gerais, Arley Ferreira; do presidente do Clube dos Piraquaras, Oberdam Kfuri Mendes; do diretor e assessor jurídico do Náutico Três Marias Iate Clube, William Bertozzi Dornas; do presidente do Caiçara Clube de Pesca, Waldir dos Reis; do presidente da organização não-governamental (ong) Ponto Terra, Ronaldo Malard; e do presidente da Federação dos Pescadores, Raimundo Ferreira Marques.

 

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