Formação do Comitê do Rio Doce é debatida em
Valadares
A composição do Comitê Federal da Bacia
Hidrográfica do Rio Doce será um dos temas abordados na reunião de
interiorização do Seminário Legislativo "Águas de Minas II", no dia
24 de maio, em Governador Valadares. A reunião, que terá início às 9
horas e vai durar o dia inteiro, será no Auditório da Prefeitura
"Luiz Franco" (Rua Marechal Floriano, 905/4º andar). O comitê
federal foi aprovado, em novembro de 2001, pelo Conselho Nacional de
Recursos Hídricos, e a próxima etapa para que ele se torne realidade
é definir sua composição: quais empresas e de que setores vão
participar; assim como entidades da sociedade civil e representantes
do poder público.
"A reunião do seminário em Governador Valadares
poderá contribuir para a mobilização dos segmentos envolvidos",
afirma Paulo Célio de Figueiredo, presidente do Movimento Pró-Rio
Doce, que firmou convênio com a Agência Nacional de Águas (Ana), a
fim de fazer a mobilização social visando à composição do comitê.
Segundo Paulo Célio, os recursos são de R$ 500 mil, a serem
repassados pela Ana, com a contrapartida de R$ 116 mil, a cargo do
movimento. O convênio foi assinado em 9 de abril. O seminário
legislativo "Águas de Minas II" é uma promoção da Assembléia mineira
em parceria com organizações governamentais e
não-governamentais.
O comitê de bacia hidrográfica tem caráter normatizador
e deliberativo, sendo formado pelos usuários da água (indústrias,
produtores rurais, companhias de abastecimento d água,
entre outros), pela sociedade civil organizada e pelo poder público.
Ele integra o Sistema Estadual de Gerenciamento de Recursos
Hídricos, cujas ferramentas de funcionamento são, entre outras, os
planos diretores de recursos hídricos de bacias hidrográficas; o
sistema estadual de informações sobre esses recursos; e a cobrança
pelo seu uso. Os comitês aprovam os planos diretores, instrumentos
técnicos de apoio ao planejamento das ações a serem implementadas
nas bacias. Esses planos devem conter um diagnóstico da situação dos
recursos hídricos, indicando-se as disponibilidades e demandas, bem
como as diretrizes e critérios para cobrança pelo uso da
água.
Reunião da Cipe - O
coordenador do encontro em Valadares é o deputado José Henrique
(PMDB), integrante da Comissão Interestadual Parlamentar de Estudos
para o Desenvolvimento Sustentável da Bacia Hidrográfica do Rio Doce
(Cipe Rio Doce). Na opinião dele, contribuições importantes serão
dadas por usuários, poder público e sociedade ao seminário. Ele
informa que a Cipe Rio Doce deverá realizar um novo encontro,
durante o evento em Valadares, com a participação também dos
parlamentares da Assembléia do Espírito Santo, que integram a
comissão. Ao fazer uma retrospectiva das atividades da Cipe, José
Henrique lembra a série de encontros promovidos em 2001, com o
objetivo de despertar as comunidades da bacia para as questões
ambientais e contribuir na mobilização dos segmentos envolvidos na
formação do comitê federal.
O QUE CONTÉM O RELATÓRIO DE ATIVIDADES DA CIPE RIO
DOCE
O relatório das atividades da Cipe Rio Doce foi
apresentado no IV Diálogo Interamericano de Gerenciamento de Águas,
em Foz do Iguaçu (PR), em setembro de 2001. A comissão tem 10
membros, entre efetivos e suplentes, sendo presidida pelo deputado
Agostinho Silveira (PL). O relator dos trabalhos é o deputado Eval
Galazzi, do Espírito Santo. Formada pelas Assembléias Legislativas
do Espírito Santo e de Minas Gerais, tem o objetivo de congregar
esforços políticos e técnicos voltados para a recuperação ecológica,
econômica e sociocultural do Vale do Rio Doce, com a determinação de
restabelecer sua vazão original. A comissão foi oficializada em
reunião nos municípios de Aimorés (MG) e Baixo Guandu (ES), em 13 de
agosto de 1999. De lá para cá, realizou diversos encontros e visitas
técnicas, com o objetivo de investigar os impactos ambientais,
especialmente os econômicos, sociais e ecológicos, avaliando a sua
repercussão e propondo as medidas pertinentes para superação desse
quadro.
Conteúdo - A criação de
áreas de preservação e conservação que possuam características
naturais relevantes e o incremento da fiscalização da legislação
relativa às questões ambientais e do uso do solo são algumas das
sugestões feitas aos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário,
nos três níveis de governo, para garantir a proteção e recuperação
da Bacia do Rio Doce. As medidas do relatório final vão desde a
definição de normas disciplinares para utilização de áreas críticas,
tais como mananciais, fundos de vales, altas declividades e áreas
sujeitas a enchentes; até criação de programas de "incentivo verde",
com benefícios a patrocinadores de projetos de educação ambiental,
por exemplo, ou para produtores rurais preservarem ou recuperarem
áreas degradadas; e criação de um banco de dados e elaboração de
estudos sobre remanescentes florestais da bacia e divulgação das
informações.
Participantes do encontro em Valadares - Açucena, Água Boa, Alpercata, Campanário, Cantagalo,
Capitão Andrade, Coluna, Coroaci, Divino das Laranjeiras,
Divinolândia de Minas, Engenheiro Caldas, Fernandes Tourinho,
Franciscópolis, Frei Inocêncio, Frei Lagonegro, Galiléia, Gonzaga,
Governador Valadares, Guanhães, Iapu, Itambacuri, Itanhomi,
Jampruca, José Raydan, Malacacheta, Marilac, Materlândia, Nacip
Raydan, Naque, Paulistas, Peçanha, Periquito, Sabinópolis, Santa
Efigênia de Minas, Santa Maria do Suaçuí, São Geraldo da Piedade,
São João do Oriente, São João Evangelista, São José da Safira, São
José do Jacuri, São Pedro do Suaçuí, São Sebastião do Maranhão,
Sardoá, Serra Azul de Minas, Sobrália, Tarumirim, Tumiritinga,
Matias Lobato, Virginópolis e Virgolândia.
BACIA DO RIO DOCE ABRANGE 202 MUNICÍPIOS EM MINAS
GERAIS
A bacia hidrográfica do rio Doce apresenta uma
significativa extensão territorial, cerca de 83.400 km2,
dos quais 86% pertencem ao Estado de Minas Gerais e o restante ao
Estado do Espírito Santo. Abrange, total ou parcialmente, áreas de
228 municípios, sendo 202 em Minas Gerais e 26 no Espírito Santo e
possui uma população total da ordem de 3,1 milhões de
habitantes.
O rio Doce, com uma extensão de 853 km, tem como
formadores os rios Piranga e Carmo, cujas nascentes estão situadas
nas encostas das serras da Mantiqueira e Espinhaço, onde as
altitudes atingem cerca de 1.200 m. Seus principais afluentes são:
pela margem esquerda os rios Piracicaba, Santo Antônio e Suaçuí
Grande, em Minas Gerais; Pancas e São José, no Espírito Santo; pela
margem direita os rios Casca, Matipó, Caratinga-Cuieté e Manhuaçu,
em Minas Gerais; e Guandu, no Espírito Santo.
Relatório - Segundo
relatório do Escritório da Bacia do Rio Doce, que era ligado ao
Ministério do Meio Ambiente, a análise dos processos de ocupação e
crescimento econômico da bacia do rio Doce, nos últimos 50 anos,
mostra que eles aconteceram de uma forma totalmente desordenada, sem
levar em conta os possíveis reflexos futuros. O Escritório teve o
objetivo de fazer a mobilização social para criar o comitê federal,
difundir a política de recursos hídricos e disseminar informações
sobre as leis que tratavam do assunto, entre outras atividades.
Segundo esse documento divulgado pelo Escritório, na zona rural
encontram-se vastas áreas em estado avançado de desertificação,
nascentes desprotegidas e processos erosivos. Da cobertura vegetal
original, mais de 90% foi extinta. Do restante, menos de 1%
encontra-se em estágio primário.
Nas cidades, praticamente todo o esgoto e lixo são
lançados nos cursos d'água ou em suas margens. Associadas a estes,
concentrações pontuais de grandes indústrias - siderurgia e
celulose, no Vale do Aço; suinocultura e beneficiadoras de
cana-de-açúcar, em Ponte Nova; e mineração, em Itabira - podem
comprometer tanto qualitativa quanto quantitativamente os usos
múltiplos dos recursos hídricos. As captações superficiais de água
no rio Piracicaba para algumas indústrias estão operando, em algumas
situações, em condições adversas. A captação para consumo humano no
Vale do Aço, realizada pela Copasa via poços profundos situados às
margens do rio Piracicaba, também vive momentos preocupantes. Na
bacia do rio Santo Antônio as barragens das hidrelétricas estão, em
alguns casos, com cerca de 60% da sua capacidade de armazenamento de
água, em vista dos significativos processos erosivos que ocorrem
nessa bacia.
As conseqüências socioeconômicas são diversas e
complexas. Na zona rural, por exemplo, dezenas de pequenos conflitos
entre produtores rurais, que, no intuito de solucionar seus
problemas particulares, acabam por interferir em todo o curso d'água
a jusante. Em decorrência disso, apenas a região do médio rio Doce
(Tumiritinga a Aimorés) - que se encontra em estado avançado de
desertificação - perdeu, entre as décadas de 70 e 80, cerca de 40%
de sua população (IBGE). Em Minas Gerais, a bacia do rio Doce é
caracterizada como a região que mais perdeu população: 615.259
habitantes entre 1970 e 1991 (fontes: UFMG e IBGE).
No Estado de Espírito Santo, o rio Doce representa
o maior manancial de água doce. O rio, que flui ali com declividades
menores, forma vastas áreas assoreadas em seu leito. Junto à sua
foz, suas águas são transpostas para o abastecimento de outra
indústria de celulose, a Aracruz Celulose. Os sólidos suspensos e o
lixo em suas águas têm causado sérios danos ambientais em seu
estuário, região de desova da tartaruga marinha, monitorada pelo
projeto Tamar. "Das cabeceiras à foz, a bacia do rio Doce é um
mosaico de problemas hídricos e ambientais", revelava o relatório
apresentado pelo Escritório da bacia, juntamente com a proposta de
instituição do Comitê Federal da Bacia Hidrográfica do Rio Doce.
Com base nos dados demográficos, constatou-se que o
Vale do Aço tem o maior adensamento populacional da bacia e o que
fluxo migratório direciona-se, sobretudo, para as maiores cidades,
como Ipatinga e Governador Valadares. Em decorrência, há uma
tendência de diminuição populacional nos municípios com população de
até 20 mil habitantes, que representam cerca de 93% dos municípios
da bacia do rio Doce.
COOPERAÇÃO BRASIL-FRANÇA TAMBÉM POSSIBILITOU
ESTUDOS
Na opinião de Marco Antônio Fernandez, consultor em
gestão de recursos hídricos do Instituto Mineiro de Gestão das Águas
(Igam), a bacia do Rio Doce foi uma das mais estudadas recentemente
e esse privilégio deve-se, em grande parte, à assinatura de convênio
de cooperação técnica entre Brasil e França, entre 1989 e 1993. O
relatório das atividades do Escritório da Bacia do Rio Doce, do qual
Fernandez foi coordenador, ressalta que "o enfoque integrado
percebendo a bacia hidrográfica como um todo e a inter-relação dos
problemas veio com a cooperação técnica, cujos estudos resultaram na
simulação financeira dentro do princípio usuário/poluidor/pagador".
Os estudos do projeto enfocaram a qualidade das águas da bacia,
sugerindo intervenções para o combate às fontes de poluição e
sugestões relacionadas ao uso dos recursos hídricos.
Como desdobramento do projeto de cooperação
Brasil-França, operou entre os anos de 1996 e 1997 a Agência Técnica
da Bacia do Rio Doce (Adoce), que lançou o Programa de Valorização
da Iniciativa Empresarial (Viedoce) e implantou o Sistema de Alerta
Hidrológico na bacia. A Adoce, bem como o projeto de cooperação
técnica Brasil-França, deixou para a bacia considerável acervo de
estudos e dados e contribuiu para a divulgação da problemática
ambiental na região.
Lei - O relatório das
atividades do Escritório da Bacia do Rio Doce refere-se também aos
aspectos da divulgação, motivação e interação social sobre a questão
ambiental. "A bacia tem sido consideravelmente trabalhada, sobretudo
a partir da consideração de que a participação da sociedade na
gestão das águas, consolidada a partir da Lei 9.433/97, é ponto
fundamental na reversão do atual quadro de degradação da bacia",
destaca o relatório. Segundo o documento, os comitês de bacia já
instalados na região, bem como as diversas ações desenvolvidas na
bacia e o avançado estágio de mobilização da sociedade demonstram um
avanço considerável na busca de soluções para os graves problemas
hídricos e ambientais.
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